Por ANTONIO CARLOS LACERDA
BERLIM/ALEMANHA - Brasil é o 73º no ranking que mede percepção da corrupção no mundo. A nota do Brasil no Índice de Percepção de Corrupção, divulgado pela ONG Transparência Internacional, evoluiu ligeiramente, de 3,7 para 3,8, na comparação com o ano passado.
A nota, no entanto, ainda é baixa na escala que vai de 0 (muito corrupto) a 10 (muito limpo). Apesar da leve melhora, o Brasil caiu na listagem, de 69º lugar em 2010 para 73º lugar neste ano, entre os 182 países pesquisados.
A queda no índice se explica pela melhora, mais acentuada de outros países no último ano e pela entrada de outros na medição, como as Bahamas e Santa Lúcia, cuja colocação é melhor que a brasileira.
Na escala de 0 a 10, o Brasil obteve nota 3,8, ficando em 73º lugar entre os 182 países pesquisados pela organização Transparência internacional. A situação é praticamente estável em relação à lista do ano passado, quando o país obteve nota 3,7, ficando em 69º lugar.
O país mais bem colocado no ranking geral é a Nova Zelândia (9,5), seguida pela Dinamarca (9,4). Nos últimos lugares estão Somália e Coréia do Norte (ambos com 1,0).
Para o mexicano Alejandro Salas, diretor da Transparência Internacional para as Américas, a situação do Brasil é "estável" e deve servir como alerta para o país avançar no ranking, já que a nota brasileira ainda reflete uma grande percepção de corrupção.
Segundo ele, países como o Brasil e a Colômbia têm avançado muito no índice nos últimos dez anos, mas ainda é preciso melhorar.
"No Brasil, fala-se que há uma tolerância sobre corrupção. Eu vejo que às vezes o tema é colocado em segundo plano, dentro de um contexto de muito otimismo dos brasileiros em relação ao crescimento econômico e do novo papel que o país ocupa no mundo. Por outro lado, há iniciativas muito importantes da sociedade, como a lei da Ficha Lima", diz.
O índice é construído com base em dados de 13 instituições, como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial, que medem a percepção entre empresários, investidores e a população.
Salas explica que não é possível mensurar o nível de corrupção em si, uma vez que apenas parte das irregularidades vêem à tona por meio de escândalos na imprensa, por exemplo.
São consideradas na medição propina a autoridades, desvio de dinheiro público e a efetividade das leis anticorrupção no país.
No levantamento, dois terços de todos os países tiveram pontuação abaixo de cinco, o que indica alta percepção de corrupção nestes lugares.
Apesar das denúncias de corrupção no governo Dilma Rousseff e da saída de cinco ministros sob suspeitas de irregularidades, o índice praticamente não reflete variações na percepção de corrupção.
Segundo Salas, "o índice é feito principalmente a partir de pesquisa com empresários e investidores, sobre a relação do setor privado com o setor público", que não necessariamente reflete mudanças na cúpula governamental.
"Se fizéssemos uma pesquisa diretamente junto à população, a percepção seria maior", disse.
Apesar de estar no mesmo patamar da maioria dos países latino-americanos, a percepção da corrupção do Brasil é bem maior do que em vizinhos como o Chile (7,2, em 22º lugar) ou o Uruguai (7,0, em 25º lugar).
Segundo Salas, a boa performance do Chile se dá por um histórico de instituições fortes e respeitadas. "Eles têm uma Justiça profissional, com juízes de alta qualidade, e a polícia é respeitada pela população", diz.
"Em países como o México e o Brasil, temos instituições modernas e muita inovação. Há um setor privado que joga sob as regras internacionais. Ao mesmo tempo, temos outras instituições muito frágeis e práticas de décadas atrás, como a compra de votos e a distribuição de cargos públicos para parentes", diz.
No relatório, a Transparência Internacional ressalta que os protestos que vêm ocorrendo ao redor do mundo, em boa parte impulsionados pelo alto nível de corrupção, mostram a necessidade de os governos serem mais transparentes.
Na região, os países piores colocados são o Haiti (1,8, em 175º) e a Venezuela (1,9, em 173º).
O Brasil também é o país com a menor percepção de corrupção entres as quatro potências emergentes que formam originalmente o Bric (com Rússia, Índia e China).
O acrônimo pensando em 2001 pelo economista britânico Jim O'Neill, do banco Goldman Sachs, acabou virando um fórum institucionalizado, com a adesão da África do Sul no último ano (chamado então de Brics).
A situação do Brasil é melhor que a da China (3,6, em 75º lugar), Índia (3,1, em 95º) e Rússia, (2,4, em 173º).
"Mas o Brasil não deve se orgulhar por isso. Deve ver que há muito a avançar para alcançar o nível dos países desenvolvidos", alerta Salas.
ANTONIO CARLOS LACERDA é correspondente internacional do PRAVDA.RU
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