30 ANOS DO GOLPE MILITAR NA ARGENTINA

Na madrugada de 24 de março de 1976, um golpe encabeçado pelo general Jorge Videla derrocava o governo constitucional de Isabel Perón, viúva do célebre Juan Domingo Perón, e instaurava um regime militar na Argentina.

Com isto, os planos de Washington para eliminar a "subversão" na América Latina haviam afinal dado plenos resultados, e quase todos os países da região se encontravam submetidos a ditaduras militares ultra-direitistas altamente repressoras.

Na Argentina, como no resto da região, os militares tomaram o poder com o pretexto de tirar o país do caos em que se encontrava. Realmente, a morte de Juan Domingo Perón em 1974 gerou um vácuo político e uma divisão do principal partido político argentino, o Justicialista, que sua débil e manipulável viúva não podia compensar. Vários movimentos de esquerda partiram para lutas armadas e terroristas, criando guerrilhas, e seqüestrando e assassinando empresários e executivos de multinacionais. Seja como for, o terrorismo sistemático e irrestrito dos governos militares foi incomparavelmente pior do que o de alguns grupos de esquerda: não apenas porque os militares vitimaram uma quantidade incomparavelmente maior de pessoas, mas também porque destruíram as instituições democráticas, arruinaram a economia e o sistema educacional, e aumentaram grandemente as inustiças sociais e a miséria.

Na Argentina, o governo militar foi muito mais breve do que no Brasil - durou de 1976 a 1983. Porém, foi muito mais brutal: na década de 80, a Comissão Nacional de Desaparecidos (criada para investigar as violações dos direitos humanos durante o regime militar) comprovou que houve pelo menos 8.960 vítimas, e agora organizações de direitos humanos estimam que sejam aproximadamente 30.000. Os militares argentinos, além disso, tiraram os filhos dos perseguidos e os entregaram a outras famílias, sem deixar nenhum registro de suas verdadeiras origens, criando sofrimentos também para as gerações seguintes. Também causaram danos imensos à economia argentina, na época o país mais industrializado e de melhor nível de vida da América Latina: iniciaram o processo de desindustrialização do país (que atingiu seu ápice nos anos 90, durante o governo de Menen), a dívida externa do país aumentou 5 vezes, e a inflação entre 1976 a 1983 foi de 517.000%. E como se isso não bastasse, quase entraram em guerra com o Chile em 1978, por disputas territoriais no extremo sul do continente (conflito impedido no último momento graças a uma mediação do Vaticano) e lançaram-se em 1982 a uma guerra absurda contra o Reino Unido, para recuperar as Ilhas Malvinas, que matou a 648 argentinos (a maioria jovens que prestavam serviço militar obrigatório) e 255 ingleses.

Neste ano, o Congresso argentino aprovou a proposta do presidente Néstor Kirchner, de transformar o dia 24 de março em feriado nacional como "dia da memória", para lembrar os acontecimentos tenebrosos que tiveram início há 3 décadas. O governo de Kirchner está impulsando uma campanha para que, afinal, se faça justiça e sejam punidos todos aqueles que participaram da repressão e terrorismo de Estado do regime militar. Depois da democratização, em 1983, o presidente eleito Raúl Alfonsín iniciou um processo de investigação dos crimes da ditadura, e em 1985 houve o juízo de vários militares, inclusive os generais Videla, Viola, Galtieri, Bendini e Bignone, que governaram o país durante os 7 anos de regime militar. Todos, exceto Galtieri, foram condenados. Porém, em 1989, o governo de Carlos Menem criou as leis de "Ponto Final" e "Obediência Devida", que anistiou todos os envolvidos nos crimes da ditadura. E em 2005, Kirchner anulou estas leis, e Videla (o único dos presidentes militares que ainda está vivo) se encontra em prisão domiciliar, devido a sua idade avançada.

O novo feriado foi marcado por marchas de vários movimentos políticos contra a ditadura, inúmeros eventos culturais, um ato oficial encabeçado pelo presidente Kirchner e a ministra da defesa Nilda Garré na base aérea de Palomar, e várias edições especiais nos meios de comunicação que, em geral, condenam a ditadura (com a única exceção do jornalista Mariano Grondona, conhecido na Argentina por suas posições de ultra-direita e que insiste ainda em defender o regime militar). Na semana passada, houve uma grande manifestação em frente ao edifício onde mora Videla, em repúdio aos desmandos e brutalidades de seu governo. Carlo MOIANA Pravda.ru Buenos Aires

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