RESSENTIMENTO E REVANCHISMO

É natural que os antigos países socialistas que conseguiram estabilidade política e uma certa recuperação econômica - como Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria e Eslovênia - tenham se unido à grande comunidade político-econômica européia.

No entanto, a entrada dos três países bálticos denota uma forte incongruência da União Européia, em geral bastante preocupada com a questão dos direitos humanos em seus países membros: a Turquia, candidata à União já há muitos anos, nunca conseguiu se tornar membro por conta da repressão à minoria curda (que luta por sua independência) e pela existência da pena de morte em sua legislação.

No entanto, permite a entrada de três países que segregam, isolam e impedem uma minoria respeitável de suas populações, a de origem russa, de manter sua cultura e sua língua. Além disso, são países onde o passado de colaboração com o nazismo é camuflado como uma "luta nacional de libertação", os únicos países do mundo onde os veteranos da SS (as tropas mais fervorosamente nazistas, e encarregadas dos serviços mais sujos, como extermínios de civis e povos considerados inferiores) marcham orgulhosamente, e os que lutaram contra os nazistas, do lado dos soviéticos, são desprezados. Como países assim puderam entrar na União Européia? Eles são a grande vergonha desta comunidade.

Tudo isto se deve a um forte ressentimento dos bálticos em relação a tudo o que diga respeito à antiga União Soviética (inclusive à Rússia atual), e um forte sentimento de revanchismo, desejo de vingar-se pelos quase 50 anos em que foram membros da URSS. Revanchismo fortalecido ainda mais, agora que passaram a fazer parte da UE e da OTAN, e consideram-se países do grupo dos fortes e poderosos.

Em parte eles têm razão: seus países foram os únicos anexados à União Soviética, a maioria de sua população não desejava juntar-se a ela nem nutria nenhum entusiasmo pelo socialismo. Foi o maior erro político da URSS tê-los anexado: não só porque tiveram que lidar com uma população amplamente hostil (embora não rebelada), mas porque foram as repúblicas que mais fizeram pressão, no final da década de 80, pela sua independência, e foram efetivamente as primeiros a abandonar a União Soviética, abrindo um antecedente que levou a Rússia, a Bielorússia e a Ucrânia a fazerem o mesmo, poucos meses depois - e assim extinguindo definitivamente a URSS.

O que a União Soviética deveria ter feito com a Lituânia, a Estônia e a Letônia, após a Segunda Guerra Mundial, era o mesmo que ela fez com a Finlândia (outro país que colaborou entusiasticamente com os nazistas): instalar um governo simpático e próximo, mas preservar sua independência e não forçar-lhes a regimes socialistas (que a população em geral repudiava).

Deu certo com a Finlândia, que atualmente não tem mais nazistas em sua população, e tem boas relações com a Rússia. Provavelmente, se aplicado aos países bálticos, teria dado certo também.

No entanto, nada justifica o forte ressentimento e o revanchismo deste países: pois não foram brutalizados ou arrasados pela União Soviética, tiveram direito a manter sua cultura e sua língua (direitos que eles negam aos seus cidadãos de origem russa, hoje), e no final puderam obter sua independência de maneira pacífica, sem nenhuma tentativa da URSS de mantê-los à força.

Deveriam, no final das contas, ser gratos por isso. Afinal, a Alemanha foi arrasada durante a Segunda Guerra, dividida e ocupada pelos vencedores, mantida com soberania bastante limitada por décadas - e mesmo assim os alemães não têm nenhum ressentimento contra os russos. Muito pelo contrário, são os principais parceiros econômicos da Rússia na UE e um dos mais importantes aliados políticos, reconhecem o sacrificio soviético para destruir o nazismo, cuidam zelosamente dos monumentos e dos cemitérios soviéticos em seu território, e são gratos à URSS por ter permitido a reunificação do país em 1990.

É um povo que, sem rancores, se esforça por prosperar em paz e manter boas relações com seus vizinhos.

Os países bálticos, porém, não perdem nenhuma oportunidade de mostrar seu ressentimento e causar problemas à Rússia. Um caso recente é tão ridículo, que chega a ser cômico: um juiz da Letônia "intimou" a Rússia a entregar a cidade de Novosibirsk (a maior e mais rica da Sibéria) a seu país, como "indenização" pelas "destruições e sofrimentos" causados pela "ocupação" soviética. Ora, seria o mesmo que a Alemanha exigir a cidade de Volgogrado (atual nome da antiga Stalingrado) como "indenização" pelos danos causados pela URSS na Segunda Guerra Mundial.

Tal tipo de "sentença judicial", descabida, rídicula e absurda, revela um sentimento infantil da maioria da população destes países: o desejo de mostrar que agora são fortes e podem se vingar da Rússia, seja exigindo uma indenização sem sentido, seja glorificando seus veteranos da SS.

Seria ótimo que as populações e os governos dos países bálticos amadurecessem e tocassem suas próprias vidas sem ficarem procurando bravatas e fazendo mesquinharias. Ressentimento e revanchismo podem ser bons para os políticos que exploram um nacionalismo grosseiro, e assim tentam angariar mais apoio.

Mas são sentimentos que levam a conflitos e guerras: afinal, a causa principal da Segunda Guerra Mundial foi o desejo alemão de se vingar por sua derrota na Primeira. Provavelmente, Lituânia, Letônia e Estônia farão todo o possível para levar a UE e a OTAN a uma confrontação cada vez maior com a Rússia. Felizmente, é pouco provável que tenham êxito: França e Alemanha, os principais motores da UE, têm grandes interesses em manter boas relações com a Rússia. E mesmo os EUA, que gostam de fazer demonstrações de força, dificilmente estariam interessados em ser declaradamente hostis à Rússia - o Iraque já é um problema suficientemente grande para suas forças armadas.

Esperemos que, se houver pressão dos demais membros da União Européia, os países bálticos se tornem mais brandos e sensatos, passem a tratar equanimemente suas minorias russas, e comecem a ter boas relações com seu grande vizinho do leste. Carlo MOIANA Pravda.Ru Brasil

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