Planetas como a Terra são belos porque contêm vida, o verde das florestas, a exuberância da fauna. A Terra e a vida são, dizem os físicos, altíssimas improbabilidades que deram certo, presentes do acaso, esse grande maestro que rege o universo.
Embora Saturno, visto de longe, seja a jóia do sistema solar, enfeitando-o com seus anéis, é um mundo árido, como Marte e os demais planetas que as naves-sonda da Nasa, Esa, e Jaxa (as agências espaciais americana, europeia e japonesa) têm visitado.Dos cerca de 400 planetas extrassolares já identificados, nenhum reúne condições de abrigar vida - embora possam tê-las tido no passado. Os magníficos telescópios espaciais observam hoje o universo em seus primórdios, há quase catorze bilhões de anos.
Enxergando a luz em frequências de onda de vários comprimentos, acima e abaixo da luz visível ao olho humano, os telescópios Hubble, Chandra, Wise, Fermi, Oco (Observatório Orbital de Carbono), o AcrimSat, que há dez anos mede a atividade solar sobre a Terra, e os satélites orbitais que fotografam a superfície terrestre mostram em detalhes inéditos o caos, a beleza e a vastidão, mas não trouxeram, ainda, pistas sobre vida extraterrestre.
Por enquanto, convém considerar a vida uma excepcionalidade, um acidente de percurso, obra prima do acaso. E um presente, sem dúvida; imerecido, talvez. Os céticos em relação ao efeito estufa podem ter razão, e todo contraponto ao senso comum é indispensável à busca da verdade. No entanto, fotos dos satélites Geo-1, Earth e outros têm dado provas incontestáveis do encolhimento das geleiras, da movimentação do Deserto da Namíbia, o mais antigo do mundo, e relevam a devastação das florestas tropicais da Indonésia e do Congo (RDC) , para não falar na Amazônia de sempre, nem no cerrado de agora.
O Lago Baikal, na Sibéria, reúne a maior concentração de água pura do mundo, 20%, e a biodiversidade de seu ecossistema não sobreviverá a um aumento de dois graus na temperatura. Brigamos pela sobrevivência, mas não pela vida. Valorizamos o poder, embora inexoravelmente regidos pelo imponderável. Já não cremos em cúpulas climáticas, meros desfiles de vaidades e autopromoção política. México, 2010, COP 16, daqui um ano; para quê pressa? Sabemos de antemão o resultado. Jorge Monbiot, ambientalista britânico, sintetizou a grande mentira que encobre a pequena e poderosa verdade: "O crescimento é a fórmula mágica que permite que nossos conflitos permaneçam sem solução." Mas essa receita do eufemístico "crescimento sustentável" é um remédio com prazo de validade.
O modelo econômico em voga é o do crescimento contínuo, e voltando a Monbiot, isso não combina com um planeta finito. Renovável, sim, mas ao preço de indispensáveis pausas. Nossos líderes, preocupados com o crescimento econômico, nos conduzem aos caos - aliás, inevitável daqui a alguns bilhões de anos, quando Sol se tornar uma gigante vermelha ao extinguir-se seu combustível nuclerar. O Sol decretará a extinção da terra, mas o homem poderá determinar o fim da vida muito antes disso. O astrônomo que vê a imagem deslumbrante de um berçário estelar, de discos protoplanetários, talvez não se angustie. Ele decerto dá sonoras gargalhadas a cada vez que confirma a burrice humana, ao confrontar a ganância e o imediatismo do homem com a generosidade e a beleza da Terra. Um presente imerecido, porque maltratado.
© Luiz Leitão
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