Centro e periferias na Europa (2) - Portugal, um caso de desastre periférico

Centro e periferias na Europa (2) - Portugal, um caso de desastre periférico

No quadro de algum estreitamento das desigualdades na Europa, Portugal é um país em evidente empobrecimento relativo.

1 - Evolução da capitação do PIB

2 - O rendimento bruto das famílias

3 - Os tais custos do trabalho

Recentemente procedemos a uma explanação sintética das desigualdades presentes na UE, resultantes de um processo que se desenvolveu nos últimos 45 anos. E utilizámos a palavra sintética porque privilegiámos um indicador - a evolução demográfica - que constitui um espelho claro da evolução do posicionamento de cada região europeia na hierarquia construída pelo actual capitalismo neoliberal*

No texto presente, vamos observar essas desigualdades, entre os países, através da capitação do PIB, dos rendimentos familiares e dos custos empresariais com a mão-de- obra, com alguns detalhes relativos ao que se vem passando em Portugal.

 1 - Evolução da capitação do PIB

A evolução da capitação do PIB para o conjunto UE-28, medida em euros, para o período 1970-2014, revela um crescimento muito rápido até 1990, com abrandamento no lustro seguinte, uma retoma na década 1995-2005, terminando o período posterior com um crescimento muito débil, na sequência da crise sistémica política, económica e financeira, que vai prosseguindo o seu aprofundamento. 

Mais detalhadamente, pode observar-se a taxa anual média de crescimento das capitações para cada um dos períodos quinquenais, revelando-se assim as flutuações mais curtas que compõem o ciclo longo inaugurado com o neoliberalismo, em torno do início dos anos 70 do século passado. 

 Na segunda metade da década de 90 várias inovações tecnológicas ou a sua massificação (internet, telemóveis) deram um forte impulso na globalização, nos negócios mas, o neoliberalismo, com a financiarização, as deslocalizações, a desindustrialização, a desregulação social, originaram a crise chamada dos "dot.com" na mudança de século. Como o processo se foi acentuando, com bolhas imobiliárias, os empréstimos subprime, tudo alicerçado num crédito sem a contrapartida de rendimentos efetivos para o seu pagamento, a crise acentuou-se, com falências bancárias, estados endividados, ineficazes programas de austeridade e o crescimento anémico a que se vem assistindo, sem um fim à vista, como é bem visível no gráfico seguinte.

Passamos a observar seguidamente a variação das capitações de rendimento relativas a cada país, entre 1970 e 2014 tendo como referência, para cada um deles, o valor agregado de UE-28 = 100.

 Este longo período corresponde ao tempo de afirmação e consolidação do neoliberalismo que entretanto estará numa fase de esgotamento do seu modelo económico, social e político. Mostra, numa primeira abordagem, que no conjunto dos países considerados como desenvolvidos a capitação do rendimento cresceu pouco acima (3.9%) face à UE-28, enquanto para o mundo na sua globalidade, essa capitação se reduz 12.7%, nos mesmos termos comparativos. Como é óbvio, por exclusão de partes, para o conjunto dos países menos desenvolvidos (benevolamente designados por países em desenvolvimento pelas instituições internacionais, onde se incluem todos os outros países que não pertençam à OCDE) a situação é muito pouco lisonjeira; como pouco lisonjeira é a situação dos povos considerados desenvolvidos pela OCDE - Hungria, Polónia, Turquia, México... -  só pelo facto de pertencerem àquele clube. Uma classificação no campeonato obtida na secretaria...

 Nos países não desenvolvidos, a capitação terá regredido, em termos comparativos com a UE-28 mais do que a média mundial, revelando manterem-se bem ativas as sequelas de uma ordem económica mundial historicamente geradora de desigualdades. 

 Poderá pensar-se que, entretanto, a população dos países não desenvolvidos cresceu substancialmente, mais do que o PIB; porém, isso não poderá consubstanciar a defesa de políticas malthusianas mas antes, alterações políticas e económicas que eliminem a aliança entre as classes políticas desses países, autocráticas e corruptas e as predatórias multinacionais que saqueiam as riquezas e promovem desastres ambientais devastadores, para além da tenaz com que o sistema financeiro global domina os países pobres e periféricos, através da dívida. 

 Em relação aos níveis médios da UE, alguns países de topo no quadro da riqueza perderam posição. São os casos, particularmente, da Suíça (-28.5%), da Suécia, da Itália, da França, da Holanda e da Dinamarca. Com uma grande quebra face à média comunitária sobressai a Grécia que, não sendo um país rico, regrediu substancialmente nos últimos anos, por razões bem conhecidas.

 Os casos em que houve grande aproximação face aos níveis da UE-28 registam-se entre os países de recente inclusão, maioritariamente a Leste (saídos do desmembramento do bloco soviético e objeto de profunda intervenção dos capitais estrangeiros, com a manutenção de salários baixos face à média comunitária, ou a Sul (Malta e Chipre), para além da Irlanda.

 Regista-se ainda um grupo geograficamente heterogéneo de países que apresentando variações positivas de capitação face à media comunitária, elas são, contudo, relativamente modestas. Destacamos, neste grupo, os casos da Alemanha (4.1%), a Bélgica (1.5%), Grã-Bretanha (6.2%), a Espanha (0.6%) e mesmo Portugal (11.4%), nos dois últimos casos, por razões também evidentes.

 Como seria de esperar, nada há aqui que se possa relacionar especificamente com a moeda única, mas antes com o caráter antidemocrático das instituições europeias que fomentam ou interagem com as desigualdades de desenvolvimento capitalista, que calam fundo na História, geradoras de regiões pobres, menos pobres e ricas, como documentámos recentemente.

Ler na íntegra

http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/06/centro-e-periferias-na-europa-2.html

 

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