50 ANOS DO FURACÃO FLORA: Cinco dias que estremeceram Cuba
ORFILIO PELÁEZ/GRANMA
Em 1o. de outubro de 1963, alguns meios de imprensa publicaram uma nota emitida, pelo então Observatório Nacional, acerca da presença no extremo sul das Antilhas Menores do sexto ciclone tropical dessa temporada, denominado Flora.
Mas centradas na proeminente notícia da chegada a Cuba de Valentina Tereshkova, a primeira mulher cosmonauta do mundo, enviada ao espaço pela extinta União Soviética, muitas pessoas apenas repararam na citada informação.
Ninguém poderia, naquele momento, imaginar que, poucos dias depois, o fenômeno meteorológico abalaria o país, ao provocar a segunda maior catástrofe natural documentada na história de nosso arquipélago (a primeira foi provocada pelo furacão de 9 de novembro de 1932, em Santa Cruz del Sur, Camagüey), após castigar com chuvas torrenciais, durante cinco dias consecutivos, as antigas províncias de Oriente e Camagüey.
Como bem define, num testemunho inédito, o recentemente falecido e destacado realizador de documentários, Eduardo de la Torre, que naquela época era câmera da Secção Fílmica das Forças Armadas (FARs) e que flagrou impressionantes imagens do trágico evento, Flora foi o mais "louco" dos ciclones que passaram pelo território nacional. Seu insólito comportamento assim o demonstra.
HISTÓRIA DUM DRAMA
Em 26 de setembro daquele mesmo ano 1963 surgiu em águas do Atlântico oriental uma depressão tropical, que 72 horas depois atingiu a categoria do que se denomina agora tormenta tropical, nomeada Flora.
Seu processo de intensificação continuou e antes de finalizar o dia 20 já era um furacão, avançando com direção oeste-noroeste, e depois para o noroeste, para aproximar-se de maneira gradual aos mares do sul da Península de Tubarão, no Haiti, a qual atravessou na noite de 3 de outubro, deixando um rastro de destruição.
Já no dia seguinte penetrou no território nacional de Cuba, nas primeiras horas da tarde pela costa sul da atual província de Guantánamo como furacão categoria 2 da atual escala Saffir-Simpson, com ventos com uma força máxima estimada em 165 quilômetros por hora.
Aí começou a lenta e errática trajetória do Flora em solo cubano, ao deslocar-se sucessivamente ao noroeste, oeste, sudoeste, leste, nordeste de novo oeste, até fechar um laço acima da região oriental e sair, em 6 de outubro, ao Golfo de Guacanayabo.
Depois, entraria pelo sul de Camagüey, onde tomou rumo sudeste e depois ao leste-nordeste, para abandonar o país, de maneira definitiva, na manhã de 8 de outubro por Gibara, Holguín.
Segundo explicaram ao jornalGranma o doutor em Ciências Ramón Pérez Suárez, do Instituto de Meteorologia, e o historiador dessa disciplina, professor Luis Enrique Ramos Guadalupe, uma complexa interação de fatores favoreceu a colossal magnitude de seus estragos.
A primeira delas foi a trajetória inusual, já descrita, caracterizada pela permanência do furacão na região oriental de Cuba, aspecto condicionado pela posição e persistência dos centros anticiclônicos situados ao norte e ao oeste de Cuba, as características topográficas da zona açoitada, onde se combinam grandes vales e elevadas montanhas e a carência duma infraestrutura hidráulica que permitisse reduzir o efeito das notáveis enchentes, unido ao fato de que o país ainda não contava com um sistema nacional de proteção bem estruturado e eficaz, para preservar a vida humana e os recursos materiais, face à ocorrência de desastres naturais.
Assim, de 4 a 8 de outubro de 1963, a região oriental foi testemunha dum verdadeiro dilúvio, ao receber volumes totais de chuva que nalguns lugares superaram a média histórica dum ano, ao chegar a 1.600 milímetros.
Tão só no dia 5 houve um acumulado máximo de 735 mm; entretanto, há testemunhos de que as águas do rio Cauto se estenderam uns 20 quilômetros além de seu leito habitual, arrasando tudo o que encontraram na sua passagem.
As enchentes atingiram níveis sem precedentes, e muitos povoados desapareceram sob a ação de violentas torrentes de água. Disso dão fé inúmeras imagens flagradas por fotorrepórteres e câmeras, que mostram a agonia de muitas pessoas, subidas nos telhados das casas, ou nas copas das árvores, esperando que os helicópteros das FARs as resgatassem.
O número de mortos verificados foi de 1.157, e as moradias completamente destruídas ultrapassaram as 11 mil. Houve mais de 130 mil evacuados, enquanto a pecuária, a colheita de café e várias plantações sofreram severas perdas, e colapsou a infraestrutura de comunicações telefônicas e vias, incluídas as pontes e ferrovias.
A MARCA DE FIDEL
É impossível rememorar os fatos dramáticos do furacão Flora sem mencionar a presença do comandante-em-chefe Fidel Castro no próprio palco da tragédia, liderando junto a outros altos dirigentes da Revolução as ações para enfrentar o embate do meteoro e dirigindo pessoalmente muitas operações de resgate, numa das quais esteve a ponto de sofrer um acidente, quando um veículo anfíbio em que viajava quase foi arrastado pela corrente.
Em 31 de outubro de 1963, Fidel interveio pelas cadeias nacionais de rádio e televisão para fazer uma avaliação dos estragos causados pelo célebre ciclone Flora (esse nome foi banido, definitivamente, da lista das denominações utilizadas na bacia do Atlântico tropical) e esboçar os passos a empreender, a fim de evitar a repetição de desastres similares, no futuro.
Daquela histórica intervenção pública, surgiu a iniciativa de investir, na região oriental, não menos de 200 milhões de pesos, destinados a construir novos açudes e canais que, além de oferecer a todas as famílias a tranquilidade de que não voltariam a ser vítimas duma situação como aquela, ajudariam a resolver os problemas de abastecimento de água para a população e a agricultura, em muitos povoados da zona. Isso marcou o nascimento do que depois se conheceria como decisão hidráulica.
A amarga experiência deixada pelo fenômeno natural levou, também, à criação, com caráter oficial, do Sistema de Defesa Civil, em julho de 1966 e à constituição do Instituto de Meteorologia, cujo ato fundacional teve lugar, na noite de 12 de outubro de 1965.
O Flora marcaria então um antes e um depois na preparação do país face aos desastres, tanto do ponto de vista preventivo e organizativo, quanto científico. Nisso, a influência do líder histórico da Revolução também foi chave.
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