A Semana Revista

V Cimeira da CPLP

A Quinta Cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) em São Tomé providenciou mais uma oportunidade para reduzir o espaço que separa fisicamente esta comunidade e fortalecer os já consideráveis laços entre os estados membros.

Houve muitos projectos nas áreas de saúde, educação e cultura, de desenvolvimento económico bilateral e multilateral, em que a boa vontade de Portugal e a responsabilidade e capacidade do Brasil em finalmente assumir o seu devido lugar de destaque no palco internacional se juntaram à vontade de trabalhar demonstrado pelos países menores nesta Comunidade, que coopera como uma família de irmãos que vivem a volta dum lago comum.

Foi esta a mensagem de EXPO 98 em Lisboa e é muito bonito de ver. Falta agora a vontade política de seguir os compromissos assumidos com financiamento.

COMO SÃO TRATADOS OS IMIGRANTES POR PORTUGAL?

Todos os anos, nesta altura, PRAVDA.Ru acompanha um(a) imigrante no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras durante o processo da renovação do visto de permanência Por isso realçamos a palavra “por” e não “em” Portugal, porque examinamos o tratamento pelo sistema colocada pelas autoridades e não pelas pessoas. Quando o ex-Primeiro-ministro de Portugal, José Barroso, abriu o Centro Nacional de Apoio (CNA) ao Imigrante na Rua Álvaro Coutinho em Lisboa, no dia 16 de Março de 2004, viu um centro bonito, remodelado com muita imaginação e decorado por alguém que fez o que fez com gosto, e bom gosto.

Notámos que desde o ano passado, há uma substancial melhoria na filosofia de receber o imigrante como parte integral, respeitado e bem-vindo em Portugal e damos uma nota de vinte valores pelo empenho. De facto, o centro está bem decorado, alegre, cheio de luz. Tem seis grandes fotografias na parede de pessoas de diferentes origens, tem um balcão CGD, tem uma loja de comunicações com a mensagem “É bom estar perto de casa”, tem uma máquina Multibanco, tem um bar e café, tem um cibercentro, onde as pessoas podem aceder à Internet.

Em fim, as autoridades portuguesas deram o trabalho de pensarem um pouco e rectificar aquilo que estava mal, com a inteligência de humildade e não a estupidez dos anos anteriores, em que grassava a frase “O sistema é o que é, se não gostares, vai-te embora!”

Parece que a onda que levava este tipo de idiotice já passou. Não foi sem tempo.

As autoridades portuguesas tentaram. Mas foi o suficiente? Infelizmente, não… e daí que terá de haver substanciais melhorias até ao próximo ano (quando acompanharemos um caso semelhante) para haver outra nota positiva.

Vamos relatar o que acontece em Portugal quando um imigrante vai renovar seu visto de permanência sem comentários, deixando o leitor chegar à sua conclusão. A pessoa em questão, brasileira, que iria renovar o visto de permanência, trabalha como empregada doméstica e esta foi a terceira renovação em Portugal. Tinha todos os documentos em dia e trazia todos os documentos que lhe pediram.

Tinha um papel que a convocou para estar no CNA na Rua Álvaro Coutinho ao meio-dia. Chegámos às 11.28. Já na fila, um rapaz brasileiro perguntava às pessoas o que queriam, demonstrando aquela simpatia daqueles que já passaram por isso. Fantástico. Recebemos o número A 212 e o acompanhante foi permitido a entrar (em vez de ficar lá fora na chuva como um cão como foi no ano passado). Muito melhor.

Lá dentro, uma montra com folhetos em português, inglês e russo sobre os serviços do CNA e os direitos dos imigrantes. Bem impressionados, ficámos nós. Olhámos para o quadro electrónico, que mostrava A 084…faltavam 128 pessoas à frente. (Por quê então é que nos convocaram ao meio-dia?)

Fomos para o bar/restaurante, com preços acessíveis e refeições frescas cozinhadas todos os dias, oferecendo entrada mais prato ou alternativa por 5 Euros…um espaço simpático também. Só que…”Oi! Lá! Oi! Não se pode ler o jornal aqui!” “Como??” “Não se pode ler o jornal aqui!!” “Ah, então posso olhar para os quadradinhos, como o Bush?” “Isso pode!”…continuei a ler o jornal…mas incomodado por causa da primeira ameaça que o bem que via à minha volta estava viciada, tapada, encoberta, uma capa…escondendo um mal que vinha por trás.

Fomos comer fora num restaurante indiano simpático…12.30… voltámos às 13.30, olhámos para o quadro…saímos…entrámos…saímos…até às 16.00 quando o guarda na porta disse que quem estivesse fora das portas às 16.30 não entrava mais. Ficámos por dentro, então. O espaço no rês-do-chão mede 15 metros por dez e lá dentro estão 50 cadeiras (todas ocupadas) e mais 20 pessoas em pé. Sem ar condicionado.

Angolanos, brasileiros, guineenses, russos, moldavos, romenos, cazaques, moçambicanos, cabo-verdeanos, são-tomenses, ucranianos, todos diferentes mas todos iguais e todos igualmente a abanarem a cabeça e todos igualmente a suspirarem e a olharem para o Céu e a dizerem, todos iguais, “Puxa!!” “Porra!!” “Isso..!!” “Incrível!!” Se calhar o espaço não era tão simpático como eu tinha imaginado.

De facto, às 16.30, cinco horas depois de termos chegado, fomos chamados para uma sala onde pessoas de origem imigrante atendiam os imigrantes. OK pensava eu, que bonito, os portugueses optaram por retirar aquela laia de antipáticos e doentes mentais de outrora, que atendiam as pessoas nestes lugares e os substituíram por pessoas normais e simpáticas.

E foi. O rapaz, cabo-verdeano, que atendeu a nossa acompanhante foi deliciosamente simpático…mas não foi para atribuir o visto. Foi apenas para fazer uma triagem e enviá-la para cima, onde o visto é colocado. Cinco horas em ponto para um rapaz ler os documentos e dizer que “Está tudo OK”. Pois, isso sabíamos há meses.

Deu-nos a senha F 149. O quadro electrónico mostrou F 121…mas só aos 18.00 é que apareceu o nosso número. Lá em cima o clima eras mais pesado…nem percebia por quê…até que entrei na sala. Portugueses. Poder. Uma péssima mistura.

Quando um português com letra pequena tem a oportunidade de demonstrar seu poder sobre um estrangeiro, vai utilizar esse poder até ao máximo porque sensivelmente será a única e a última oportunidade que ele terá na vida para gozar esta emoção. E aí estavam todos…o guarda que andava com os braços estendidos e os ombros esticados para o lado, ladrando “Não se pode sentar nas escadas!” (onde é que haviam as pessoas de se sentarem, no retrete? Não porque a senhora de limpeza estava a bater na porta a dizer “Abre ai! Abre ai!”)…estavam as duas pessoas a andarem dum lado para o outro sem aparentemente fazerem nada, que se vê em todos os lugares onde a autoridade portuguesa actua…estavam as oito cadeiras/estações de trabalho, cinco desocupadas.

Só dois dos três empregados nesta secção fizeram algo, o terceiro andava com uma expressão de dor aguda na cara a mexer em papéis mas sem adiantar nitidamente nada. As duas pessoas que trabalhavam tinham a frente 8 imigrantes, já loucos de tédio e em vez de chamarem os números das senhas (F 148, F 149), chamavam “Senha F”, provocando uma corrida das oito pessoas que tinham a Senha F.

Todos nesta secção têm a senha F!

Ás 18.10, fomos chamados à mesa para entregar os documentos pela segunda vez, os mesmos documentos que tínhamos entregue há uma hora e 40 minutos lá em baixo. Daí fomos enviados para fora, depois duma funcionária dizer que estava tudo em ordem.

Por “fora” algumas pessoas que não entendem bem, saem do recinto e esperam nos lugares… “lá fora”, como por exemplo um senhor que estava a esperar “lá fora” desde às 13.00 horas e nunca foi chamado. Outros ficam no corredor até que chegue aquele guarda que diz de vez em quando “Thank you very much, muito obrigado, merci beaucoup, muchas grácias” na mesma frase (será daqueles que dizem “Je parlez vous français, je sprechen-zie Deutsch, je Do you speak English, je habla usted español”?) e grita “Vão por aí dentro!” como cão que ladra ou porco que arrota, com uma arrogância da pessoa pequeníssima que se vê nestes lugares em Portugal.

Por aí dentro…pois, um espaço com seis metros por três, onze cadeiras, sem ar condicionado como o resto do centro e 15 pessoas lá dentro, quatro em pé…angustiados, desmoralizados, todos a suspirarem e a abanarem a cabeça, metade a questionar o que estavam a fazer em Portugal.

Pois é! Isso disse eu. É como se fosse feito de propósito, para se sentirem mal e irem embora. Então, parece que não passamos duma cambada de pretos, brazucas e come-ons, pelo menos é isso que transparece deste tipo de tratamento institucional.

Como é que as pessoas vão receber o visto? É fácil. Chega uma chuva de vozes de três lugares, sem microfone, a chamarem os nomes das pessoas, assim: Yu…Yuri…Yuri..She…v….ch…en…porra!..Yuri!! Yuri!!” ou então Mo…moha…mohammed…che…che….che…ga…ga….ga…Mohammed!! Mohammed!! Oi!! Mohammed!!!”

Ás 18.53, nossa acompanhante vai pagar os quase 80 Euros que lhe vai permitir residir em Portugal até Março próximo (pois, são desfasadas as datas, fica cada vez menos tempo a autorização de permanência com cada visto que passa e tenham cuidado aí com as saídas, verifiquem os carimbos das datas que colocam no passaporte, e vejam aí se colocaram um mês anterior ou um ano anterior, que vai-lhe negar a entrada quando vier das suas férias).

Sete horas e meia para colocar um carimbo num bocado de papel. Um dia de trabalho perdido. Oitenta euros gastos. Num país em que é exigido ao máximo o cumprimento à letra de todas as normas e regulamentos…sem nada em retorno...senão este dia passado na companhia das autoridades portuguesas.

Ora, o leitor tire as suas conclusões. Pessoalmente, sugiro a todos os países onde houver imigrantes portugueses, a tratá-los da mesma forma e fazer com que eles tenham de passar pela mesma degradação e humilhação que os imigrantes em Portugal têm de passar.

Sinto nojo de mim às vezes por ter dedicado 25 anos da minha vida a...isto. Mas lá vou eu continuando a tentar ajudar os que se teimem em não ser ajudados. Que estúpido devo ser.

Iraque: Civis contra Reino Unido

Um grupo de civis iraquianos está a tentar abrir um precedente no tribunal de recurso em Londres para esforçar o governo britânico a pagar indemnizações aos vítimas de maus tratos por soldados britânicos, que incluem actos de tortura.

Quem diria que britânicos e norte-americanos pudessem descer tão baixo no seu comportamento? Tortura? Faltam palavras para exprimir os sentimentos no mundo de hoje. O melhor seria as populações destes dois países demonstrarem onde jaz a linha entre o que está certo e o que está errado, exercendo o direito de votar. Para Bush isso começa já em Novembro. Para Blair, restam mais alguns meses.

O Iraque continua a estar numa situação de caos, com dezenas de pessoas a morrerem todas as semanas. Continuam a ser civis os mais afectados, peões num jogo perverso entre lutadores pela liberdade do Iraque e as forças imperialistas que ocupam ilegalmente este país e que também chacinaram civis sem qualquer cuidado nem piedade.

No entanto, por quê é que os lutadores pela liberdade do Iraque não escolham o seu alvo com mais inteligência? Não será um US Marine um alvo mais legítimo que uma criança que vai de autocarro para a escola?

Se bem que toda a morte humana é uma tragédia, os soldados estrangeiros estão lá para fazer o quê? Os civis iraquianos estão no seu país, de onde as forças da coligação terão de sair mais cedo ou mais tarde, com o rabo entre as pernas.

Nunca devemos esquecer este ultraje e nesta coluna iremos levantar a questão todas as semanas até que Bush e o Blair são levados a um tribunal para responder pelos crimes de assassínio em grande escala e crimes de guerra. São mentirosos descarados, são assassinos, são criminosos de guerra e são covardes.

MAIS RUSSOFOBIA NA IMPRENSA INTERNACIONAL

Desta vez é o BBC

Não há desastres em minas, não há problemas com mísseis, o Presidente nem bebe em casa nem em público, os centrais nucleares estão a comportar-se bem, a economia russa está a progredir e não há crise no sector bancário. Onde, então, pode o BBC atacar? Simples – o exército. Na edição online do BBC de hoje, lê-se em letras bem claras o título “Aumentam os casos de suicídio no exército da Rússia” e depois o lead cita fontes militares russas, que afirmam que houve um aumento em 38% nos casos de suicídio nas forças armadas da Rússia no ano passado.

Pelo menos em vez de acusar as fontes russas de mentirem, já começam a citá-las. As coisas estão a melhorar, afinal. Mas só as citam para pintar quadros negros e criar imagens negativas.

O relatório começa por dizer que 109 soldados russos suicidaram-se em 2003, entre um total de 420 que perderam as vidas em situações não militares. Num total de 1,2 milhões, isso é, mas é claro que o BBC se esqueceu de colocar as cifras no devido contexto.

A falar em mortes, quantos soldados britânicos e norte-americanos perderam as suas vidas no último ano na sua aventura no Iraque? Quantos se suicidaram?

Uma visita ao site do Ministério de Defesa do Reino Unido providencia uma leitura bem interessante.

Por exemplo, “jovens homens nas forças armadas sofrem de mais mortes por suicídio do que a população equivalente no Reino Unido”.

No relatório “Suicídio e mortes sem causa confirmada entre homens nas forças armadas do Reino Unido” (2003) se lê no ponto 1.1 que “O suicídio nas forças armadas é assunto de interesse entre os média” e no ponto 2.2: “Em 19 anos (1984 a 2002) a Agência dos Serviços Analíticos da Defesa recebeu notificação de 446 suicídios e mais 62 mortes sem causa justificada” nas forças armadas.

Por quê é que o BBC não começa a investigar o que está mal nas forças armadas do próprio país em vez de atirar pedras em telhados alheios?

GEÓRGIA VIOLA A LEI

Incursão em quartéis russos por forças de segurança da Geórgia

No dia 26 de Julho, forças de segurança da República de Geórgia ocuparam quartéis militares russos perto de Tblissi e Vaziani, constituindo uma grande violação dos acordos intergovernamentais sobre o estacionamento dos tropas russos na Geórgia.

O Ministério da Defesa da Federação Russa reclamou, apontando que nos quartéis há simplesmente edifícios vazios, guardados por soldados sem armas.

A propriedade em questão será entregue à Geórgia pelo Comando Russo do Cáucaso Sul, sob os termos dos acordos intergovernamentais.

Mais uma provocação pelas forças da Geórgia. Qual será o próximo passo na agenda de Saakashvili?

Férias

Agosto é o mês de férias, pelo menos em Portugal. PRAVDA.Ru deseja umas férias e um descanso (merecido) muito agradável a todos os nossos leitores, lembrando a todos para não conduzir quando sob o efeito de bebidas alcoólicas. Não vão transformar as férias numa tragédia.

Nós iremos manter o nosso serviço como sempre, embora desfalcado de pessoal que trabalharam sem egoísmo durante este ano. Já mais do que um milhão de pessoas leram as nossas páginas e é graças aos nossos colaboradores de todos os países da Comunidade de Língua Portuguesa.

Muito obrigado a todos. Sinto muito a vossa presença e sinto muito a vossa vontade de colaborar. Foi este espírito que eu sabia que iria encontrar quando lancei a versão portuguesa da PRAVDA.Ru há quase dois anos e vocês ajudaram-me em muito superar as metas que eu tinha discutido com a Presidência em Moscovo.

Da minha parte, tentarei sempre a ser fiel à boa disposição que encontrei no mundo lusófono.

Obrigado, do fundo do coração.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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