Escreve o Diário de Noticias: Já imaginou como será estar confortavelmente sentado em frente do seu computador e poder navegar pela Via Láctea? Eis um sonho que se tornará real com a missão espacial Gaia que, a partir de 2011, e com participação portuguesa, vai estar no espaço durante cinco anos e permitirá fazer um mapa a três dimensões da Via Láctea e de quase todas as suas estrelas. Para dar a conhecer a missão espacial, o Planetário de Lisboa recebeu, na noite de sábado, uma palestra pública (promovida pelo Núcleo Interactivo de Astronomia, no âmbito da iniciativa 'Astronomia no Verão') do investigador André Moitinho Almeida, coordenador da participação portuguesa nesta missão da Agência Espacial Europeia (ESA).
André Moitinho Almeida, investigador do laboratório SIM, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, explica que o objectivo desta missão, sucessora da Hipparcos, de dimensão muitíssimo menor, é o estudo em grande profundidade da galáxia. "Como se vai obter as distâncias e as posições das estrelas, tem--se tudo a três dimensões, ou seja, é possível reconstituir o resultado num computador. Pode-se navegar pela Via Láctea. E depois, como também sabemos os movimentos das estrelas, podemos ver tudo isto andar - ver como era a galáxia há uns anos, ver como é que ela vai ser no futuro e comparar com outras galáxias que vemos hoje. Podemos ter uma ideia de qual é o estado de evolução dessas galáxias ao compará-las com a nossa, em épocas diferentes da nossa evolução", disse. O coordenador do consórcio português, que integra sete centros de investigação e duas empresas, salienta que "a precisão com que vamos medir as posições das estrelas com Gaia é equivalente a medir o tamanho de uma unha de uma pessoa que estivesse na Lua, estando eu na Terra. Ou, por exemplo, poder medir um cabelo a mil quilómetros de distância. E não mede só a distância de um ponto a outro, mas consegue referenciá-lo de modo absoluto no espaço. Outra comparação: equivale a ver uma casa de cinco andares em Marte, quando Marte está o mais longe possível da Terra".
A quantidade de informação que Gaia vai produzir é tão inimaginável que haverá especialistas em cada área. As questões que vão interessar mais aos peritos serão a matéria escura, os planetas extra-solares e a física das estrelas. A participação portuguesa, desde Março de 2006, foi da vontade exclusiva do coordenador e dos investigadores participantes. Pediram financiamento para o projecto à Fundação para a Ciência e Tecnologia(FCT) e obtiveram 264 mil euros para três anos. O financiamento privado é algo que está pensado mas não foi ainda procurado. Até porque "em Portugal este tipo de projectos não existe normalmente. É quase uma estreia".
No final de Gaia, em 2017, André Moitinho Almeida explica que já vai haver um catálogo dos dados recolhidos para futura investigação, embora não o definitivo. Provavelmente, vai haver também dados disponíveis durante o decorrer da missão.
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