Crítica severa às medidas de "contenção" dos CTT
Como crítico e difusor literário, editor independente e tradutor freelancer tenho que me deslocar frequentemente aos correios para levantar ou remeter encomendas. Com o intuito de reduzir essas idas e voltas, ainda antes do Apocalipse Gripal do COVID-19, aluguei um apartado na estação de correios que me ficava mais a caminho, eis o meu relato quanto às últimas semanas.
Flávio Gonçalves
Desde Janeiro que todo o meu correio editorial (livros, manuscritos, revistas) e, desde o começo da pandemia, algum do meu correio pessoal (como encomendas de farmácias online, lojas de suplementos, a recepção de câmeras e tripés para o eternamente adiado podcast do "Livros à Mesa", artigos para o cenário do mesmo, etc) são direccionados para o apartado que abri, pensando que assim salvaguardava pelo menos o simpático carteiro aqui da zona.
Os primeiros meses decorreram de modo magnífico, mesmo após a aplicação de algumas medidas de contingência por parte dos CTT a estação de correios funcionava no seu horário normal, as pessoas entravam a conta gotas como está estipulado para todos os estabelecimentos desde a declaração do Estado de Emergência, a porta estava aberta e o espaço arejado. Não demorava mais que uns minutos a receber e a remeter correio, há meras duas semanas.
Entretanto, não sei se por imposição sindical ou dos seus funcionários, se por alguma decisão da hierarquia da própria empresa, tal já não sucede. Os CTT reduziam o seu horário, estão abertos meras quatro horas e meia do dia e a minha ida semanal tornou-se hoje um pesadelo, tanto que em vez de meros minutos a recolher e a remeter encomendas, estive duas horas (das 09:30 às 11:30) numa herculeana fila à porta da minha estação dos CTT e acabei por desistir e ir embora, uma vez que a justificada revolta dos presentes e a falta de cuidado de alguns deles estava a abandonar de todo a distância de segurança.
A redução de horário de um serviço essencial como os CTT é um erro crasso, é aqui que têm de se dirigir imensas pessoas para receber apoios da Segurança Social e reformas, e pagar as suas contas (e aqui não me refiro só idosos, sei que a pobreza envergonhada é uma tradição em Portugal, mas acreditem quando vos digo que em Abril de 2020 ainda existem um vasto número de pessoas que não tem rendimentos suficientes para sequer abrir uma conta bancária e pagam todas as suas contas nos balcões dos CTT.
Ao condensar o horário de atendimento, condensaram também a presença dos seus clientes, há meras duas semanas com horário normal a afluência estava espalhada pelas oito horas de atendimento e lá era uma questão de minutos ou meio hora. A redução do tempo de abertura não reduziu o risco de contágio, ao passar a aglomerar à sua porta dezenas de clientes durante horas seguidas, e estando actualmente as portas encerradas, os CTT não reduziam o risco de contágio dos seus funcionários nem dos seus clientes, pelo contrário: aumentaram-no e em muito!!!
Serviços essenciais como são os correios não deviam reduzir os seus serviços em Estado de Emergência, talvez até os devessem alargar para reduzir o número de pessoas presentes, e estou em crer que tal não ocorreria caso ainda fossem uma empresa pública - razão pela qual defendo a sua plena renacionalização, custe o que custar - são tão essenciais aos serviços mínimos do Estado como o SNS e os agentes da PSP. Repito: esta medida de "contenção" aumenta em vez de reduzir o risco, que alguém com poder decisor a reverta!
Flávio Gonçalves
Flávio Gonçalves é membro do Conselho Consultivo do Movimento Internacional Lusófono, sócio fundador do Instituto de Altos Estudos em Geopolítica e Ciências Auxiliares, tradutor, editor, autarca, director da revista "Libertária" e colaborador do Pravda.ru, pode segui-lo em twitter.com/flagoncalv e fb.com/flagoncalv.
Imagem: Pixabay
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