Murilo Badaró Presidente da Academia Mineira de Letras
Como estamos na semana do quadricentésimo aniversário de nascimento do Padre Antônio Vieira, nada melhor do que iniciar esta crônica com algumas de suas palavras, proferidas no Sermão da Primeira Dominga do Advento, pregado na Capela Real no ano de 1650: O salteador na charneca com um tiro mata um homem; o príncipe e o ministro com uma omissão, matam de um golpe uma monarquia.
Transpostas para o cenário brasileiro de hoje, poder-se-á repetir Vieira afirmando que o Presidente da República e seu ministério estão levando a República à ruína por força de imperdoável ação e omissão e, pior ainda, por permitirem a organização de verdadeiras quadrilhas dentro do sistema de poder para se locupletarem. Não se tem notícia na história do Império ou da República de tamanha desfaçatez, de tão despudorado comportamento de homens de governo assumindo a coisa pública como se fora propriedade privada. A maré montante dos escândalos ameaça submergir a República. De nada valerão expedientes de natureza política para promover arranjos destinados a subtraírem à opinião pública conhecimento destes fatos vergonhosos.
A cada novo dia, mais escândalos em torno dos chamados cartões corporativos, nada mais nada menos do que uma gazua inventada por esquerdistas ao se apossarem do governo e transformada em pé de cabra para arrombar os cofres da União. Tudo feito sem qualquer constrangimento. Agora os senadores e deputados brincam de organizar comissão de inquérito para apurar o escandaloso envolvimento dos governistas no assalto aos bens públicos e pretendem entregar seu comando aos membros das hostes palacianas, como se comissão de inquérito, em parlamentos sérios, houvesse deixado de ser instrumento oposicionista. O Brasil está à véspera de assistir ao mais triste espetáculo de bufonaria política.
Permitindo-se os parlamentares a execução desta farsa, todos estarão irremediavelmente lançados na vala comum da desmoralização. O ridículo cobrirá suas faces e deles exigirá satisfação a opinião pública quando chamada a opinar. Em caso de tamanha gravidade, os plenários das Casas do Congresso não substituem a Nação. Entregar o comando de uma comissão de inquérito aos apaniguados do governo, com a missão de apurar desvios de conduta moral de seus próprios membros, é não apenas cobrir a face da nação de ridículo, mas submetê-la ao opróbrio. Nunca na história deste país a corrupção foi tão gravemente perniciosa, uma espécie de impressão olfativa que se insinua por todo o organismo, uma forma de metástase deste câncer moral que avassala a nação de uns tempos a esta data.
O que parecia uma atitude típica de despreparados para o exercício de funções públicas, assumindo o uso de cartões corporativos para pagamento de despesas pessoais, está se transformando em escândalo de inéditas dimensões, contaminando o governo como um todo e tendendo a se espalhar amplamente pelo sistema governamental. Esta desculpa de que gastos realizados na área da presidência da República são assunto de segurança nacional, portanto submetidos a sigilo, torna ainda mais sensível à opinião pública a dimensão do assalto praticado contra os cofres públicos. Prestação de contas de governantes não está sujeita a sigilos de conveniência.
Toda ela é aberta aos olhos da sociedade, pela simples razão de que é a aplicação do tributo arrecadado aos contribuintes. O governo e seus ministros estão matando a República com sua omissão delituosa, permitindo este assalto ao dinheiro arrancado dos milhares de brasileiros, até mesmo daqueles que continuam vegetando na pobreza e na miséria, conseqüência dos desvios de conduta moral dos governantes.
A República agoniza no Brasil.
(e-mail: [email protected] murilobadaro.blogspot.com)
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