Celso Furtado

Fica hoje mais vazio o mundo. O economista Celso Furtado faleceu em seu apartamento, no Rio de Janeiro, aos 84 anos de idade. A informação foi dada pelo senador Aloizio Mercadante, em São Paulo. O corpo do economista será velado na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

Paraibano de Pombal, Celso Furtado esteve entre os primeiros membros da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), criada em 1948. Escreveu "Formação Econômica do Brasil", uma das principais, se não a principal, análises da história econômica brasileira.

Furtado era amigo de Raul Prébisch, fundador da Cepal e economista que criou a "teoria da deterioração dos termos de troca".

A idéia por trás da teoria era simples para quem hoje acompanha as dificuldades dos países que dependem das exportações de commodities: o preço dos produtos básicos tendem sempre a cair em relação aos preços das mercadorias mais sofisticadas. O resultado: os países que dependem a exportação de commodities sempre enfrentam crises externas por conta da queda do valor das exportações.

A saída para essa armadilha era a diversificação da estrutura produtiva, ou seja, a industrialização, tornando a economia nacional capaz de produzir e exportar bens de maior valor.

A receita de Celso Furtado: planejamento estatal. O economista sugeria, numa época em que a ortodoxia já recomendava as políticas tradicionais de ajuste fiscal e combate à inflação, uma ação mais efetiva do Estado, ao qual caberia o papel de direcionar os recursos e apoiar a diversificação econômica.

O embaixador Ricupero lembrou que, por trás do Plano de Metas, do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961), havia os trabalhos de Furtado sobre planejamento da economia brasileira. Ricupero lembra que, apesar de ter escrito 30 livros, que foram traduzidos para dez línguas, o economista insiste sempre em caracterizar-se como um "intelectual de ação". O secretário-geral da Unctad enfatizou a atuação política do economista.

Foi Furtado o primeiro ministro do Planejamento do Brasil (1962 a 1964), a convite do então presidente João Goulart. O economista também foi quem criou a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), a primeira agência de desenvolvimento brasileira, cujo objetivo era o de elaborar políticas para a região mais pobre do país.

Aloizio Mercadante, em seu anúncio, lembrou que, em comum acordo com Maria da Conceição Tavares, foi Furtado quem indicou Carlos Lessa para presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em harmonia com os neoliberais da atual gestão econômica, o governo brasileiro decidiu pela saída de Lessa.

Apenas uma das muitas demonstrações de que as brilhantes teses de Furtado são sistematicamente ignoradas por alguns dos que sempre a defenderam e hoje detêm uma quantidade importante de poder político.

A revista Consciência.Net lamenta o desaparecimento de Celso Furtado deste tão sofrido planeta, desejando para ele o descanso merecido. Com igual pesar sofre por conta do abandono de suas teses, aumentando o sofrimento dos que persistem na miséria e à margem da sociedade.

Texto da revista Consciência.Net com informações de Marcelo Billi na Folha de S. Paulo de 16/06/2004 e da Folha Online.

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