Pimba!!

Agora, são horas para umas verdades e para expor umas afirmações absurdas no rescaldo desta eleição presidencial em Portugal. Fazendo uma análise talvez um pouco inesperada, podemos concluir que afinal nem tudo está tão mal…

Por quê é que escolheram esse candidato?

Primeiro de tudo, há que congratular o novo Presidente pela sua vitória na primeira volta da eleição, em que foi eleito com quase 50,6% do voto. Partindo dum princípio que numa democracia, a palavra final cabe aos eleitores, seria um absurdo agora lamentar a escolha e reclamar, pois seria um insulto ao povo português e seria anti-democrático. O que tinha a ser resolvido está decidido, o ciclo de eleições (três num ano) terminou e as instituições têm muito trabalho a fazer para Portugal e os seus cidadãos.

Segundo, o nome do novo Presidente não é “Cavaco” mas sim Aníbal António Cavaco Silva e não foi a culpa dele que ganhou, nem de se ter apresentado como candidato – foi seu direito, e temos de aceitar o resultado de bom grado.

As razões pelas quais este candidato ganhou, nada tinham a ver com ele ser uma figura da direita política mas sim, com o fenómeno do sebastianismo em Portugal (o desejo impossível para um Dom Sebastião voltar a aparecer do nevoeiro e levar o país a um futuro glorioso) e a noção que se os males são económicos, então mais vale eleger um economista.

A verdade é que nem Aníbal Silva é um Dom Sebastião, nem vai ter muita margem de manobra, porque é o Primeiro-Ministro que tem o poder executivo e ele se chama José Sócrates. Cabe ao Presidente ser duas coisas (e pedimos desculpas): pára-raios ou pára-fodas e cabe a ele decidir qual dos dois vai escolher. A história recente de Portugal demonstra que em dois mandatos, os Presidentes escolhem a primeira opção para o primeiro e a segunda para o segundo, talvez olhando para o livro da história e desejosos para fazer algo, seja ele o que for. Só o tempo dirá em que categoria fica o Presidente Silva.

Para aqueles que escolheram Professor Silva porque é economista, seria a mesma coisa os sportinguistas escolherem um guarda-redes para o próximo presidente no caso do Ricardo apanhar a gripe das aves e começar a dar frangos outra vez.

Grande vitória para a esquerda

Um absurdo que tem sido espalhado por aí é que a direita venceu a esquerda nesta eleição. Que disparate! Se bem que o Partido Socialista tem uma ala esquerdista, neste momento, e cada vez mais, não se pode chamar uma formação da esquerda mas sim um partido da direita, nem do centro-direita. As verdadeiras formações da esquerda tinham dois candidatos com representação no Parlamento, Jerónimo de Sousa da CDU e Francisco Louça do Bloco de Esquerda e ambos defenderam seu espaço. Missão cumprida. Ou melhor: defenderam seu espaço numa altura em que poder-se-ia esperar uma polarização do voto para as formações maiores e mais representadas, mas mantiveram fiel o seu eleitorado. Mais que missão cumprida, foi uma grande vitória para a esquerda.

Quem foi o derrotado?

O grande derrotado seria o CDS/PP, formação de direita que depois de afastar Manuel Monteiro, viu adiada a sua agonia com acto masturbatório que foi a ascensão política de Paulo Portas, que depois do orgasmo, murchou – e deixou o CDS/PP sem espaço político, senão uma alternativa quando o PSD se torna demasiado indigesto, que acontece uma vez de quatro em quatro anos.

Não tendo apresentado candidato, o CDS/PP não deve congratular-se demasiado na vitória do Presidente Silva (que apoiou), porque afinal este partido é o quê?

Porém, o Partido Socialista também não saiu muito bem. Apresentou um candidato oficial, Dr. Mário Soares (14,34%) e o candidato independente (mas deputado do PS) Manuel Alegre (20,72%) e juntos, não conseguiram mobilizar o mesmo eleitorado que tinha dado a José Sócrates a maioria absoluta nas legislativas há um ano. Nem Aquiles nem o Hector sobreviveram a queda da Tróia.

Há que realçar no entanto o grande resultado pessoal do segundo, que sem aparelho partidário conseguiu mais que um milhão de votos e um lugar de destaque na sociedade portuguesa porque um em cada cinco cidadãos colocou sua fé nele, este gentleman culto e cultivado que teria feito uma excelente figura como Presidente.

Não se pode esquecer também a grande coragem de Mário Soares que demonstrou que um sénior pode e deve continuar a trabalhar, seguir suas ideais e ser parte íntegra da sociedade em que vive e que ajudou a formar. Que belo exemplo para as futuras gerações de seniores e que maravilhosa bofetada na cara para aqueles que diziam que “é velho demais” ou “seu tempo passou”. Essa atitude é igual a qualquer exclusivismo, como sexismo ou racismo e não pertence no mundo de hoje.

Mas também pode afirmar-se que o próprio PSD não tinha outro candidato senão Aníbal Silva, que tiveram de ir buscar no cabide da escuridão política, escovar-lhe as roupas e tirar o cheiro a naftalina, porque não havia mais ninguém. Então podemos concluir que se a direita tem um único candidato, que só conseguiu convencer 31% dos eleitores inscritos a depositarem o voto nele (são 8.830.706 eleitores inscritos e ele recebeu 2.745.491 votos), não é de bradar aos céus.

O cenário político

Cada vez mais se vê no mundo, e isso é especialmente visível em Portugal, um ziguezaguear entre duas formações da direita, que apresentam duas versões do mesmo filme. Neste filme o protagonista é a teimosa insistência em prosseguir com um modelo que simplesmente não funciona: o modelo capitalista-monetarista, onde a linha de fundo (os lucros) é superior à qualidade humana. O modelo tem como fundamento uma taxa de desemprego endémico, para começar, e visto que despesas públicas são tidas como uma aberração, o modelo corta de raiz qualquer componente que iria equilibrar o desequilíbrio criado pela sua fórmula.

Baseado em parte na especulação e não na riqueza real, o modelo não joga num campo liso, mas sim altera a posição das balizas quando convém ou quando começam a soar os sinos de pânico. Mantém o poder económico dos detentores da riqueza por sistemas de subsídios e tarifas, fecha as bolsas de valores quando os parâmetros começam a ser desconfortáveis (é como pagar o árbitro para parar o jogo aos 78 minutos).

Não se sabe se esse filme é uma comédia, uma tragédia ou um filme de horror mas cowboiada é, de certeza, e dos piores. O sistema seguido pela direita não funciona e daí que evidentemente os indicadores sociais pioram de mês a mês, de ano a ano, mas o povo continua a votar cegamente nos mesmos, esperando que aconteça um milagre…ou que apareça um Sebastião.

É que vão à festa e em vez daquela loura com olhos azuis sair do bolo, sai um Cavaco, ou pior, como numa festa para bulímicas, é o bolo que sai da moça.

Cabe às formações da esquerda a manutenção da verdade, que é o ideal Socialista, a continuação do excelente trabalho que fazem sem qualquer obcecação com o poder e ter fé que como água mole em pedra dura…

O que falta à esquerda, e outra vez, especialmente em Portugal, é um processo de diálogo franco e aberto, sem medo de ouvir opiniões diferentes e sem complexos existenciais.

Só assim se pode criar um ambiente para um crescimento sustentável e contínua e a eventual vitória da esquerda, que é a criação e implementação de um modelo.Socialista numa escala mundial.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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