Iraque: é preciso legitimidade

Nos últimos dias, cerca de quinhentas pessoas perderam suas vidas no Iraque em ataques com bombas-carro, enquanto a Resistência Iraquiana continua a celebrar uma orgia de violência em resposta à invasão ilegal liderado pelos EUA e a formação do primeiro governo pós-Saddam.

Serão ataques terroristas contra o governo legítimo do Iraque ou serão as acções de libertadores que lutam contra o que entendem como um governo fantoche colocado por grupos Xiitas e Curdos pro-ocidente, que estavam à espera de se vingarem da predominância Sunita vivida sob o governo de Saddam Hussein?

Provavelmente nem uma coisa, nem outra. Dado que a maioria do povo iraquiano quer continuar com as suas vidas, encontrando um trabalho que garante pão na mesa e uma maneira de criar uma manhã mais sorridente para suas famílias, o elemento político tem relevância só para aqueles que vivem pela política ou pela espada.

Contudo, falar dum governo legítimo e legitimado é ignorar o facto que em termos gerais, a população Sunita não apoiou o novo executivo. Quão legítimo é um governo eleito por dois lados só dum triângulo?

Sair do impasse

As forças de segurança no Iraque, incluindo o exército norte-americano e seus poucos aliados, estão a aprender uma lição dura – que o pacote bonito e bem embrulhado apresentado pelos senhores de guerra, Bush, Cheney, Rumsfeld et alia, não existe. A visão dum ataque-relâmpago e uma capitulação do exército iraquiano, com os civis a receberem os americanos com flores e braços abertos e beijos, para a seguir estes tropas irem para casa, simplesmente não aconteceu. Os únicos braços abertos que se poderia encontrar estavam em Abu Ghraib, com um coitado em pé em cima dum balde com os seus testículos atados com arame.

Como dizíamos nesta coluna seis meses antes do ataque, senhores Bush e Blair iriam cometer o erro das suas vidas, que custou infelizmente as vidas de dezenas de milhares de pessoas inocentes.

Em termos percentuais, o sector da população iraquiano que levantou armas é pequeno mas suficientemente grande para causar graves problemas de segurança. Apoiados por um número substancial de mercenários e lutadores estrangeiros, decidiram tomar uma posição firme contra os EUA no Iraque porque foi no Iraque que Washington tomou aquele passo fora do aceitável, do círculo que determinava o que era justo. O Iraque é o ponto de incompetência de George Bush, sob o Princípio de Peter, que determina que uma pessoa irá subir até encontrar o ponto da sua queda ou estagnação.

A campanha foi um desastre. Primeiro não houve guerra nenhuma porque o exército iraquiano desapareceu e a campanha norte-americana foi gerida com demasiada arrogância, falta de perspicácia, subestimação dos recursos do inimigo, com práticas abomináveis em termos humanitários e militares e ainda por cima, terminou em casos de tortura e desrespeito pela vida humana, enquanto foi quebrada a Convenção de Genebra amiúde.

Como em todas as situações onde a perda de vida humana não pode entrar em qualquer equação, contrabalançada por vantagens ganhos, tem de haver uma mudança de estratégia. Reinstalar Saddam Hussein como Presidente já não é opção porque o equilíbrio que o mantinha no seu lugar foi destruído.

Hoje, a situação é tão caótica como era quando Saddam Hussein chegou ao poder num mar de violência, antes de ser apoiado por Washington como a força estabilizadora na região.

A continuação da presença militar norte-americana em terra árabe e iraquiana vai servir de combustível para as chamas do ódio e visto que as forças de segurança norte-americanos e iraquianos não conseguem inverter a situação (500 mortes fala por si), é evidente que tem de haver outra maneira de estabelecer a lei.

Uma possibilidade seria o retiro dos tropas norte-americanos e seus aliados, antes que hajam mais mortes e um processo de diálogo com a ONU e a Liga Árabe sobre a melhor maneira de auxiliar as forças de segurança iraquianas, enquanto ao mesmo tempo se convence as entidades atrás da Resistência Iraquiana a baixar a espada agora que o norte-americano foi para casa.

Acto ilegal de guerra justifica actos de terrorismo

Que belo epitáfio para a política externa de George Bush que ele veio ao Iraque na crista duma onda de mentiras acerca de Bagdade apoiar o terrorismo internacional e logo a seguir criou uma situação em um mar de terroristas jorrou pelas fronteiras dentro.

Foi o George Bush que colocou o terrorismo internacional na mapa do Iraque. Em atacar o país ilegalmente (se a Segunda Resolução da ONU não era preciso, por quê é que Washington gastou tanta energia em procurá-la?) George Bush dá a todos os terroristas em toda a parte a perfeita desculpa para lançar seus ataques: qual é a diferença entre um civil norte-americano a ser assassinado por um piloto árabe e um civil árabe a ser assassinado por um piloto norte-americano?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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