A Rússia recupera sua posição na Europa no cenário internacional antes de se passarem duas décadas da queda da União Soviética.
Lances "pequenos", como nomear o ex-primeiro-ministro da Alemanha Gerhard Schröder para presidente da subsidiária da Gazprom, que construirá gasoduto no Mar Báltico para transporte direto de gás natural da Rússia à Alemanha, e o resgate antecipado - no verão do ano passado - da dívida externa que a Rússia herdou da ex-União Soviética, agora cedem lugar a lances cada vez maiores e mais impressionantes.
Exigindo a vigência dos "cânones de mercado" em relação aos preços de oferta de recursos energéticos russos à Ucrânia e à Bielorússia, que desfrutavam de condições privilegiadas anteriormente, o governo Putin não hesitou em ameaçar a própria Europa com a eventualidade de interromper o fornecimento de gás natural.
Simultaneamente, o presidente Putin concluiu o planejamento dos novos gasodutos e oleodutos. Conseguiu convencer a Europa da condição de credibilidade da Rússia como fornecedora da maioria das necessidades européias de gás natural, e também reduzir sua dependência - no que diz respeito aos acessos ao mercado europeu (gasodutos e oleodutos) - a fatores que não poderia controlar facilmente.
Mais tarde, quando a Airbus européia balançava por uma série de problemas ameaçadores, a Rússia adquiria 5,02% do controle acionário da EADS, sua subsidiária, pagando mais de US$ 1 bilhão.
Em continuação a este lance, mas também em meio ao agravamento das relações russo-norte-americanas, devido a instalação de infra-estruturas antimísseis na Polônia e na República Checa, a Aeroflot "virou as costas" à Boeing. Tendo anteriormente decidido a aquisição de novas aeronaves da Boeing, a Aeroflot anunciou que sua encomenda (US$ 4,4 bilhões) será transferida à Airbus.
Em mais um lance oportuno, que confirmou a "orientação européia" da Rússia, Serguei Nariskin, vice-presidente do país, inaugurou - junto com a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel - a maior exposição mundial de produtos e serviços de alta tecnologia, a CeBIT, realizada em Hannover, na Alemanha.
Recursos naturais
Os planos da Rússia em relação ao desenvolvimento de novas tecnologias são grandes, e não poderiam ser melhor revelados do que com a presença de Narichkin na CeBIT.
No momento em que a guerra no Iraque custa cerca de US$ 1,2 trilhão a Washington, a Europa festeja os 50 anos do início da longa marcha de sua unificação e novamente constitui campo de reivindicações - ou em termos atuais - de interesse tanto dos EUA quanto da Rússia.
Seguramente, as considerações são muito diferentes daquelas que conformaram a realidade da segunda metade do Século XX.
A Rússia está recomeçando após uma crise económica e guerra na Chechênia , armada com seus imensos recursos naturais, o chamado Fundo de Estabilização - que somava US$ 103,6 bilhões no dia 1o deste mês -, no qual estão sendo depositadas as arrecadações da venda de petróleo e gás natural, e ainda por cima com sua reservas cambiais e reservas em ouro, que somavam há poucos dias US$ 317,3 bilhões.
Sem subestimar a superpotência norte-americana, as perspectivas da Rússia quanto ao desenvolvimento de uma relação em nova base com a Europa são muito mais do que promissoras.
Aliás, não são evoluções casuais, como as registradas há alguns dias, quando Putin tinha três importantes razões para festejar: primeiro, a formalização de vários acordos com o primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, o mais importante dos quais é a construção de um novo modelo de aeronave, o Superjet-100, pela italiana Alenia e a russa Sukhoi.
Segundo, a formalização de acordo para construção do gasoduto Burgas-Alexandropolis, e terceiro, a decisão do governo da Hungria de se retirar da joint venture para a construção do gasoduto Nabuco, que unirá Turquia e Áustria, transportando gás natural do Mar Cáspio à Europa.
A Hungria agora adotará os planos da russa Gazprom para a construção do gasoduto Blue Stream, através do qual a Rússia garantirá seu predomínio no mercado energético europeu.
Com Jornal Mercantil
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