O conto de dois Peronistas

Pela primeira vez na historia da Argentina, haverá uma Segunda volta nas eleições presidenciais, depois de na primeira volta, Carlos Menem, presidente da Argentina entre 1989 e 1999 Ter segurado 24% da votação, enquanto Nestor Kirchner, Governador do Estado de Santa Cruz, obteve 22%. Dado que nenhum candidato chegou aos 45% necessários para vencer, haverá uma Segunda volta em 18 de Maio.

Apesar dos dois candidatos serem oriundos do partido Peronista, representam dois pontos de vista opostos sobre os assuntos internos e internacionais. O programe do Menem baseia-se nas políticas neo-liberais que implementou na década de 1990 e num alinhamento estreito com Washington na política externa, Nestor Kirchner favorece uma mistura neo-Keynesiano na política económica e uma abordagem que realça o papel da América latina nos assuntos internacionais.

Nestor Kirchner teve o apoio do governo interino, liderado por Eduardo Duhalde, que temia que o terceiro candidato, Ricardo Lopez Murphy, doa coligação conservador Recrear, conseguiria o segundo lugar mas acabou por receber apenas 17%. Em quarto lugar ficou Elisa Carrio, líder na coligação centro-esquerda, Argentinos para uma República de Iguais, com 15% e em quinto, ficou o terceiro candidato Peronista, Adolfo Rodriguez Saa, com 14%.

Não houve muita celebração em Buenos Aires depois das estações de TV terem declarado o resultado, pois não há muito a celebrar mas antes, há bastante para analisar.

Em primeiro lugar, é muito difícil entender como foi possível o Carlos Menem ficar em primeiro lugar, visto que há 16 meses estava sob o regime de prisão domiciliário por corrupção e tráfico de armas. Muitos naquela altura disseram que a sua carreira política estava terminada. Contudo, na caos de 2001, muitos viam em Menem uma hipótese de voltar à estabilidade da década de 1990. O principal apoio de Menem provém do elite da sociedade, ligado aos mercados financeiros e os mais pobres das grande cidades.

“Votei por Menem porque eu sei que ele fez mal durante a sua presidência mas confio nele e desta vez, ele irá ajudar-nos”, declarou à Pravda.Ru uma mulher de 62 anos, de nome Maria, residente em La Matanza, uma das zonas mais pobres de Buenos Aires. Os votantes como a Maria pensam que Menem pode fazer um milagre e restaurar a economia do país, saindo da sua pior crise social de sempre. Desde que Menem deixou da presidência em 1999, o número de pessoas a viver abaixo da linha de pobreza aumentou 20%; no entanto, muitos dos problemas que afectaram o país têm as suas origens na presidência de Menem.

Durante a semana antes das eleições, muitos eventos ocorreram na Argentina a favor da candidatura de Nestor Kirchner. Começando como o candidato favorito do governo de presidente Duhalde, Kirchner apareceu imediatamente em segundo lugar nas sondagens, atrás do Menem. Isto galvanizou as forças perto dos mercados financeiros e começaram a circular sondagens estranhas, com Kirchner em terceiro lugar, atrás de Menem e Lopez Murphy. Este facto trouxe muitos votos para Kirchner porque poucas pessoas queriam uma eleição disputada entre os dois candidatos a favor duma abordagem pro-mercado da política económica.

Assim o cenário deve frustrar a tentativa de Menem vencer as presidenciais pela terceira vez, porque Nestor Kirchner tem o apoio de metade do partido Peronista, o governo nacional e a classe média, forte mas empobrecida pelas políticas de Menem na década passada.

Alguns analistas afirmam que o resultado poderia ser igual à eleição de Chirac, que venceu Le Pen com 80% do voto. Seja como for, os argentinos Terão de saber escolher entre as políticas neo-liberais de Carlos Menem e uma mistura de inversão pública e industrialização nacional promovida por Nestor Kirchner.

Uma guerra de declarações sobre a segunda volta:

“Será uma formalidade, visto que vamos vencer facilmente” (Carlos Menem, da sua sede no Hotel Presidente, no centro de Buenos Aires).

“Nós confiamos que os argentinos irão escolher um programa baseada na produção nacional e a administração certeira das contas públicas” (Nestor Kirchner, da sua sede em Rio Gallegos, capital da Santa Cruz, no sul do país).

“Agradecemos os nossos apoiantes. Fizemos uma eleição ótima sem recursos financeiros. Não iremos fazer alianças mas não vamos votar em favor do Menem” (Elisa Carrio, depois de anunciar que irá criar um movimento de centro-esquerda mais ampla).

“Apesar da crise, Argentina conseguiu encontrar uma maneira pacífica de abordar estas eleições presidenciais, graças ao empenho de Presidente Duhalde, que prometeu eleições claras e preparou o processo da normalização das nossas instituições” (Roberto Lavagna, Ministro da Agricultura, que apoiou Nestor Kirchner).

Hernan ETCHALECO PRAVDA.Ru BUENOS AIRES ARGENTINA

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