O inconfidente que virou santo: estudo biográfico sobre Salvador Carvalho do Amaral Gurgel

ADELTO GONÇALVES

A mãe, Domiciliana de Jesus, quando Salvador nasceu, era amante do capitão-mor. Foi só depois da morte de sua primeira mulher que o capitão-mor uniu-se legalmente a Domiciliana. Do primeiro casamento, o capitão trazia outro filho: José Antônio Campos do Amaral Gurgel, que haveria de subir a áspera serra para radicar-se em Taubaté e, como o irmão, virar cirurgião.

Salvador cresceu na vila de Parati amparado pelas boas relações familiares. Na Parati daqueles anos, corria um comércio amplo que consistia na permuta das mercadorias que baixavam de Minas Gerais e São Paulo ou subiam de Santos, por outras que vinham da Europa. Mas a preferência era para o sal, trazido de Pernambuco por embarcações que, em troca, levavam farinha e outros mantimentos.

A riqueza, porém, ficava nas mãos de bem poucos, que exploravam e mantinham em dependência os que produziam os frutos da terra . Com certeza, o pai de Salvador estava entre essas principais pessoas. Sabe-se que o capitão-mor era “sujeito muito zeloso”, que se preocupava em “coligir e conservar memórias e manuscritos úteis” . Talvez não fosse tão abastado a ponto de reunir condições para mandar os filhos estudarem medicina em Coimbra ou em Montpellier, na França, como faziam as famílias mais ricas de seu tempo.

A vida no Rio de Janeiro

Logo, Salvador preferiu deixar a família em Parati e, de barco, subiu o litoral rumo ao Norte, até o Rio de Janeiro. Corria o ano de 1787 quando, aos 25 anos de idade, tirou a carta de praticante de cirurgia. Era um jovem de olhos pretos, cabelos castanhos, cinco pés por cinco polegadas (1m65) de altura e solteiro .

No Rio de Janeiro, capital do vice-reinado, Salvador deve ter levado vida um tanto despreocupada. Meteu-se em alguma confusão porque acabou compelido a buscar segurança em Minas Gerais, perseguido que era pelo ouvidor, o desembargador Francisco Luís Álvares da Rocha , com quem haveria de cruzar outra vez, anos mais tarde, ao ser acusado de envolvimento na projetada sublevação de 1789 . Foi morar em Vila Rica, a princípio, na casa do doutor Antônio José Soares de Castro, tenente-coronel do regimento dos pardos de Vila do Príncipe . E arrumou emprego como praticante de cirurgia no regimento da tropa paga.

A Vila Rica de 1787

Quando Salvador chegou à Vila Rica, naquele mesmo ano de 1787, a capitania de Minas Gerais passava por tempos de instabilidade política. O governador e capitão-general Luís da Cunha Meneses andava às turras com o ouvidor-geral Tomás Antônio Gonzaga, o futuro poeta de Marília de Dirceu. Cada um representava um grupo de interesses.

Desde que chegara em meados de 1783, Cunha Meneses vinha cumprindo paulatinamente uma política de substituição dos naturais da terra por reinóis nos principais cargos militares. No quartel principal da Demarcação Diamantina, no Tijuco, o capitão José de Vasconcelos Parada e Sousa, reinol, era quem comandava a tropa paga.

Ao final de 1786, o tenente José de Sousa Lobo e Melo, também reinol, assumira o comando do destacamento da Serra Diamantina de Santo Antônio de Itacambiruçu, em substituição ao capitão Baltasar José Mairinque, pai da futura noiva do ouvidor Gonzaga, Maria Dorotéia Joaquina de Seixas. O quartel de Itacambiruçu era subordinado ao do Tijuco, mas ambos eram os mais importantes entre os seis destacamentos que zelavam pela ordem na capitania.

Os dois militares eram homens fiéis ao governador e, desde o início do governo, haviam entrado em atrito com as autoridades da Demarcação Diamantina, um território sob a administração direta de Lisboa, que aspirava a ampla autonomia em relação à capitania. Essa independência, porém, nem sempre ficou clara porque o capitão-general nunca a reconheceu.

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