GUERRA SEM FIM

Em uma entrevista para a agência de notícias Reuters, Kay disse achar que o Iraque tinha armas ilícitas no final da Guerra do Golfo de 1991, mas que a subseqüente combinação de inspeções da ONU e decisões do próprio Iraque "acabaram com elas".

Ao ser perguntado diretamente se estava dizendo que o Iraque não tinha qualquer estoque de armas químicas e biológicas no país, Kay respondeu, segundo a transcrição da entrevista gravada divulgada pela Reuters, "sim, isso mesmo".

Kay não respondeu aos telefonemas e mensagens de e-mail do The New York Times.

As declarações de Kay minaram uma das principais justificativas dadas pelo presidente Bush para a guerra no Iraque. Bush e outros membros do governo citaram repetidas vezes a posse de armas químicas e biológicas pelo Iraque como uma ameaça aos Estados Unidos, e a falta de evidência até o momento de que Saddam Hussein de fato tivesse grandes esconderijos de armas tem alimentado críticas de que Bush exagerou o perigo representado pelo Iraque.

Scott McClellan, o porta-voz da Casa Branca, disse que o governo mantém suas declarações anteriores de que Saddam tinha programas e depósitos de armas proibidas.

"Sim, nós acreditamos que ele as tinha e, sim, nós acreditamos que serão encontradas", disse McClellan. "Nós acreditamos que a verdade virá à tona".

A avaliação fornecida por Kay à Reuters, na sexta-feira, sobre o programa de armas do Iraque, foi bem mais conclusiva do que o relatório que ele entregou à Casa Branca e ao Congresso em outubro. Naquele momento, ele disse que ele e sua equipe ainda não tinham encontrado estoques de armas, "mas ainda não chegamos a ponto de podermos dizer definitivamente se tais estoques de armas não existem ou se existiam antes da guerra, e nossa única tarefa é descobrir para onde foram".

Mas ele também relatou em outubro que sua equipe tinha descoberto evidência de "dezenas de atividades relacionadas a um programa de armas de destruição em massa e quantidades significativas de equipamento que o Iraque escondeu da ONU durante as inspeções iniciadas no final de 2002".

Com a saída de Kay, o governo entregou na sexta-feira a busca pelas armas a Charles A. Duelfer, um ex-inspetor de armas da ONU que expressou ceticismo de que os Estados Unidos e seus aliados encontrarão quaisquer agentes químicos ou biológicos proibidos.

Os comentários de Kay e a nomeação de Duelfer, feita por George J. Tenet, o diretor da CIA, pareceram ser um momento de virada na defesa do governo de suas afirmações de que Saddam tinha reunido grandes estoques de armas ilícitas, que poderia usar pessoalmente ou entregar para terroristas usarem contra os Estados Unidos ou outros países.

Apesar da Casa Branca ter mantido sua declaração do ano passado de que Saddam possuía estoques de armas proibidas, uma posição reiterada na quinta-feira pelo vice-presidente Dick Cheney, outros membros do governo disseram na sexta-feira que as chances de que a busca encontre estoques substanciais de armas químicas ou biológicas são mínimas.

Kay disse que um dos motivos para ter deixado o cargo foi que a equipe que chefiava, o Grupo de Reconhecimento do Iraque, foi desviada até certo grau para uso no combate à insurgência no Iraque. Tal desvio, disse ele, o deixou sem os recursos necessários para concluir seu trabalho até o final de junho, quando os Estados Unidos pretendem devolver a soberania aos iraquianos.

"Nós não encontraremos muito após junho", disse Kay. "Eu acho que provavelmente encontramos 85% do que iríamos encontrar."

Os democratas disseram que as declarações de Kay levantam dúvidas sérias sobre os argumentos do governo para a guerra e a qualidade da inteligência americana.

"Está cada vez mais claro que ocorreu um fracasso enorme de inteligência", disse a deputada Jane Harman, da Califórnia, a líder democrata no Comitê de Inteligência da Câmara, em uma declaração. "A ameaça potencial representada pelos estoques de armas químicas e biológicas do Iraque e pelo programa de armas nucleares iraquiano eram centrais no argumento para a guerra. Diante da declaração do dr. Kay, o presidente deve ao povo americano e ao mundo uma explicação."

Por Richard W. Stevenson, do The New York Times

Diário Vermelho

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