Meias verdades e intolerância

Um artigo, publicado por Lênin neste mesmo grandioso jornal, em 21 de Fevereiro de 1920 é a prova mais cabal de que nada no marxismo serve de apoio a esta tese. Nas palavras do próprio Lênin, a URSS foi o primeiro país do mundo a estabelecer direitos iguais entre homens e mulheres. Segue-se ao longo do texto uma emocionante exortação ao voto nas mulheres para a eleição do Soviet de Moscou. Deve-se notar que este visionário líder supunha também que o voto deveria ser conferido a todas aquelas operárias que estivessem aptas a assumir o cargo, e não apenas àquelas filiadas ao partido comunista.

A grandiosidade da obra reflete, naturalmente, a grandiosidade do autor. Mas a despeito disto, não seria razoável supor que uma teoria, governo ou forma de ver o mundo que prega o igualitarismo pudesse se arvorar em tais comportamentos vis que insultam a inteligência e a sensibilidade humana. Não se pode conceber que aqueles homens que visavam superar as barreiras de classe e eliminar a submissão humana, conduzindo o operariado a dias de glória estivessem em seu âmbito privado imbuídos de tal espírito de mesquinharia.

O mesmo discurso que advoga a inferioridade feminina é a base de toda a intolerância que tanto nos aflige nos dias atuais. Tanto a barbárie dos norte-americanos maníacos por violência quanto a dos terroristas fanáticos, têm origem no mesmo discurso grosseiramente simplificador e desprovido de bom-senso.

Vivemos num mundo repleto de meias verdades e somos a todo o momento afligidos por uma seqüência interminável de falácias por parte da mídia comercial e de nossos líderes. Os homens em quem confiamos nosso destino mostram-se cada dia menos merecedores desta confiança. Homens como Lula, que assumiram o poder representando uma grande esperança não só para os brasileiros, mas para as esquerdas no mundo todo, falham miseravelmente em sua missão. Mesmo países como a Alemanha, tidos como bastiões da moralidade na política vêm assistindo lideranças políticas e econômicas envolvendo-se em escândalos de toda ordem.

Em outros tempos esta loucura era tida no ocidente como simplesmente uma coisa que acontece apenas com outros povos: o fato de alguém levar oito tiros na cabeça por trás e imobilizado como foi o caso do infeliz brasileiro morto no metrô de Londres não era uma coisa tipicamente “ocidental”; o controle e a censura exercida pelo governo norte-americano durante a guerra com o Iraque sempre foi uma atitude típica dos “outros”.

Hoje, mesmo os países árabes são vítimas da violência terrorista, o extremo oriente não está seguro, e a Rússia também padece desse mal, de modo que estamos todos irmanados na situação de vítimas da intolerância, da descrença. Ao lidar com este problema todos nos dizem meias verdades. “Religião”, “direitos humanos” tudo pode virar uma arma a ser usada contra o oponente no momento certo, dependendo das circunstâncias. Não há projetos claros à esquerda ou à direita em canto algum do mundo – mundo que vem passando por mudanças significativas nos últimos tempos, mas infelizmente somos tentados a afirmar que são mudanças para pior.

E então nós nos sentimos perdidos.

Vai longe a época em que havia esperança na criação de um mundo melhor brotando de todos os cantos, e o grande camarada afirmava com sinceridade sua convicção neste novo mundo possível:

“(...) Pelo engajamento no trabalho administrativo as mulheres aprenderão rapidamente e se equipararão aos homens. Então, vote em mais mulheres trabalhadoras para o Soviet, tanto as comunistas como as não filiadas ao partido. Se ela for uma mulher trabalhadora honesta, capaz de cuidar deste trabalho com sensibilidade e conscienciosamente, não faz diferença se ela é ou não um membro do partido – eleja-a para o Soviet de Moscou. Permitamos que haja mais mulheres trabalhadoras no Soviet de Moscou! Deixemos o proletariado de Moscou mostrar que está preparado para fazer e está fazendo tudo na luta pela vitória, na luta contra a velha desigualdade, contra a velha e burguesa humilhação da mulher! O proletariado não pode alcançar a plena liberdade, a menos que alcance a plena liberdade entre homens e mulheres”. V. I. Lenin

Bons tempos aqueles!

Rodrigo Alves Correia [email protected]

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