O Terceiro Sul-Americano de Futebol organizado pela Confederação Sul-Americana aconteceu no Brasil mas acabou sendo um torneio histórico que nada teria a ver com o que acabou ocorrendo no gramado. Este Sul-Americano lembra-se pela desgraça do goleiro Roberto Chery titular da seleção uruguaia e do Peñarol de Montevidéu falecido por causa de uma peritonite. As comemorações dos Campeões mudaram pelo sentimento de tristeza.
Essa nossa novidade de hoje além de um outra acontecida em aquela época mudaram o astral da população da capital uruguaia tornando-a triste demais pois no decorrer de uma semana, em ambientes diferentes da cultura (pois futebol também é cultura) faleceram dois destaques da vida montevideana. Por causa do Roberto Chery e o escritor e diplomata (Embaixador) mexicano Amado Nervo o olhar do mundo focava-se nesta pequena cidade sul-americana.
Na sexta 30 de Maio ás 19:45 h o goleiro Roberto Chery ganhou cartão vermelho para sempre nos gramados da vida. Foi no Rio de Janeiro, que antes era conhecida como a capital fluminense.
O último jogo do Sul-Americano, Brasil perante Uruguai encerrou com empate 2 x 2 e teve as escalações que detalham-se á seguir:
URUGUAI: Roberto Chery (Peñarol); o «japonês» Varela (Nacional); o «italiano» Foglino (Capitão - Nacional); Rogelio Naguli (Nacional); Zibecchi (Wanderers); Vanzinno; Pérez (Wanderers), Héctor «Rasquetita» Scarone (Nacional), Carlos Scarone (Nacional); Isabelino Gradín (Peñarol) y Maran (Nacional).
BRASIL: Marcos Mendoza (Fluminense, Rio de Janeiro); Pindaro de Carvalho (Flamengo, Rio de Janeiro); Blanco Gambini (Palestra Itália, São Paulo); Sergio Pereyra (Paulistano, São Paulo); Amilcar Barbury (Corinthians F C, São Paulo); Fortes (Rio); Millán (São Paulo); Manuci Nunes (Corinthians, São Paulo); Freindenroch (Paulistano, São Paulo); Hector Domínguez (Santos FC , São Paulo)e Arnaldo Silveira (capitão, Santos FC, São Paulo).
O Todd acabou sendo o árbitro e a imprensa uruguaia da época salienta que tendo apitado na partida Uruguai x Argentina do jeito que ele apitou, tudo poderia acontecer com o homem da justiça no gramado prejudicando aos uruguaios perante os brasileiros do jeito que já tinha acontecido com os alvi-celestes. Nada disso ocorreu no final do jogo.
Infelizmente o destaque de hoje é o guardião Chery e o Presidente da Delegação uruguaia, Dom Roberto Mibelli, mantinha contato enviando mensagens curtas pelo «MSN» da época desde Brasil informando o que acontecia com a saúde do guardião uruguaio logo após desse jogo.
O jogo Uruguai 2 x Brasil 2, não tinha possibilidade de continuar no suplementar pois a noite tinha se pousado acima da cidade e só tinha uma outra chance de definir o torneio marcando mais um jogo nos próximos dias. Esse no qual o Roberto Chery ainda vivo, ia deixar a vaga para o goleiro Cayetano Saporitti, do time Montevideo Wanderers (titular no primeiro jogo do Sul-Americano) que iniciou sua carreira em 1903, alguns meses depois do nascimento dos «boêmios» uruguaios.
Um mês antes do evento um outro goleiro uruguaio famoso era destaque no Sul-Americano de Atletismo em Montevidéu alcançando a primeira vaga numa fase classificatória na corrida de 400 m com obstáculos. Foi o Andrés Mazzali que além disso ia ser o goleiro do Nacional no clássico perante o Peñarol no Grande Parque Central alguns dias depois da morte do Roberto Chery tentando arrecadar uma verba para os familiares do goleiro falecido.
Os clubes, Central e Dublin iam participar do evento, jogando na prévia do clássico. O Dublin então mais uma vez no histórico do futebol uruguaio pois foi aquele time que também participou da estréia do Estádio Belveder perdendo de 2 x 0 perante o anfitrião Montevideo Wanderers, o 04 de Julho de 1909. Hoje o estádio pertence ao Liverpool Football Club.
Quanto a atletismo tem a ver, é bom remarcar que o Isabelino Gradín, que acabou sendo titular e grandíssimo artilheiro na seleção uruguaia no Sul-Americano de Futebol junto com o Chery, também ia vencer na corrida de 400 m rasos, derrubando o recorde uruguaio e Sul-Americano com 53´1/10. Ele teve torcida brasileira própria no jogo perante os argentinos pela qualidade que mostrava em campo mesmo que por incrível que pareça as «arquibancadas brasileiras» torceram pela seleção Argentina pois o grandão Sul-Americano até essa data e por mais alguns decênios foi Uruguai.
O árbitro desse clássico do Rio da Prata, Todd, também acabou encerrando uma tarefa errada, não apitando um pênalti claro contra o Isabelino Gradín e muitas faltas que deixaram bravos os «charruas». Com chute de fora a grande área o jogador do Peñarol, Gradín furou a rede argentina pela terceira vez e os «moreninhos» do Rio de Janeiro que gostaram de um futebol bem fluente e virtuoso encaminharam-se no gramado para «arvorar» um caneco especial, o próprio «preto» uruguaio, Isabelino Gradín, contornando o campo do Fluminense com ele como acima dos ombros dos fãs.
Quanto ao guardião Roberto Chery, foi grande destaque no segundo jogo com vitória perante os chilenos realizando três defesas ótimas. A imprensa uruguaia remarca que além da justiça do resultado perante os trás-andinos de 2 x 0, a jogo na estréia perante os argentinos tinha sido perfeito e o houve mudanças para segundo, entrando em campo dois reservas como o zagueiro Rogelio Naguil e o guardião Roberto Chery, que tinha sofrido enjôos na viagem no navio «Florianópolis» indo para o torneio.
A morte e o processo das mensagens do Roberto Mibelli colocavam os uruguaios á par de tudo quanto ia acontecendo com a saúde do jogador até o fim...No mínimo, jornais uruguaios como o «Del Plata» e «El Plata» decidiram começar a coleta de doações para os familiares do jogador (fica claro que os futebolistas da época mesmo sendo craques eram amadores e não profissionais como acontece agora) sendo que a Cervejaria Montevideana, extremamente famosa na capital uruguaia no decorrer dos anos, foi um dos primeiros e mais importantes doadores. Uma turma do Café América, alguns brasileiros (que não colocaram o nome na lista) acabaram contribuindo.
Após a tragédia que sofreram os uruguaios, a delegação ia voltar para Montevidéu separada da vítima de peritonite. A turma de trem desde Rio de Janeiro (2500 km) e o corpo do goleiro Chery de navio, no «São Paulo» junto com a delegação argentina que ia jogar uma partida perante os uruguaios em Montevidéu tentando ajudar a família do goleiro com a venda dos ingressos.
O dia 02 de Junho aconteceu uma missa de despedida do defunto jogador no Pavilhão Morisco do Rio de Janeiro que foi muito visitado por causa da manchete que o Jornal «O Pais» colocou em cartaz fazendo que uma multidão assistisse até o ponto.
Do jeito que acontecia a cada ano, uruguaios e brasileiros jogavam a Taça Rio Branco entre eles. Nesta oportunidade, o astral dos uruguaios ficou muito baixo pela morte do goleiro e foram os argentinos que pediram para os uruguaios jogar a tal Taça como se fossem os uruguaios até vestindo as mesmas cores. A atitude dos argentinos foi muito valorizada pela delegação uruguaia.
O 1° de Junho acabou ocorrendo o jogo pela Taça Chery, doada pela Confederação Brasileira sendo que o Brasil ia jogar com a camisa do Peñarol e os argentinos com a uruguaia.
Na hora que o Brasil ainda não usava a camisa verde-amarela, mudou aquela oficial de 1919 da Confederação Brasileira de Desportos (CBD) pela auri-preta do Peñarol de Montevidéu tentando lembrar com respeito o guardião Roberto Chery, titular do time e da seleção até o jogo final que disputaram os uruguaios perante os brasileiros com empate de 2 x 2. Do mesmo jeito que o Brasil ia mudar de camisa, a seleção Argentina assinou o compromisso de jogar perante um «Peñarol Brasileiro» com a camisa oficial uruguaia.
Um fato histórico sem dúvida para o futebol mundial pois caso tivesse acontecido, quase com certeza não foram muitas as oportunidades que a seleção brasileira acabou jogando uma partida sem a camisa oficial ou de alternativa mas oficial sempre. Inserido em uma das maiores crises esportivas da história em 2009, o Peñarol continua sendo um dos times que no decorrer do histórico do futebol ia ganhar brilho internacional assim como aconteceu com a seleção brasileira. Faz 90 anos, o Peñarol nem a seleção cebedense não tinham escrito ainda suas maiores façanhas internacionais que acabaram catapultando-os nos primeiros degraus da história do futebol mundial.
Os jogadores das duas seleções jogaram com «faixa preta» nos braços em lembrança do luto pelo goleiro Roberto Chery.
Posicionando-nos em Montevidéu, o velório uruguaio da gema acabou saindo da Associação Uruguaia de Futebol na hora que a porta principal ficava na Avenida 18 de Julio 1484,nas costas da atual da Rua Guayabo 1531. Conserva-se ainda padieira e ombreira daquele portão granítico na avenida principal montevideana, uma jóia para visitar e tirar fotos.
O Presidente do Peñarol, César Batlle Pacheco agradece a gentileza do rival clássico, o Nacional encaminhando a carta resposta para o presidente do clube José María Delgado. Entre outras propostas, o Nacional que inaugurava sede novinha em folha, acabou oferecendo-a ao rival de sempre para o velório «uruguaio».
Os jogos desse Sul-Americano aconteceram no Estádio do Fluminense.
No final de abril de 1919, a Associação Uruguaia de Futebol tinha oferecido uma janta para as delegações argentina e chilena a noite prévia á saída das três seleções rumo á cidade do Corcovado no navio «Florianópolis». Fora os anfitriões, as duas seleções treinaram no Grande Parque Central, estádio do clube Nacional de Montevidéu.
Não houve mais uma morte nessa delegação do Sul-Americano de Futebol 1919 só por acaso pois assim que a seleção uruguaia chegou em Montevidéu, o craque do Nacional Héctor Scarone pegou febre tifóide.
Todos conhecemos hoje a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), aqueles que ultrapassamos o eixo dos quarenta, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) mas puxa vida, numa tivesse imaginando que 1919, existisse a CBDT Confederação Brasileira de Desportos Terrestres. Será que houve aquáticos no mínimo no Rio com times como o Clube de Regatas Flamengo e o Botafogo de Futebol e Regatas.
O PRAVDA agradece os comentários de uma carioca da Embaixada do Brasil em Montevidéu que conhece bastante a cidade fluminense e ofereceu algumas dicas de aquele Pavilhão Morisco que foi construído em 1904 e demolido em 1951 de olho na criação do Túnel do Pasmado que une Botafogo com Copacabana. Trata-se da senhora Mônica Beire Promoção Comunicação e Turismo.
Gustavo Espiñeira
Correspondente PRAVDA.ru
Montevidéu Uruguai
Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter