EUA: ATIRAR PRIMEIRO, PERGUNTAR DEPOIS

Depois de assassinar um agente italiano e uma ex-refém, fica claro quem são os verdadeiros terroristas.

A jornalista italiana Giuliana Sgrena, do periódico comunista italiano Il Manifesto, foi seqüestrada em Bagdá em 5 de fevereiro deste ano. Era um alvo fácil: diferente da maioria dos jornalistas europeus e norte-americanos, Sgrena não escrevia seus artigos trancada num quarto de hotel fortemente guardado, mas saía para conhecer a situação real iraquiana, conversava com a população e não tinha nenhum tipo de escolta. Depois de um mês de seqüestro, foi libertada pacificamente por seus captores, depois de uma negociação direta com o governo da Itália. O resto é bastante conhecido: depois de libertada, indo de carro com agentes do serviço secreto italiano, tropas estadounidenses abriram fogo, e Sgrena só sobreviveu porque o agente Nicola Calipari a protegeu, cobrindo-a com seu próprio corpo.

Mas na página de “Il Manifesto”, num artigo em inglês, Giuliana Sgrena conta fatos importantes que a imprensa em geral não revela. Segundo ela, os captores a avisaram que seria libertada, mas disseram: “Nós te levaremos, mas não dê nenhum sinal de sua presença, senão os americanos podem intervir.” Ela disse não ter levado a sério essa advertência, até seu automóvel ser metralhado perto do aeroporto. Além do mais, os agentes teriam gritado várias vezes que eram italianos (ou seja, aliados, pois o governo de Silvio Berlusconi é um dos poucos que apoiaram a invasão e mantém tropas). Segundo Sgrena, os EUA não queriam que ela voltasse a Roma com vida.

A invasão e ocupação do Iraque é indubitavelmente um dos crimes mais abomináveis depois da Segunda Guerra Mundial. Quem são os verdadeiros terroristas: seus seqüestradores, que mantiveram Sgrena com dignidade e a libertaram pacificamente, ou as tropas “amigas” dos EUA, que fuzilaram seu automóvel e mataram um agente italiano? Os soldados dos Estados Unidos, sob o pretexto de levar a liberdade e a democracia ao Iraque, mantém a população desse país em um regime de terror muito pior que o de Saddam Hussein: qualquer um pode ser vítima. A qualquer momento uma pessoa comum pode ser metralhada por soldados, presa, torturada, ter sua casa invadida ou bombardeada. E, segundo o decreto 17 da coalizão que invadiu e ocupou o Iraque, nenhum soldado estrangeiro pode ser detido por autoridades iraquianas, não tendo que responder por seus atos, por mais hediondos que sejam. Onde está a soberania do governo “democraticamente eleito”?

Segundo a agência France Presse, um funcionário de um hospital de Bagdá disse que uma média de 50 civis morrem por mês vítimas das tropas da coalizão. As forças armadas simplesmente não admitem a maioria dessas mortes, apenas indenizam uns poucos casos que chegam à imprensa.

Enfim, depois de tudo isso, o governo de George W. Bush tem a cara de pau de fazer uma lista de países onde os direitos humanos não são respeitados, e acusar outros de genocídio, tirania, repressão, ausência de imprensa livre. Carlo MOIANA Pravda.ru Buenos Aires

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