Igor Ivanov: A Segurança Internacional na Época da Globalização

Passados mais do que dez anos desde o fim da guerra fria, o mundo espera uma nova ordem mais segura, numa altura em que a ameaça nuclear foi substituído por outros desafios: terrorismo, separatismo, outras formas de extremismo, narco-tráfico, delinquência organizada, conflitos regionais, a proliferação de armas de destruição maciça, crises financeiras e económicas, catástrofes ecológicas e epidemias.

A globalização faz com que estes problemas rapidamente se tornam universais, ameaçando a segurança e estabilidade regional e às vezes, internacional. As provas do perigo apresentado são claras nos atentados em Nova Iorque, Bali e Moscovo.

Por quê é que a criação do novo sistema é tão difícil de implementar? Quais são os factores que influenciam o dinamismo e a essência dos novos perigos?

A Luz e a Sombra do Mundo Global

A globalização passa a ser o “arquitecto” da nova agenda, porém a globalização exerce uma influência contradictória sobre a evolução das relações entre os estados. Por um lado, fomenta uma aceleração do desenvolvimento faz forças produtivas, do progresso coentífico e técnico e uma comunicação comum cada vez mais intensa. Por outro lado, o processo da globalização, por se desenvolver dum modo espontâneo, sem a influência dum dirigente colectivo, agrava uma série de problemas de segurança internacional e proporciona novos riscos e desafios.

Aumenta substancialmente a força do papel de factores externos na evolução do Estado e a grande maioria dos países ficam sem poderes para fazer frente à conjuntura financeira e económica, que é controlada por um reduzido grupo de países. Como resultado, aumenta a irregularidade do desenvolvimento social e económico no mundo, a diferença entre as “zonas de crescimento” e as “zonas de estancamento” sendo evidente.

Em 1960, os salários dos mais ricos eram 30 vezes superiores aos mais pobres. Hoje, a diferença é três vezes mais e metade da população na Terra recebe menos do que dois USD por dia. Este modelo de globalização é negativo para a maior parte da Humanidade.

A globalização facilita o uso de pressão política nos processos diplomáticos mas frequentemente, cabe ao país mais pobre decidir se aceita ou não soluções impostos por fora. Ameaças velhas e novas O terrorismo passa a ser ameaça estratégica para a segurança da Humanidade. Para fazer face a esta ameaça, e pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial se formou uma larga aliança de países contra o terrorismo internacional. O resultado foi eficaz e esta aliança deu um golpe forte no Afeganistão, cuja regime apoiava o terrorismo. Porém é sempre na Organização das Nações Unidas que tais acções deverão ser autorizadas. Relativamente a assuntos relacionados com a redução de armamento, a Rússia e os EUA estão num processo de discussão mútua para a diminuição dos seus arsenais mas lamentavelmente, a estabilidade estratégica se complica devido às acções unilaterais seguidas por Washington, como, por exemplo, o plano para criar um sistema de defesa anti-mísseis. No que diz respeito à proliferação de ADM, há que tentar criar um sistema de universalização dos acordos mais importantes sobre este assunto. Uma importante parte deste processo reside no impedimento a países colocarem as suas armas no espaço e por isso, temos de chegar a um acordo universal para que o espaço seja uma área livre de armamento. Na área do meio ambiente, tem havido muitas cimeiras e conferências, em que a comunidade internacional se esforça a encontrar soluções. Contudo, globalmente, por muito que os países se esforcem neste sentido, estes esforços não chegam. Resposta solidária às ameaças e desafios A resposta unilateral cria um clima de “salva-se quem puder”, criando divergências sobre a melhor maneira de realizar a gestão de crises. A outra opção é uma abordagem colectiva de solucionar problemas inter-ligados. Vemos a solução na busca de soluções para as ameaças na criação dum sistema global para abordar os desafios. Para tal, tem que haver uma entidade coordenadora: a ONU, com a sua legitimidade, universalidade e experiência singulares. O objectivo comum deveria ser de conferir à globalização um carácter socialmente responsável e garantir que todos os povos tenham acesso à suas vantagens. Há que em princípio ter na base desta estratégia os princípios éticos e morais partilhados pelos membros da comunidade internacional.

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