Gémeas Siamesas em Uruguai

Recém-nascidas siamesas no Hospital das Clínicas de Montevidéu continuam na UTI - Conferência de imprensa médica acaba com reclamações do pai. Esse mesmo Hospital das Clínicas que localizado no Parque Batlle, na frente do mítico Estádio Centenario da capital uruguaia, foi ícone do progredir da medicina da América toda, hoje bem mais estragado recebe mais “uma” história de vida no seu coração.

Tendo atingido o privilégio do reconhecimento internacional como o número um dos Hospitais da América Latina na década dos sessenta do século XX, formou inúmeros médicos vindos da América inteira que ainda como estudantes pagavam uma passagem rumo a Montevidéu e aluguel numa residência que ia ser a sua no decorrer da carreira.

O ensino universitário uruguaio foi sempre grátis na área pública por isso, muitos profissionais estrangeiros que mostram seus crachás nos Congressos do mundo “nasceram” nesta terra que ofereceu-lhe tudo para veicular seu objetivo, a grande maioria com situação financeira resolvida nos seus países.

Já num declínio sem fim na última ditatura militar (1973 – 1984) o povo uruguaio acreditou nas promesas daqueles homens, quanto a que haveria um “novo” Hospital das Clínicas com o apoio de todos os uruguaios, aprimorando-o até conseguir ganhar mais uma vez essa peça arquitetônica única como se fosse na data da estréia.

E o povõao ia contribuindo e as poupanças iam acrecentando-se no dia a dia sendo prova disso uma grande faixa acima da porta principal que debruça para Avenida Italia que ganhaba dígitos sinônimo de grana após a “prefixo” da moeda da época N$ ( novos pesos ).

Assim que a quantia foi importante e não dava para colocá-la no bidê da casa, alguém sem remorso colocou-a em alguns dos bolsos daqueles macacões verdes que cheiravam a flagrante injustiça.

Nos últimos tempos mesmo que a cara visível continua escorregando ferrugem em algumas das muitas janelas que vestem-no com sobrecasado de ferro, a aragem bolivariana vinda da Venezuela chavista vai burilando sua estrutura e dignidade dos ”hóspedes” que só gostam da idéia de pertencer ao “mobiliário” naqueles casos que trazem felicidade para as famílias.

No Uruguai tornou-se padrão que a grande maioria dos nascimentos conseguiram tirar o melhor sorriso dos novos pais e seus parentes fora alguns casos que esse tal sorriso trocava a concavidade da boca pelo convexo, quase sem percebê-lo.

Com mãezinhas ainda moleques ou numas outras oportunidades pulando a muralha das quatro décadas as possibilidades de sentir felicidade incompleta aumentam no decorrer dos nove meses de gravidez.

Até terça 26 de junho ás 08:20 da manhã o termo “deficiência fisica” do jeito que consegue-se ler nos ônibus do Brasil ia espelhar uma “descida inglesa”, ou na pior hipótese, a falta duma perna, um braço ou má-formação qualquer que impedisse que uma pessoa movimentara-se com jeito de agir normal.

Ás 08:20 foi mesmo a “hora H” para duas lindinhas uruguaias que fizeram pouso “de mãos dadas” num dos andares do tal Hospital, á procura que os lábios dos pais também pousaram-se nas suas bochechas que ficavam extremamente pertinho de a pares.

A grande felicidade da Yessica e Victoria pelo sentimento incomparável de sentir-se irmãs gêmeas univitelinas ficava na outra beira do resto dos uruguaios que “sofrem” pelo azar das anjinhas “charruas”.

As duas compartilhavam segredos transportados em bolhas imperfeitas e carregadas com pingos de ternura que fazem-nas fortes demais para agüentar os soluços do ambiente.

Bolhas que ao contato com o ar explodiram espalhando quem sabe o que, mas atingindo bochechas e olhos que focalizam olhares úmidos e lotados de pregações acima desse único corpinho com dois corações grudados pelo amor.

5160 gramas com vontade de continuar olhando um espelho sem que a evaporação do ar morno expelido dum lado impeça receber um sorriso xerocado com grau de mornidão maior ainda.

Dois corações imperfeitos pedem para o Perfeito lá cima um passe de magia que sustentem-nas neste mundo imperfeito, á cunha de assassinos, ladrões, corruptos, bêbados, drogados, poderosos-chefões que poluem o ar que talvez acabem provocando deficiências físicas para os que vem logo numa barriguinha arredondada que até asemelha “prefeição”.

Do balneário El Pinar, na Costa de Ouro que contorna o Rio da Prata, apenas 36 km do centro de Montevidéu, o casal ficava orgulhoso faz alguns meses pela economia nas toallas mensais da senhora da casa. Logo compartilharam super descontraidos a primeira e esperada ecografia estrutural andando o mês de março nas 24 semanas de gravidez

São gêmeas…gemêas siamesas, falou o Doutor.

Pela primeira vez no histórico da Medicina uruguaia um caso de siameses que foi impossível “encobrir” mas do que algunas horas após que o nascimento tinha acontecido.

Perante essa realidade houve conferência dos médicos que tinham o caso nas mãos.

Compareceram a Dra. Estela Coucelo como Obstetra, o Dr. Daniel Borgonet, responsável do Depto. de Neonatología e a Dra. Graciela Ubach como Diretora do Hospital que iam informando para os jornalistas tudo quanto tinha ocorrido neste processo de nove meses acompanhando a situação.

Logo responderam perguntas , (aquelas que você meu amigo leitor teria feito), salientando que os pais souberam desta situação á partir dessa tal ecografia e decidiram continuar esta história.

Logo dum ida e volta dos médicos e a imprensa, o pai interveio remarcando que tivesse adorado manter em segredo tudo mas a imprensa foi alvo do seu dedo indicador, reclamando-lhe que sua mãe com 74 anos agora “acompanha” seu pai que completou 84 anos no Hospital ( já estava internado ), pois soube que o caso das siamesas não foi outro que o das suas netinhas.

Tenho um laço no pescoço que é responsabilidade da imprensa, acrescentou logo.

Após esse instante desconfortável, a Dra. Ubach pediu fechar a rodada de perguntas.

Não há egungum nenhum, elas pertencem ao nosso mundo e são charrúas, porém com garra e tendo sua atual “residência” do lado do berço das maiores fazanhas do futebol uruguaio como o Estádio Centenario, acreditamos que tudo é provável.

Mais um pouco de raça meninas, segurem nossas mãos que todos nós vamos ancorá-las nesta terrinha.

Faz alguns anos que as luzes são parte fundamental no design desse Hospital das Clínicas noctívago, pois os “beletistas” uruguaios ligaram uma linha horizontal de lâmpadas fluorescentes “Warm Light” que contornam o prédio todo no último andar desse ícone reconhecido até de muito longe.

A luz vai continuar acessa as 24 horas ( nem só á noite ) oferecendo-lhes, meninas, sua energia e facho amplo para guiar suas vidas entre nós.

Impossível planejar um cirurgia agora, falaram os médicos.

Nada podemos fazer além de deixar o tempo passar.

Será que Deus é uruguaio ?

Correspondente PRAVDA.ru

Gustavo Espiñeira

Montevidéu – Uruguai

Terça 03 de julho de 2007

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