A estranha lógica dos EUA e da UE: o referendo do leste ucraniano não é democrático.
E o regime golpista de Kiev? É?!
14/5/2014, Mahdi Darius Nazemroaya[1] (trad. mberublue) - http://goo.gl/ju9ijh
Donetsk
Fraude. Farsa. Antidemocrática. Ilegal. Realidade alternativa. Credibilidade zero. Absurdo. Assim, com essas palavras, os Estados Unidos e países membros da União Europeia falam dos referendos de 11 de maio de 2014 no leste ucraniano. Em linguagem alarmista e russófoba, EUA , União Europeia e OTAN culpam a Federação Russa pela organização da votação no leste ucraniano.
A super incompetente porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jennifer Psaki, contratada apenas pelo currículo nas campanhas do Partido Democrata, não por proficiência em relações internacionais ou assuntos externos, descreve o referendo realizado na região do extremo leste, em Donetsk e Lugansk, como nada além de repetição, pela Rússia, da "cartilha da Criméia". Papagueia o que diz o chefe dela, o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry.
William "vago" Hague
O Secretário do Exterior da Inglaterra, William Hague, declarou que os votos não teriam peso; que teriam credibilidade zero. Anunciou que as votações no leste ucraniano "não cumprem as normas, mesmo as simples normas de objetividade, transparência, equidade e não foram sequer conduzidas como devem ser eleições ou referendos"; que os organizadores não passariam de impostores fingindo atender vagamente as tais 'normas'. Justamente, por causa do reconhecido talento para a retórica oca, o Secretário Hague ganhou o apelido de "William Vague" ("William Vago"). O modo vago de falar é usado deliberadamente para desacreditar o processo democrático ocorrido no leste ucraniano.
Antes do referendo, e dividindo o mundo entre nações "civilizadas" e "bárbaras", John Kerry 'declarara' que nenhuma nação "civilizada" reconheceria o resultado da votação no leste ucraniano. O que o principal diplomata do staff americano pretensiosamente tentou, com essa linguagem etnocêntrica e pondo a nu o desespero de Washington, é que os EUA e seus aliados representam a nata da civilização e que nação que não siga os ditames de Washington estar-se-ia afastando desses limites e passaria a ser, portanto, "não civilizada". Os países "não civilizados" aos quais ele se referia são a Rússia e seus aliados e parceiros como a Armênia, Belarus, Venezuela, Cuba, Bolívia, Tadjiquistão e Irã.
Ódio é amor. Guerra é paz. Os neonazistas são democráticos.
Que não se perca a ironia. Exatamente as mesmas palavras usadas pelo governo dos Estados Unidos e da União Europeia para descrever a votação nos referendos do leste ucraniano encaixam-se com precisão na descrição do regime liderado por Arseniy Yatseniuk, que foi instalado pela força, por violento golpe apoiado pelos EUA em fevereiro de 2014. É flagrante o uso claro de dois pesos e duas medidas pelos Estados Unidos e seus aliados nas suas condenações aos referendos nas regiões de Donetsk e Lugansk.
Quando um processo perfeitamente democrático ocorre de forma pacífica na Ucrânia, com o povo votando de verdade, os Estados Unidos e a União Europeia irônica e comicamente declaram que o referendo "não tem legitimidade democrática".
Pode se pensar o que se queira sobre a legitimidade dos referendos no leste ucraniano, mas tiveram grande apoio popular e alta participação. Os ucranianos do leste reuniram-se em massa em longas filas de votação, apesar de o regime em Kiev ter usado táticas para amedrontá-los. Grandes multidões se reuniram para votar, mesmo que o regime não eleito de Yatseniuk e apoiado pelos EUA - e que incorporou oficialmente gangues de bandidos ultranacionalistas armados que executaram o golpe de fevereiro deste ano como parte do aparato militar e de segurança - tenha usado aquelas milícias armadas dentro das cidades a fim de interromper a votação. Feriram e mataram civis desarmados neste processo, ao tentar interromper a votação, sob a alegação de uma "operação antiterrorismo" do regime apoiado pelos Estados Unidos.
Dizem que uma foto fala mais que mil palavras. Seguem-se fotografias que devem bastar para fazer calar o ruído que fazem os manipuladores de opinião instalados em Kiev e seus mestres em Washington e na União Europeia. [várias imagens]
O regime de Yatseniuk não apenas teve a audácia de questionar a legitimidade das autoridades locais no leste ucraniano, mas tentou também estabelecer ali uma espécie de lei marcial.
Se o movimento na Praça EuroMaidan foi movimento democrático, e teve a ver com o direito de os ucranianos escolher líderes populares, por que os ucranianos do leste não poderiam escolher seus próprios líderes populares? Por que Yatseniuk teriam algum 'direito' de impor aos ucranianos o seu próprio regime? E por meios violentos?! Tudo isso seria compatível com as palavras ditas por Yatseniuk, Timoshenko e respectiva gangue?
EUA e UE sempre foram contra conceder poder real ao povo.
Não se pode esquecer que, questões de legalidade à parte, sempre que o autêntico "poder popular" está em jogo em lugares como o leste ucraniano, ou o Barein, e o povo comum está lutando por seus direitos, os Estados Unidos e a União Europeia invariavelmente se opõem: e invariavelmente apoiam tiranos opressores, contra a população.
Os que Yarseniuk chama de "terroristas" são cidadãos pacíficos e desarmados que se organizam no leste da Ucrânia para fazer valer seu desejo; e governos e a rede de imprensa-empresa em todo o ocidente dão apoio aos golpistas instalados em Kiev e já os chamam de "insurgentes". É manipulação deliberada do termo, com o fito de equiparar todo o povo da Ucrânia Oriental a amotinados, o que justificaria suspender todos os direitos democráticos no país. "Amotinado" é quem se rebela contra autoridade legítima. Mas, na Ucrânia, não há autoridade legítima.
Os transgressores e criminosos são, isso sim, a Junta neonazista de Yatseniuk e seus patrocinadores estrangeiros. O regime títere que ilegalmente ocupa os gabinetes do governo e seus supervisores em Washington e na União Europeia não têm autoridade nem moral nem legal para pregar sermões sobre referendos ou sobre democracia, depois de violentar a Ucrânia e mutilar a democracia ucraniana.
A mídia ocidental, que tenta a todo o tempo minar a Ucrânia Oriental não consegue mostrar os fatos reais nem ali, nem na metade ocidental da Ucrânia. Tentam distorcer os fatos que aconteceram no leste ucraniano. Tentam inculpar a Rússia pelo incêndio que eles próprios atearam na Ucrânia, usando estes acontecimentos como justificativa para suas reais intenções em longo prazo, de paralisar a Rússia e seus aliados, que agora estão surgindo.
São mentiras deslavadas sobre a votação no leste ucraniano, numa tentativa de desacreditá-la. Mesmo levando-se em consideração suas falhas e falta de uniformidade - que pode ser facilmente observado nas imagens do processo de votação - é extraordinário, ainda mais depois que o governo ilegal de Kiev tentou obstruir a votação, que a comunidade da Ucrânia Oriental tenha conseguido oganizar e concluir os referendos. Voluntários usaram escolas e prédios públicos para o processo de votação.
Um dos truques sujos usados pelo regime de Yatseniuk foi bloquear o acesso das autoridades no leste ucraniano a censos mais atualizados e a listas de eleitores. Por esse motivo, as autoridades locais foram obrigadas a valer-se de registros eleitorais mais antigos. O regime em Kiev também deve ser responsabilizado por essa falha e não apenas as autoridades locais da Ucrânia Oriental. Se o referendo não foi mais justo ou mais bem organizado, a responsabilidade cabe ao governo da junta neonazista de Yatseniuk.
Em Kosovo, na Sérvia, província predominantemente albanesa e onde não houve referendo, as posições da União Europeia e dos Estados Unidos foram totalmente diferentes e eles reconheceram a independência da província sem qualquer consulta ou votação popular.
Os ucranianos do leste, tomando suas próprias decisões, querem dissociar-se do regime de Kiev, imposto pelo golpe. E não se pode esquecer dos ucranianos ocidentais. Na metade ocidental do país, muitos ucranianos estão reféns das milícias e demais forças que sequestraram sua república.
A posição adotada pelos EUA e pela União Europeia, na Ucrânia 2014, envergonha o ocidente. *****
[1] Madhi Darius Nazemroaya - Autor premiado e analista de geopolítica, é autor de The Globalization of NATO (Clarity Press) e de trabalho a ser em breve lançado sobre a Guerra da Líbia e a recolonização africana. Também contribuiu para muitos outros livros, com temas desde a crítica cultural até relações internacionais. É sociólogo e pesquisador associado do Centro para Pesquisa sobre Globalização (Centre for Research on Globalization - CRG) e contribui com a Strategic Culture Foundation (SCF), de Moscou; também é membro do Scientific Committee of Geopolítica, Itália.
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