RÚSSIA PREPARA-SE PARA A PÁSCOA ORTODOXA

Pela última vez esta coincidência dos dois calendários - juliano e gregoriano - teve lugar em 2001 e a seguinte só será em 2007. Há já muitos anos que na Rússia a Páscoa é celebrada não só pelos crentes.

Este dia é quase uma festa nacional, tal como nos anos do poder soviético eram, por exemplo, o 1.º de Maio, Dia dos Trabalhadores, ou o 7 de Novembro, aniversário da revolução de 1917. Só que a Páscoa é uma festa diferente, particularmente radiosa, uma festa de purificação e de esperança.

Este ano a população russa comemora-a com um estado de ânimo mais optimista, pois a sua vida tem vindo a melhorar gradualmente. A situação no país estabiliza-se. Regista-se um crescimento económico.

Na Páscoa aproximadamente metade dos habitantes da Rússia vai aos cemitérios para visitar as campas dos seus próximos. A seguir, as pessoas regressam a casa e comemoram a Páscoa à mesa festiva. Neste domingo os ovos decorados, os folares de massa doce e o requeijão doce com passas embelezam as mesas até dos ateístas inveterados. Para eles o principal já não é a fé, mas o desejo de seguir as tradições dos pais e avôs, ou seja, voltar às origens que na Rússia, como se sabe, estiveram sempre ligadas à Ortodoxia.

Na noite de sábado para domingo vão à igreja não só os crentes, mas também muitas outras pessoas para assistir à missa e procissão pascal ou participar nela porque este rito é um majestoso espectáculo, quase uma representação teatral com belíssimos trajes e uma atmosfera misteriosa.

Muitos dos políticos compreendem claramente que se no dia de Páscoa desejam estar ao lado do povo, o seu lugar é na igreja. Por isso, muitas personalidades conhecidas e respeitadas participarão na missa de 11 de Abril, no Templo de Cristo Salvador, situado no centro de Moscovo, na margem do rio Moskova.

Vão também à igreja muitos responsáveis que no período do poder soviético ateísta nunca lá iam, mas agora, em qualquer festa religiosa, podemos vê-los de pé junto do altar segurando velas. Entre o povo eles são chamados por brincadeira de "castiçais".

O Templo de Cristo Salvador é o templo central da Rússia. Ele atrai os moscovitas e os muitos visitantes da cidade pela sua grandeza e beleza.

Desde os tempos remotos nestes dias costuma-se ver perto das igrejas ortodoxas por toda a Rússia muitos pobres pedindo esmola. Este fenómeno tem, possivelmente, a sua lógica. Deus dá às pessoas a oportunidade de manifestar a sua caridade. Na passagem subterrânea junto do Templo de Cristo Salvador instalam-se músicos. Um homem toca acordeão e a sua companheira canta com uma voz excelentemente colocada uma canção popular conhecida desde a infância de todos os russos. Os transeuntes sorriem recordando os anos da sua juventude quando esta canção era transmitida muitas vezes ao dia pela rádio e lançam dinheiro miúdo na caixa aos pés dos músicos.

Nos últimos dias o número de músicos de rua perto do Templo de Cristo Salvador e, em geral nas ruas de Moscovo, aumentou visivelmente. Primeiro, na capital russa parece ter voltado o bom tempo, após ter derretido a fina camada de neve caída há alguns dias. E, segundo, a próxima Páscoa é naturalmente a principal festa dos cristãos ortodoxos em que as pessoas que se dirigem às igrejas se mostram especialmente generosas para com os pedintes.

A julgar por tudo, nesta Páscoa o afluxo de pessoas ao Templo de Cristo Salvador será muito grande. Ora, de acordo com a informação, um grupo de peregrinos tenciona trazer, tal como há um ano, na noite de sábado, 10 de Abril, o Fogo Sagrado da Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém.

No ano passado, a delegação levou consigo para Jerusalém lamparinas especiais criadas para o transporte do fogo. Por volta da meia-noite de sábado, os crentes reunidos no Templo de Cristo Salvador em Moscovo acenderam as suas velas deste Fogo Sagrado.

Muitos fiéis choravam, compreendendo que este fogo viera do próprio Santo Sepulcro em Jerusalém, cuja cúpula cobre o monte Gólgota em que foi crucificado Jesus Cristo e a tumba para onde foi transferido o seu corpo. Como ensina o Evangelho, no Santo Sepulcro ocorreu o Grande Milagre: a Ressurreição de Cristo.

É justamente este acontecimento que os cristãos comemoram no Grande Domingo da Páscoa. Todos os anos desde a Ressurreição de Cristo o Fogo Sagrado acende-se espontaneamente na Basílica do Santo Sepulcro numa mesma altura, na tarde de Sábado Santo. Isso acontece por volta das duas horas na própria tumba do Santo Sepulcro onde entra o Patriarca da Igreja Ortodoxa de Jerusalém. Os crentes indicam que nesta tumba ressuscitou Cristo, "o primeiro dos mortos que abriu a todos nós o caminho da Ressurreição".

A primeira testemunha do aparecimento do Fogo Sagrado no Santo Sepulcro foi, de acordo com a tradição, o apóstolo Pedro. Foi justamente ele - dizem os crentes - que viu uma luz maravilhosa dentro do Sepulcro de Cristo.

O aparecimento do Fogo sagrado é acompanhado por luzes fulgurantes em todo o Templo. E, como dizem os que puderam presenciar este prodígio, às vezes acontece que até se acendem também as velas nas mãos de alguns dos peregrinos reunidos no Templo do Santo Sepulcro. Deste modo - dizem os cristãos - o Senhor testemunha-nos a sua presença. É de notar que este Fogo é muito suave e nos primeiros minutos não queima as mãos.

Nas vésperas da Páscoa ortodoxa, centenas de cristãos russos seguem para Jerusalém a fim de ver o aparecimento do Fogo Sagrado. Mas, como é natural, a maior parte da população assiste a esta cerimónia pela televisão. Agora, porém, os habitantes de Moscovo têm ainda a possibilidade de acender as suas velas do Fogo Sagrado apenas algumas horas depois de ele ter aparecido em Jerusalém. Aguardando a chegada do fogo, os fiéis reunidos no sábado no Templo de Cristo Salvador participarão, tal como há um ano, na oração de todos os cristãos ortodoxos "Pela paz em Jerusalém". A iniciativa desta acção foi apresentada pela Fundação russa de São André e abençoada pelo Patriarca de Toda a Rússia, Alexi Segundo. Os organizadores da acção indicam que no mesmo dia e hora todos os cristãos ortodoxos devem dirigir a sua prece ao Senhor para que conceda a paz a Jerusalém, centro das religiões mundiais. Com efeito, a paz é hoje extremamente necessária à Terra Santa, pois nas vésperas da Páscoa a situação em Israel e nos territórios da Autonomia Palestiniana agravou-se de novo. O sangrento confronto entre os israelitas e palestinianos prossegue ocorrendo nas proximidades imediatas dos principais santuários cristãos: Jerusalém, Belém, Nazaré, Mar da Galileia.

Depois da oração, as pessoas reunidas no Templo de Cristo Salvador acenderão as velas do Fogo Sagrado e já na manhã de 11 de Abril, Domingo de Páscoa, os cristãos ortodoxos de Moscovo, Jerusalém e todo o mundo saudar-se-ão mutuamente exclamando: "Cristo ressuscitou!" - "Em verdade ressuscitou!".

Andrei Pravov, observador da RIA "Novosti" © RIAN

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