A hora da verdade

Por Aristóteles Drummond

Na economia, não existem milagres. Pode ocorrer, por sorte, ajudas em função da elevação dos preços de um ou outro produto de boa presença na pauta de exportações e se obter ganhos não programados. No entanto, estabilidade e sustentabilidade numa economia em crescimento só é possível com rigoroso respeito a contratos, direitos adquiridos, condições pactuadas, austeridade, evolução permanente na política fiscal, agregando ferramentas mais modernas para ampliar a base. Isso tudo, claro, sem onerar o produtor ou prestador de serviços, como o comércio.

No mundo dos avanços na tecnologia, a burocracia sobrevive pelo corporativismo, pela má fé, pela manobra política. O computador, hoje, tudo pode controlar, evitando a fraude, a manipulação ou o abuso do agente público.

O Brasil não aproveita do bom momento que viveu até aqui, como "estrela" de investidores em busca de oportunidades. Ainda pode reverter, especialmente se olhar para o que ocorre nos vizinhos Argentina, ao sul, e Venezuela, ao norte. O caminho a ser percorrido, certamente, não é o deles, onde a imprensa é alvo de pressões e a economia de intervenções. A luz amarela já foi acesa.

Portugal, apesar da presença nas ruas dos baderneiros de sempre, vem conquistando credibilidade e cumprindo as metas determinadas para pagar o endividamento fruto da leviandade dos governos socialistas, que antecederam a atual coligação de centro-direita no poder. E, assim, vai vendendo ativos desnecessários, como redes de hospitais de gestão privada, a TAP, os aeroportos, que são ineficientes em função de um sindicalismo agressivo e viciado em greves. Ali, a gestão privada deve trocar todo o quadro de pessoal que não tem mais como se enquadrar na realidade do mundo competitivo e moderno.

Nada temos feito de confiável para atrair investimentos com segurança. Pelo contrário, estamos vivendo de remendos, como essa novela de prorrogações de isenção para o setor automotivo, que merece uma carga menor e permanente. A reforma tributária é, mais do que nunca, urgente e deve ser feita com coragem e determinação. As licenças ambientais têm de ser rápidas e atendendo ao bom senso. O país vai se tornando inviável em função da série de obstáculos a quem se proponha a fazer alguma coisa.

Não dá para entender essa situação de perplexidade e de otimismo, quando os números são preocupantes e o clima está mudando em relação ao país. Os prejuízos de nossas empresas - decorrentes de restrições unilaterais e sem aviso por parte da Argentina, por exemplo - não pode virar uma bola de neve. E o turismo nacional, cuja temporada se inicia no final do ano, tem um terço de seu mercado oriundo de nossos "hermanos", que com as restrições de compra de divisas deve cair e muito.

*Aristóteles Drummond, jornalista, é vice-presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro.

 

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