Mário Cesariny 1923 – 2006

O Mundo fica mais pobre e o Céu ganha mais uma estrela, brilhante, com a passagem de Mário Cesariny das palavras da vida para as palavras da morte, não gemidas mas sim imensas, nas suas próprias palavras. Morreu hoje em Lisboa, com 83 anos de idade.

Mário Cesariny de Vasconcelos, reconhecido universalmente como um dos principais representantes do Surrealismo português, nasceu em Lisboa a 9 de Agosto de 1923 e durante a sua longa e produtiva vida, ganhou o estatuto não só de poeta, não só de pintor, não só de músico mas principalmente de Artista, pois deixou sua marca de referência e excelência em todas estas expressões.

A sua passagem pela escola das Artes Decorativas António Arroio em Lisboa, pelo estágio com Fernando Lopes Graça, compositor de música, pela Academie de la Grande Chaumière, Paris criaram as bases nas artes plásticas e na música para pintar quadros e criar mundos na sua poesia.

A seguir a formação, liderada por Mário Cesariny, do Grupo Surrealista de Lisboa,, integrando Alexandre O’Neill, João Moniz Pereira, António Domingues, António Pedro, Fernando de Azevedo, José Augusto França, Cândido Costa Pinto e Marcelino Vespeira e logo a seguir, com Pedro Oom, Mário Henrique Leiria, Fernando José Francisco, Henrique Risques Pereira, António Maria Lisboa e Cruzeiro Seixas, Os Surrealistas.

Mário Cesariny nem gostou de se limitar aos confins da palavra e norma escrita, nem se deixou ficar preso no seu próprio (sur)realismo, alargando-se no movimento “cadáver esquisito” em que uma criação passava por uma cadeia criativa de pessoas (normalmente três ou quatro), cada um contribuindo para a obra passada pelo criador anterior, quer em termos de poesia, quer em termos de pintura.

As suas obras poéticas publicadas:

Corpo Visível (1950)
Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (1952)
Louvor e Simplificação de Álvaro de Campo (1953)
Manual de Prestidigitação (1956)
Pena Capital (1957)
Alguns Mitos Maiores e Alguns Mitos Menores Postos à Circulação pelo Autor (1958)
Nobilíssima Visão (1959)
Poesia (1944-1955) (s./d.)
Planisfério e Outros Poemas (1961)
Um Auto para Jerusalém (1964)
Titânia e A Cidade Queimada (1965)
19 Projectos de Prémio Aldonso Ortigão Seguidos de Poemas de Londres (1971)
As Mãos na Água e na Cabeça (1972)
Burlescas, Teóricas e Sentimentais (1972)
Primavera Autónoma das Estradas (1980)
Vieira da Silva, Arpad Szenes ou O Castelo Surrealista (1984)
O Virgem Negra (1989)
Titânia (1994)

Os livros que nos deixou foram:

A Intervenção Surrealista (1958), Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961, obra que organizou e para qual contribuiu), Surreal-Abjection(ismo) (1963), Do Surrealismo e da Pintura (1967), Primavera Autónoma das Estradas (1980) e Vieira da Silva – Arpad Szènes, ou O Castelo Surrealista (1984).

Prémios

2002 - Grande Prémio EDP, Fundação EDP.
2005 –Prémio “Vida Literária” – Associação Portuguesa de Escritores.
2005 -Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, entregue pelo presidente da República Dr. Jorge Sampaio.

Timothy Bancroft-Hinchey

PRAVDA.Ru

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