Em Beja foram descobertos 19 esqueletos humanos que os especialistas supõem pertencer a um cemitério islâmico.
As descobertas ocorreram durante a abertura de valas para obras de renovação da rede pública de água de Beja, que, desde finais de Outubro e até meados de Abril, atravessam o centro histórico e, por isso, são acompanhadas por uma empresa de arqueologia.
O director científico das escavações arqueológicas, Miguel Serra, explicou hoje à agência Lusa que a equipa terminou esta semana os trabalhos de escavação e remoção dos últimos dez dos 20 esqueletos encontrados.
Estas últimas ossadas humanas, postas a descoberto na rua Gomes Palma, juntam-se a outras três encontradas, em meados de Janeiro, no cruzamento daquela artéria com a rua de Mértola, a cerca de 200 metros da qual já tinham aparecido, em Novembro, os primeiros sete esqueletos.
De acordo com Miguel Serra, do total de 20 esqueletos encontrados, 19 foram «salvaguardados pelo registo», ou seja, escavados e retirados para análise.
«Apenas um dos esqueletos encontrados em Janeiro não foi escavado, nem retirado, porque não seria afectado pelas obras», justificou.
A importância patrimonial «muito pouco relevante» dos esqueletos, devido à sua natureza e ao mau estado de conservação, aliada ao facto de terem sido descobertos em plena via pública, explicou o responsável, «tornaram impossível a sua preservação no local».
No entanto, Miguel Serra salientou a «grande importância» da relevância científica da descoberta.
«Enterramento» tipicamente islâmico
O «enterramento» de 19 dos esqueletos, «tipicamente islâmico», adiantou o arqueólogo, «faz supor que pertencem a uma necrópole dessa época, que poderá existir na zona das Portas de Mértola e que já foi referenciada por outros especialistas».
Miguel Serra aludia à hipótese académica defendida pelos arqueólogos Cláudio Torres e Santiago Macias, que aponta para a existência de uma necrópole islâmica naquela zona do centro histórico de Beja.
A hipótese, levantada no livro «O Legado Islâmico em Portugal», publicado em 1998, baseia-se em notícias sobre o achado de três lápides epigrafadas da época islâmica naquela zona.
Além de confirmar essa hipótese, realçou Miguel Serra, os enterramentos agora descobertos apontam para uma necrópole «muito maior do que inicialmente se supunha».
Facto que considerou «consentâneo com a importância de Beja no período islâmico, entre os séculos X e XI».
Apenas os primeiros sete esqueletos descobertos, adiantou, já foram analisados em laboratório, por uma equipa de antropologia física de Coimbra, que elaborou o respectivo relatório.
O documento foi entregue à Empresa Municipal de Água e Saneamento (EMAS) de Beja, responsável pelas obras, ao Gabinete de Arqueologia da autarquia, ao Instituto Português de Arqueologia (IPA) e ao Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).
Os estudos - a três esqueletos completos e em bom estado de conservação e a quatro parciais e muito destruídos - permitiram identificar o sexo, as idades e algumas patologias dos indivíduos.
Entre os esqueletos, que pertenciam a uma população islâmica dos séculos X e XI, encontram-se «restos mortais de duas crianças, um idoso, uma mulher, entre os 20 e os 30 anos, e um homem, com mais de 30 anos».
Quanto ao vigésimo e último esqueleto do conjunto de 10 encontrados na rua Gomes Palma, pertence a um adulto, com cerca de 30 anos, que estava enterrado num monumento funerário semelhante a um jazigo, que os arqueólogos supõem pertencer a finais do Império Romano (século IV).
Fonte :Portugal Diário
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