A SÍNDROME DO BÁLTICO SE ESPALHA

A Síndrome do Báltico é a doença política que começou afetando as antigas repúblicas bálticas da União Soviética: Lituânia, Letônia e Estônia. Seus sintomas são a russofobia desmedida, o horror a tudo aquilo que venha da Rússia (inclusive o idioma), e o revanchismo contra esse país, pois consideram-no culpado de ter "invadido" e "anexado" seus países (enquanto os nazistas são hoje saudados por serem "libertadores").

Agora, com o patrocínio da União Européia e dos Estados Unidos, essa síndrome começa a se espalhar: o candidato (derrotado) a presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko, está seriamente contaminado por ela.

Se ganhar na nova votação, convocada para 26 de dezembro depois de alegações ocidentais de fraude, ele provavelmente seguirá o caminho da Lituânia, da Letônia e da Estônia: fará com que seu país entre na OTAN, assinará acordos para um futuro ingresso na União Européia, cancelará os acordos de livre-comércio e de regime sem vistos com a Rússia, e talvez mesmo imite os países bálticos na proibição da língua russa.

Porém, a Ucrânia não é um país báltico: há uma enorme população de origem e fala russa, no leste (a parte mais desenvolvida e populosa do país) e no sul (principalmente na Criméia, região com maior autonomia), que simplesmente não aceitará passivamente tais atos. Eles não têm tanto dinheiro quanto Yushchenko, que o recebe dos EUA e da UE, mas podem mostrar sua insatisfação, e com certeza o farão.

Yushchenko, caso chegue ao poder, será um presidente apoiado apenas pelo oeste de seu país (agrário e de população esparsa), e no mínimo terá graves problemas de legitimidade. Ele é uma ameaça à estabilidade da Ucrânia.

A imprensa ocidental (América Latina inclusa) insiste em dizer que Viktor Yanukovitch, primeiro-ministro ucraniano e presidente eleito, é pró-russo. Não é. Yanukovitch é apoiado pelo presidente russo, Vladimir Putin, mas simplesmente porque Yushchenko, seu adversário, é um fanático anti-russo. A Rússia escolheu Yanukovitch não por ele mesmo, mas simplesmente para opor-se a Yushchenko.

Yanukovitch também não é "anti-ocidental", como dizem: o atual governo da Ucrânia (do qual ele é primeiro-ministro) apoiou a invasão do Iraque e mantém tropas neste país, como ajuda a Bush.

Yanukovitch jamais fará como Aleksandr Lukashenko, presidente da Bielorússia, que praticamente fundiu seu país com a Rússia. A Ucrânia, sob o governo de Yanukovitch, continuará a atual política neutra em relação à Rússia, de um lado, e aos EUA e à União Européia, de outro: eventualmente apoiará um ou outro, mas nunca se colocará completamente sob a tutela de qualquer parte. Só assim é possível ter uma política aceitável para as populações ocidental e oriental da Ucrânia, embora sem satisfazer completamente nenhuma delas.

Mas sem dúvida, Yushchenko é melhor para os EUA e a UE: por isso o apoio é tão explícito, e as reclamações foram tão veementes quando de sua derrota no pleito de 21 de novembro. A imprensa ocidental construiu a imagem dos partidários de Yushchenko como pessoas que lutam por sua liberdade, e que foram espontaneamente às ruas (apesar do frio intenso) mostrar sua insatisfação.

Mas é curioso como, antes mesmo de saírem os resultados oficiais (apenas preliminares que indicavam uma ligeira vantagem de Yanukovitch), milhares de pessoas já estavam viajando para a capital, Kiev, e centenas de barracas estavam sendo montadas na praça da Liberdade, inclusive refeitórios e telões gigantes de plasma. Como toda essa cara infra-estrutura apareceu de repente, espontaneamente?

Com certeza, Yushchenko já tinha tudo preparado, com o apoio dos EUA e da UE. Foi um golpe premeditado: se Yushchenko ganhasse as eleições, ótimo, o pleito seria considerado válido, democrático e justo. Mas se não ganhasse (o que ocorreu), já tinham tudo pronto para armar um grande circo e mostrar a "farsa" das eleições ucranianas.

Trazer milhares de pessoas de suas cidades (quase todas do oeste da Ucrânia, onde se concentram os partidários de Yushchenko), mantê-las acampadas em uma praça, pagar-lhes diárias, alimentá-las e dar-lhes roupas de inverno não é um gasto pequeno, e seria impossível sem dinheiro ocidental. Estamos presenciando na Ucrânia o mesmo que ocorreu na Geórgia, há um ano: a deposição de um presidente e sua substituição por outro, radicalmente pró-ocidental, com o patrocínio dos países "defensores da democracia": EUA e UE.

Depois de todo o circo, com ampla cobertura dos meios de comunicação ocidental, que incluiu até ações radicalmente anti-democráticas, como a cerimônia burlesca de posse de Yushchenko e o bloqueio de edifícios governamentais, não restou outra solução a não ser cancelar a votação e convocar uma nova. Mas fica a pergunta, para Yushchenko e seus patrões nos EUA e na UE: e se Yanukovitch ganhar outra vez? Convocarão uma terceira votação, alegando "novas fraudes"? Ou simplesmente abandonarão os pudores democráticos, e darão um golpe de estado descaradamente?

Putin, por sua vez, não está disposto a ficar de braços cruzados e simplesmente aceitar uma Ucrânia membro da OTAN e da UE: foi pego de surpresa no caso da Geórgia, e de qualquer maneira a Geórgia é muito menos importante do que a Ucrânia. Além disso, ele sabe que isso é só o começo: primeiro foi a Geórgia, agora é a Ucrânia; depois será a vez da Bielorússia, da Ásia Central e dos demais países do Cáucaso. Os EUA e a UE estão dispostos a cercar e isolar completamente a Rússia. E uma vez concretizado este plano, é possível que eles iniciem o desmembramento da própria Rússia: passarão a ajudar mais ativamente os radicais tchetchenos, que agora só recebem apoio político, dando-lhes armas e dinheiro, e a incentivar outros movimentos separatistas. É preciso deter este plano enquanto ele ainda está no começo, antes que seja tarde demais. E Putin tem agido corretamente, na defesa dos interesses não só de seu país, mas de todos os da Comunidade de Estados Independentes e até do resto do mundo: ele não está se esforçando por reconstruir o "império" russo, pois a Rússia não quer anexar nenhuma das antigas repúblicas soviéticas, mas está lutando contra um plano de hegemonia mundial. Esperemos que Putin tenha sucesso.

Carlo MOIANA Pravda.Ru Brasil

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