Dário Moreira de Castro Alves (*)
Nos quatorze anos que residi em Lisboa, freqüentei durante dez anos - posso dizer que com assiduidade - a Academia Portuguesa da História, a mais antiga entre todas as Academias de Portugal. Fundada à época de D. João V, em 1720, sofreu uma interrupção por largo período, só vindo a reabrir-se nos 1930. Poderíamos dizer que no Brasil o equivalente à Academia Portuguesa da História é o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Na Academia da História fiz grandes amigos - amizades profundas - que até hoje me acompanham em relacionamentos diversos, etc. Presidia, então, a Academia Portuguesa da História, naquele período, o professor Joaquim Veríssimo Serrão, historiador de raça, autor da História de Portugal, obra monumental que já conta com pelo menos quinze volumes publicados. É um homem que gosta imensamente do Brasil e levou à risca o princípio estatutário segundo o qual dez vagas na estrutura da Academia são reservadas para historiadores brasileiros.
Foram sócios efetivos brasileiros grandes nomes da historia do Brasil, tais como: Afonso DEscragnolle Taunay, Álvaro Teixeira Soares, Artur César Ferreira Reis, Artur Guimarães de Araújo Jorge, Basílio de Magalhães, Francisco Iglesias, Gilberto Freire, Hélio Viana, Humberto Jacobina Lacombe, João Neves da Fontoura, José Honório Rodrigues, Luis Viana Filho, Marcos Carneiro de Mendonça, Pedro Calmon Moniz de Bitencourt, Rúben Borba de Morais, Rui Ribeiro Couto, Vicente Tapajós, isto só para ficar em nome de figuras que já não estão entre nós.
Dentre vários nomes de pessoas que muito conheci, as quais me ligaram laços de profunda amizade, queria salientar o nome de uma personalidade do mundo da história da lexicologia, autor de Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, hoje em plena validez. José Pedro Machado, que nos deixou faz pouco mais de ano e que, além de lexicógrafo, era autor de gramática histórica, e de obra notável no terreno do estudo de provérbios _ a ciência chamada de Paremiologia _ que teve no Brasil grandes cultores, dos quais queria fazer alusão a um nome desaparecido no Brasil há quase setenta anos:
Leonardo Mota, autor de um livro de grande peso intitulado Adagiário Brasileiro, isto é, o livro dos provérbios; é uma coletânea de adágios e expressões proverbiais do Brasil, e estudos de paremiologia comparada. Origina-se da palavra parêmia, que tem como sinônimos, segundo Leonardo Mota no Brasil, e José Pedro Machado em Portugal: adágio, aforismo, anexim, apotegma, axioma, ditado, dito, dizer, exemplo, máxima, preceito, provérbio, refrão, rifão, sentença, designações por vezes utilizadas indiferentemente, como se tratasse de sinônimos perfeitos.
A primeira edição, vinda a lume em Lisboa, em novembro de 1996, com 613 páginas, contém uma lista com datas e comemorações eclesiásticas mencionadas nos provérbios, sejam diretamente referentes aos santos, como referência a datas de celebrações litúrgicas, como Advento, Ascensão, Ramos, Natal, Páscoa, etc.
José Pedro Machado e Leonardo Mota deram grande contribuição ao adagiarísmo, estudo dos adágios em Portugal, como no Brasil, O primeiro chegou aos adágios pelo estudo da história da lexicologia e Leonardo Mota pela via do folclore e dos estudos de cultura regional. Estudou os cantadores (poesia e linguagem do Sertão Cearense); no livro Violeiros do Norte, poesia e linguagem do Sertão Nordestino; No Tempo de Lampião _ histórias de cangaceiros, anedotário, adagiário; e palestras lítero humorísticas em Prosa Vadia. O tema de A Padaria Espiritual, a história do movimento literário que ocorreu no Ceará, em 1982, obras de valor indiscutível.
(*) Dario Moreira de Castro Alves
Embaixador brasileiro aposentado
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