Imagem do "Camp Delta" na base de Guantánamo (Michelle Shephard / AFP)
O último preso britânico, Shaker Aamer, afirma que os guardas batem nas portas à noite para privar os prisioneiros de sono
por The Observer
Por Mark Townsend
Os detidos no campo americano na baía de Guantánamo estão sendo expostos a técnicas de privação de sono cada vez mais brutais, em que as portas de suas celas seriam batidas pelos guardas até 300 vezes por noite.
Segundo Shaker Aamer, o último interno britânico no campo, um guarda lhe disse que estava cumprindo ordens ao fazer o máximo de ruído possível enquanto os prisioneiros -- muitos deles em greve de fome -- tentavam dormir.
Aamer, 46 anos, disse em uma carta escrita na semana passada: "Ele admitiu para mim: 'São minhas ordens andar de um lado para outro à noite toda'. Eles bateram nas portas entre 250 e 300 vezes à noite, mantendo-nos acordados, e continuaram até cerca de 9 da manhã -- depois, silêncio".
Uma teoria é que a escalada do comportamento agressivo faz parte da preparação do campo para alimentar os detidos à força durante o Ramadã.
As autoridades americanas afirmaram que pretendem aplicar a alimentação forçada somente durante a noite, para não interromper o jejum diurno que é a característica principal do mês do Ramadã. No entanto, ainda não disseram como vão implantar a alimentação noturna em meio a preocupações de que a prisão possa se tornar "uma verdadeira fábrica de alimentação forçada" durante o período religioso.
Advogados dos detidos dizem que dezenas de cadeiras de imobilização e centenas de funcionários poderão ser necessários para realizar a alimentação forçada de 45 detentos nas dez horas entre o pôr-do-sol e o amanhecer, com cada pessoa exigindo uma hora para se alimentar e quatro horas de observação.
Clive Stafford Smith, diretor da Reprieve, que passou a última semana em Guantánamo, disse: "É inacreditável que os militares americanos se esforcem tanto para esmagar a greve de fome, quando poderiam encerrá-la amanhã transferindo os prisioneiros já liberados. "É especialmente revoltante que o porta-voz da JTF-GTMO [Força-Tarefa Conjunta Guantánamo] chame a alimentação forçada noturna durante o Ramadã de privilégio, e não de um direito."
Em uma carta para Stafford Smith, seu advogado, Aamer também explicou que tinha sido confrontado em outras questões religiosas. Aamer, cuja família vive no sul de Londres, explicou que guardou seu Corão em um saco plástico durante mais de três anos para protegê-lo da sujeira e da água e impedir que os guardas o tocassem.
No entanto, afirmou que as autoridades lhe disseram que teria de devolver o saco plástico. "Eu disse a eles que não podia guardar meu Corão sem protegê-lo da polícia militar e de outros danos, por isso eles teriam de levar o saco e o Corão, se necessário.
"Afinal eles se recusaram a permitir que eu mantivesse o saco, e eu tive de abandonar meu Corão. Então eles chamaram o tradutor muçulmano e tiraram o Corão de mim. Esse foi o fim de mais um dia naquele lugar terrível."
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Fonte: Carta Capital
http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=3463ba87bdc01378649630ed94f57eef&cod=11949
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