Sergio Dias Teixeira Junior*
A abertura mercadológica da década de 90 promoveu um crescimento econômico sem precedentes para o país.
É inegável que a modificação na condução da política econômica internacional do país alterou significativamente a postura do empresariado brasileiro mudando a visão de negócios que havia até então.
A competitividade internacional no Brasil era questionável uma vez que vários setores industriais brasileiros permaneciam confortáveis sob o manto protecionista dos governos passados.
A política de comércio exterior e cambial da época dificultavam o investimento em tecnologia de ponta e marginalizavam alguns setores da economia, que poderiam ter uma participação mais significativa na corrente do comércio exterior brasileiro e cujo resultado foi o sucateamento de grande parcela do parque industrial do país.
Foi com a abertura mercadológica, produzida pelo ex governo Fernando Collor de Mello, que o cenário se alterou sensivelmente, com maior evidência nas exportações, criando inúmeras oportunidades de negócios e promovendo a inserção de novos exportadores neste mercado promissor.
Com base na nova realidade econômica internacional do país, faz-se necessário destacar os principais indicadores da balança comercial com o intuito de comentar o Panorama das Exportações Brasileiras.
Segundo dados estatísticos divulgados no site do Ministério da Indústria Desenvolvimento e Comércio Exterior as exportações brasileiras, de 1999 a 2009, cresceram 218,65% apesar da redução de 22,7% em relação ao ano de 2008.
O Brasil está em 22º lugar na lista dos maiores exportadores do mundo tendo atingido a cifra de US$ 153 bilhões no ano passado.
O saldo comercial, que traduz a diferença entre o resultado das exportações e importações brasileiras, teve uma evolução da ordem de 1630,2% no período de 2001 a 2006, apesar de estar em declínio a partir de 2007.,
De 2006 a 2009 a queda no saldo comercial foi da ordem de 45,436%, fato este atribuído ao crescimento das importações brasileiras e mais recentemente a crise financeira mundial no 2º semestre de 2008.
As exportações brasileiras, apesar da sua evolução contínua a partir de 2000, apresentam uma participação ínfima se comparadas as exportações mundiais com aproximadamente 1,28% em 2009.
A representatividade das exportações brasileiras, no produto interno bruto, tem se comportado de forma decrescente a partir de 2005 atingindo 9,72% em 2009.
As exportações mensais do ano passado foram inferiores se comparadas a 2008 devido a crise financeira internacional chegando em dezembro passado ao mesmo patamar dos valores do final de 2008.
O universo das empresas exportadoras brasileiras, que a partir de 2004 mantém uma média aproximada de 20.814 empresas, revela um dado interessante no que diz respeito aos seus respectivos portes, pois 48,3% das participantes são micros e pequenas empresas.
O restante está dividido entre pessoas físicas, médias e grandes empresas nas quais estas últimas representaram 94,2% do valor total exportado pelo país no ano de 2008.
No que tange as micros, pequenas e médias empresas, estas participaram com 1,2% e 4,5% respectivamente do valor exportado no referido ano.
Essa tendência tem prevalecido a anos no Brasil fazendo com que a concentração de exportações nas grandes empresas represente um dado preocupante já que se trataram de, aproximadamente, 5.508 empresas em 2008.
Também evidencia uma política de comércio exterior claramente direcionada as indústrias de grande e médio portes em detrimento do número maior das micros e pequenas empresas e que não tem acesso aos incentivos do governo devido a razões de ordem burocrática dentre outras.
Com relação as exportações por valor agregado, no ano de 2009, o Brasil vendeu ao exterior uma pauta diversificada de produtos dos quais 44,% são manufaturados, 40,5% de básicos e 13,4% de semimanufaturados.
Se a princípio essa informação é saudável para o país, precisa ser analisada com mais cuidado do ponto de vista qualitativo pois não se refere, necessariamente, a itens de alta intensidade tecnológica. Pelo contrário, a concentração de itens exportados está localizada em mercadorias de baixa e média-baixa intensidade tecnológica cuja participação percentual chegou 65,3% em 2009.
Os cinco estados brasileiros com maior representatividade nas exportações de 2009 estão localizados nas regiões Sudeste e Sul. A participação acumulada deles chegou a 66,66% em 2009 com destaque para São Paulo com 27,76% desse total.
Ao se verificar a participação dos demais estados da União percebe-se que as regiões Centro Oeste, Norte e Nordeste não tem expressão significativa nas exportações do país contudo, alguns dos estados que mais cresceram nas exportações em 2009, comparativamente a 2008, estão nas referidas regiões.
Mais uma vez nos deparamos com uma realidade perigosa que denota a deficiência de uma Política de Comércio Exterior mais equilibrada no país pois acaba privilegiando as regiões mais ricas.
China, Estados Unidos e Argentina foram os destinos de quase um terço das exportações brasileiras em 2009.
O Brasil tem feito esforços para pulverizar as suas exportações e diminuir a dependência dos países denominados tradicionais, através do crescimento constante no destino das vendas internacionais direcionadas a países tais como Bahrein, Benin, Luxemburgo, Moldavia, Madagascar, Montenegro e outros.
Do ponto de vista regional, a Asia foi o destino de 25,8% das exportações brasileiras.
A América Latina e Caribe representaram 23,3% do destino das exportações brasileiras em 2009, dos quais o Mercosul obteve o percentual de 10,3%.
Para a União Européia o Brasil destinou 22,2% do total exportado no ano passado, o que somado a América Latina e Caribe chega a 45,5% das exportações brasileiras para as duas regiões.
Após apresentar os dados do Ministério da Indústria Desenvolvimento e Comércio Exterior, fica fácil entender o Panorama das Exportações Brasileiras e as deficiências nas políticas de comércio exterior conduzidas pelo governo.
Não resta dúvida de que o governo muito contribuiu para uma mudança positiva das exportações brasileiras, porém há muito o que se fazer para obter-se uma performance mais satisfatória nas vendas internacionais. Uma delas se refere a promoção de políticas de comércio exterior direcionadas as micros e pequenas empresas uma vez que estas possuem uma realidade distinta das demais.
Também é necessário repensar o desenvolvimento dos estados brasileiros do ponto de vista das exportações, a fim de potencializar seus resultados de acordo com suas regionalidades.
Por fim o governo precisa continuar estimulando a participação de mais empresas no comércio exterior brasileiro, particularmente nas exportações, através de processos contínuos de desburocratização e investimentos em infraestrutura preparando o país para os novos desafios que virão mas que, com certeza, abrirão novas perspectivas de crescimento econômico.
* Sergio Dias Teixeira Junior é especialista em comércio exterior, docente de comércio exterior e logística internacional do UNIFIEO e da UMC - Universidade Mogi das Cruzes e membro do Grupo de Estudos de Comércio Exterior GECEU (UNIFIEO).
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