São poucas as pessoas que conseguem estar totalmente satisfeitas com o próprio corpo. Principalmente com a enxurrada de corpos perfeitos que desfilam pela mídia. E se já é difícil para um adulto, imagine para um jovem cujo corpo acabou de tomar a forma como ficará para o resto da vida.
Não é à toa que uma pesquisa realizada pelo Hospital de Clínicas da USP com 700 estudantes universitários entre 17 e 26 anos aponta que 3 entre cada 4 entrevistados desaprovam sua aparência física e se incomodam com detalhes tais como excesso de gordura ou celulite.
"Simplesmente todos os dias reclamo que preciso emagrecer. E pelo menos uns 12 quilos. Só penso nisso. Já falei que começaria esta semana, mas... Preciso primeiro economizar dinheiro para pagar uma nutricionista e academia. Porque sem ajuda sei que não consigo", relata Marisberta Queiroga Flausino, de 19 anos.
Pelo menos a estudante está consciente. Porque 13% destes entrevistados disseram que provocam vômitos, tomam laxantes ou diuréticos após comer com o objetivo de não engordar. E é aí que o assunto começa a ser mais sério do que uma simples insatisfação. "O problema é que os jovens hoje estão sem um modelo de família, de valores, de ética. Então vêem as modelos esqueléticas na televisão e querem ficar como elas.
Elas se tornam os modelos", explica a psicóloga Saleti de Souza Jesus, que trabalha com transtornos alimentares. É por isso que a família tem papel essencial para que o jovem entre na vida adulta de forma saudável. "Minha dica é a família se reunir para fazer nada. Este ócio pode gerar um diálogo espontâneo quando os pais poderão conversar abertamente com os filhos sobre isso. A família precisa aprender a se afastar sem sair de perto e aconselhar sem julgar o jovem", explica a psicóloga.
Os conselhos são bem-vindos, mesmo porque a pesquisa da USP revelou que, de cada 10 universitários, 9 estão longe de serem obesos por terem o peso considerado saudável para a idade e altura. Aliás, 22% são, na verdade, magros, mas se vêem de forma diferente quando estão na frente do espelho.
São casos como a da estudante Dienafa Cássia, de 19 anos, que pesa 60 quilos, mas não está satisfeita com sua aparência. "Quero emagrecer pelo menos 5 quilos. Me acho bastante gorda, faço dieta direto, mas de nada adianta. Já fiz todos estes regimes loucos, só não tomei remédio", reconhece.
Imagem distorcida
O problema é que muitos jovens que têm esta imagem distorcida do próprio corpo podem sim denegrir sua saúde. Ou então recorrer à solução mais rápida. Os que têm condições financeiras não pensam duas vezes: logo procuram um cirurgião plástico para corrigir as imperfeições.
São implantes de silicone, lipoaspiração entre outras cirurgias que podem até dar uma satisfação, mas só temporária. "Interessante como o médico está tomando o lugar dos pais, porque muitos jovens dizem assim: ?meu corpo foi o médico que fez?, e não ?papai e mamãe que me deu?.
O problema é que, corrigindo o físico, não se chega ao cerne da questão que é a mente. Explicando: se valores morais não existem mais, então eles se espelham no físico. Mas continuam angustiados sobre como agir. Eles só voltam a ser felizes de verdade com o corpo quando a mente está bem", finaliza a psicóloga.
LUCIANA TIBÚRCIO - [email protected]
Repórter
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