Hoje, passado um ano após o fim da guerra no Iraque, que mudou o equilíbrio de forças no Médio Oriente, chegou a hora de perguntar: quais são os actuais interesses políticos da Rússia na região?
Houve alguma alteração? Se tais existem, será que eles dizem hoje só respeito à recuperação da dívida do Iraque e às possibilidades de explorar os jazigos petrolíferos do país?
A Rússia sempre foi um dos garantes de paz e da estabilidade no Próximo Oriente, sendo esta vertente uma das prioridades da sua política externa.
O Iraque, Israel, a Palestina, a Líbia, a questão dos curdos são alguns dos problemas que exigem esforços intensivos no âmbito da política externa russa, os quais devem ser acompanhados por esforços não menos enérgicos na área económica e comercial, pois a estabilidade e a actividade empresarial sempre andam de mãos dadas.
Uma das principais tarefas da política externa do nosso país é a defesa dos interesses das companhias russas no Médio Oriente e o alargamento das relações comerciais e de negócios na região, tendo o Iraque adquirido hoje em dia particular importância.
Não é segredo para ninguém que os interesses das companhias russas no Iraque são significativos e tem uma história longa. O Estado é obrigado a apoiar por todos os meios as companhias nacionais que têm contratos neste país, cujo valor sumário é cerca de 4 biliões de dólares. Os empresários russos estão prontos a retomar a sua actividade no Iraque, o que irá criar novos postos de trabalho para os iraquianos e contribuirá para o reforço da estabilidade política no país.
Claro que a recuperação do Iraque depende antes de tudo não da presença do contigente militar internacional, mas sim dos investimentos na economia do país.
Os políticos e peritos no mundo de hoje dedicam não raro demasiada atenção aos motivos de conduta das partes nas situações críticas, ao papel da força militar e à arte de combater, mas as questões da regularização no pós-guerra ficam de lado, pensando-se em esta se efectuará por si mesma. Em resultado vem aumentando o número de países nos quais, terminadas as acções militares, se cria a ilusão de uma certa estabilidade, sustentada pela presença de contigentes militares internacionais. No entanto as contradições que existiam antes da guerra continuam a existir e via de regra ainda se agravam mais. Os últimos exemplos disso são o Kosovo, o Afeganistão e o Iraque. Claro que retirar todo o contingente militar do Iraque é hoje impossível, mas o mandato do mesmo deve ser definido pelo Conselho de Segurança da ONU.
Washingtom tem que entender que é impossível num futuro próximo implantar no Iraque os princípios da democracia ocidental no terreno dos valores tradicionais de um país muçulmano.
Os sistemas políticos dos actuais países árabes estão a ser classificados por categorias seguintes: monarquias hereditárias, governo presidencial vitalício ou os países onde, por trás da fachada democrática, se esconde o papel significativo dos militares e dos serviços secretos. Tais tipos de governos são tidos como normais, especialmente quando a vida nestes países é abastada.
Mas se não há hipótese de construir a democracia no Iraque, transformá-lo num país estável e próspero é perfeitamente viável, pois temos tudo para isso - recursos naturais e potencial humano.
Se for garantida a segurança no país e melhorada a situação em geral, irão surgir perspectivas de reconciliar as forças políticas e os novos líderes capazes de garantir a coesão da sociedade, aplicando para o efeito a ajuda humanitária e investimentos na economia.
O relatório redigido pelo Grupo de Desenvolvimento da ONU em colaboração com o banco Mundial indica que a recuperação da economia do Iraque é uma das condições principais da regularização política. Segundo as estimativas do Banco Mundial no período entre 2004-2007 a recuperação do Iraque irá exigir no total 36,5 biliões de dólares. Só em 2004 serão necessários cerca de 9 biliões de dólares. As autoridades locais indicam um valor maior, ou seja, cerca de 56 biliões de dólares. Os países doadores disponibilizaram por enquanto 33 biliões de dólares, mas apenas 4 biliões serão a fundo perdido, enquanto o resto deverá ser reembolsado. O Japão, por exemplo, quer o reembolso em forma de petróleo.
Nestas condições é natural o desejo da Rússia de solucionar o problema da dívida iraquiana, estimada em 8 biliões de dólares. Na opinião de Moscovo a restruturação da dívida poderá ser efectuado de acordo com as perspectivas de participação de cada país em projectos de investimentos de larga escala no Iraque.
Seja qual for o destino da dívida, a Rússia irá voltar ao Iraque, há já muitas provas disso. Por exemplo, a Associação de Solidariedade e Cooperação com os Povos da Ásia e África junto com o Ministério das Situações de Emergência (MSE) da Rússia e a companhia "Lukoil" planeia realizar na Primavera-Verão de 2004 uma acção humanitária no Iraque. Para além disso, a Associação propôs abrir em Bagdad uma representação permanente.
Na complexa situação que se criou em torno do Iraque, a política externa russa tem sido caracterizada por um elevado nível profissional. A posição flexível de Moscovo permite esperar um desfecho feliz da luta pelos interesses das companhias russas no Iraque e uma cooperação construtiva com os países do Próximo e Médio Oriente.
© RIAN
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