As verdadeiras vítimas da África – suas mulheres

Nos últimos dez anos, as mulheres passaram das margens da epidemia de AIDS para o epicentro, apesar do facto que, de modo geral, não têm mais parceiros sexuais fora do casamento que os homens e apesar do facto que de modo geral, não é provável que se injectem com drogas.

Violência sexual, prostituição causada pela pobreza, falta de educação: as três razões atrás das estatísticas emitidas pela ONU esta semana, que mostram claramente que há dez anos atrás, as mulheres constituíam 38% das vítimas de AIDS. Hoje, na África, 58% das vítimas são do sexo feminino e no grupo etário de 15 a 21 com AIDS, há duas vezes mais moças que rapazes.

O relatório da ONU foi feito pela UNIFEM, o Fundo das Nações Unidas para Mulheres, que afirma que estupro, mutilação genital feminina, violência doméstica, ignorância e medo são as razões pela maioria de casos de AIDS entre a população feminina, tornando as mulheres e moças africanas mais prováveis a serem vítimas desta doença do que os homens, apesar do facto que “normalmente não são elas que têm mais parceiros sexuais fora do casamento, nem é provável que a se injectem com drogas”, disse Kofi Annan no dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher.

De acordo com o relatório, a injustiça irá continuar e a percentagem de mulheres africanas vítimas de AIDS continuará a subir se os homens não assumirem sua responsabilidade, se não garantirem a educação das suas filhas, se não pararem de ter relações sexuais com moças muito mais jovens e se não começarem a entender que o estupro doméstico é um crime, não um direito.

Noerine Kaleeba, que perdeu o marido por causa de AIDS, mãe de 5 crianças e mãe adotiva de outras 14, conselheira para o programa da ONU de HIV/AIDS, disse no Painel Mulheres e AIDS na segunda-feira em Nova York que as mulheres precisam de informação, educação, emprego e protecção. “As moças não dormem com homens mais velhos porque acham que é seguro. Elas fazem-no para pagar propinas de escola ou para substituir a figura do pai que elas perderam”, acrescentando que “Os profissionais de relações humanas não concordam a ter relações sem preservativo porque não sabem os riscos. Elas fazem-no porque são pagas cinco vezes mais que recebem por relações com preservativo”.

Lesoto é um exemplo do drama em que milhões de africanos se encontram. Em 2004, é previsto que o país irá produzir somente 10% das colheitas que precisa, devido a três anos consecutivos de seca e a comunidades devastadas por AIDS. 31% dos adultos ou são seropositivos ou têm AIDS. 17% das crianças são órfãos devido a AIDS.

Se o ciclo continuar, cada vez mais moças irão ser esforçadas a entrar na prostituição para alimentar suas famílias, pagar as propinas de escola dos irmãos, ou simplesmente irão ser estupradas por homens mais velhos porque estes acham que têm esse direito – porque são homens.

Entretanto, o que faz o mundo “desenvolvido” para proteger as mulheres e moças africanas? Deita bombas sobre civis no Iraque?

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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