Demissão de Mazen fecha ciclo natural

Mahmoud Abbas, conhecido por Abu Mazen, demitiu-se no Sábado, demissão essa que foi aceite hoje pelo Presidente Yasser Arafat. Nomeado após pressão exercida pelos EUA e Israel, Mazen nunca conseguiu ganhar os poderes que necessitava por uma razão simples: não contava com o apoio do povo palestiniano.

Nomeado em 29 de Abril por Yasser Arafat, após a insistência dos Estados Unidos da América e Israel que a Autoridade palestiniana tivesse um Primeiro Ministro executivo, relegando o líder histórico para o segundo plano, Abu Mazen representava a ala pacífica, considerada aceitável por Washington e Tel Aviv.

Nasceu em Safed, tornando-se refugiado quando o estado de Israel foi criado em 1948 e estudou em Damasco e Moscovo, doutorando-se aí em história. Foi co-fundador da Fatah, principal facção na Organização de Liberdade da Palestina, juntamente com Arafat, em 1965. Abu Mazen, pode dizer-se, foi ao longo dos anos o motor para a paz na Autoridade Palestiniana

No entanto, nunca contou com o apoio do povo palestiniano, a grande maioria do qual continua a considerar Yasser Arafat seu líder. Foi esta situação a base da decisão de Abu Mazen se demitir este final de semana, antes que recebesse uma moção de falta de confiança do parlamento.

As divisões dentro do movimento palestiniano fazem com que este seja mais um conjunto de facções do que um movimento coeso, sendo Yasser Arafat há décadas o ponto de equilíbrio que serve como cimento entre as partes. Foi aí o grande erro dos Estados Unidos da América e Israel, nomeadamente os governos de Bush e Sharon, a tentarem circum-navegar o que era inevitável: a presença de Arafat.

O resultado agora é que o principal interlocutor do processo de paz, Abu Mazen, simplesmente deixou de existir de sexta para segunda-feira. Yasser Arafat, ele próprio a favor de paz, mas não a qualquer preço, entende que tem de satisfazer todos os palestinianos para qualquer acordo de paz ter êxito. Se não o fizer, a sua posição como Presidente seria insustentável.

Arafat já nomeou Ahmed Korei, conhecido por Abu Alá, para formar novo governo, mas este ainda não aceitou o cargo. Abu Alá, como Abu Mazen, é um moderado, tendo sido Presidente do parlamento Palestiniano desde 1996.

Ou Abu Alá continua o rumo de Abu Mazen, ou o processo de paz vai fracassar. Se Israel se recusa negociar com Arafat, culpando-o pela violência, retira dele o poder e gravitas que precisa para controlar os grupos extremistas (Hamas, Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, Jihad Islâmica) e a tentativa no Sábado de assassinar o líder espiritual de Hamas, Sheikh Ahmed Yassin, só vai incitar estes a mais violência.

Para complicar a situação ainda mais, Israel considera agora a expulsão de Yasser Arafat do seu território, que seria um acto de arrogância propício a gerar mais violência mas no entanto providenciando a Arafat o estatuto de vítima que lhe trará o apoio internacional que precisa.

Sendo Arafat o que detém poder real na Autoridade palestiniana e por isso o que constitui o ponto de equilíbrio, quer que Washington e Tel Aviv gostem ou não, um facto inegável é que ele é a pessoa com quem negociar. Esforçá-lo a nomear este ou aquele como Primeiro-Ministro, que não tenham a base de apoio do seu povo, é prolongar o jogo das cadeiras perigosamente e renunciar às normas de democracia, o que o regime de Bush faz amiúde.

A verdade é simples e muito clara: Yasser Arafat é o representante democraticamente eleito do seu povo e ponto final.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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