Portugal arde

Portugal arde do norte ao sul, de lesta a oeste. Não é exagero, No final de semana passada, mais que 400 focos de incêndio arderam em todo o país, acrescentando vastas áreas chamuscadas e queimadas às já destruídas nos anos anteriores. Quem viaja de Lisboa ao Porto tem pela frente uma visão de como seria o Armagedon, durante quase a viagem inteira.

As cifras falam por si: 108 suspeitos de fogo posto criminal detidos este ano; 26.293 incêndios desde o dia 1 de janeiro, 419 destes no Sábado, 57 classificados como graves; no final de semana foram mobilizados 3.401 bombeiros com 956 veículos e 34 aviões. Tem sido, e continua a ser, há muitas semanas, uma operação vasta.

Causas

Condições depois da pior seca na memória viva na maior parte do país, juntamente com o facto que as férias de verão são sinónimas com expedições de alunos escolares a caminharem pelas florestas fora, cigarros sendo atirados descuidadamente do carro familiar a deambular pelo paisagem, a churrascaria no ar livre, todos contribuem para um reduzido número de incêndios causados por descuido.

Contudo, os portugueses não são estúpidos. A grande maioria destes incêndios são causados por agentes de fogo posto (por isso mais que 100 pessoas foram já detidas) e pior, e mais sinistro, os próprios que combatem os incêndios. São muitos os relatos de testemunhos oculares chegarem a PRAVDA.Ru, denunciarem casos de aviões de luta contra os incêndios a deitarem bombas incendiárias em florestas, garantindo trabalho que pagará as despesas por mais um ano.

Infelizmente, não podemos mostrar as fotografias porque os que as mostraram têm demasiado medo para se identificarem e um que mostrou e que lançou uma reclamação com as autoridades já teve um presente no seu quintal: uma bomba incendiária, deitada por uma avioneta de combate ao incêndio. Tanto é o medo que a maioria destes casos não chegam ao tribunal.

Uma pequena porcentagem dos aviões de combate aos incêndios são propriedade do estado. 92% das florestas em Portugal são propriedade privada, muitas destas em mau estado de conservação e cheias de lenha seca e caruma, prontas para aquela faísca para criar o Inferno.

Outra causa é uma falta aparente de legislação para tratar o problema, resultado da governação ineficaz durante as últimas décadas por formações da direita assumida (CDS/PP) ou do pseudo-centro (PSD, socias democratas ou PS, socialistas), dando lugar ao levantar de muitos sobrolhos e rumores que os próprios partidos políticos estão de qualquer forma ligados a lobbies interessados, ou então e mais deprimente, estão totalmente ineficazes no exercício de governação.

Soluções

Poderiam ser aplicadas várias soluções internas ou externas. Dado que em muitos casos os serviços de combate aos incêndios em Portugal foram esticados ao limite, significando que se os populares não tivessem vestido a camisa dos bombeiros, teriam perdido em muitos casos seus lares ou seus animais, é evidente que apesar das afirmações por governantes do PSD, CDS/PP e PS, Portugal não tem a capacidade de combater os incêndios florestais...ou então, que tem, mas teima em não ter.

Basta dizer que 2005 foi o segundo pior ano nos últimos 15, depois de 2003, em termos de hectares queimados (200.000 de acordo com alguns peritos), para afirmar que algo está mal, especialmente quando há uma solução viável.

Possíveis soluções internas seriam:

Nacionalizar o equipamento de combate contra os incêndios, garantindo que partidas de avionetas não criariam condições comerciais que colocariam em perigo as vidas dos portugueses;

Fazer com que os proprietários das florestas as mantivessem em condições mínimas estipuladas por lei (como o dono dum Rottweiler tem de manter o bicho açaimado);

Medidas draconianas contra os incendiários (que deveriam ser bem descritos na lei), como por exemplo um mínimo de 25 anos de prisão;

A colocação de equipamento de vigilância junto às florestas;

Finalmente e mais importante, um programa de consciencialização pública, incluindo spots publicitários, mesmo que sejam chocantes.

Ignorada a oferta da Rússia

Externamente, e como sempre, foi totalmente ignorada a oferta de apoio oriunda da Federação Russa, nomeadamente a oferta de equipamento testado contra incêndios para Europa e América de Norte.

Em Julho, Nikolai Kovalev, Director de Serviços do Ministério de Recursos Naturais da Federação Russa, declarou que a Rússia tinha “preocupações graves acerca dos fogos florestais em países europeus”, acrescentando que os russos estavam “prontos a oferecer assistência a esses países”.

A vasta experiência da Rússia em gestão de florestas está praticamente ignorada no mundo ocidental, apesar do facto que todos os anos a Rússia oferece o seu apoio. Por exemplo, mais uma vez em 2005, Valery Roshchupin, Director da Agência Federal de Florestas (Rosleskhos) disse que os incêndios em Portugal e noutros países da U.E. eram parecidos aos incêndios que deflagram na Rússia.

A Rússia tem equipamento especializado de combate aos incêndios florestais que está licenciada a operar no estrangeiro. Entre esse equipamento está o Waterbomber, também conhecido como o Ilyushin-76TD ou IL-76.

Qualquer pesquisa na Internet irá revelar que a capacidade desse avião chega a cinco vezes os seus rivais mais pertos...é mais barato, precisa duma pista de descolagem menor, e de facto só tem vantagens. Mas por quê é que não é utilizado amiúde?

É simples. Porque é russo.

Interesses investidos querem dizer que os lobbies, e as pessoas ligadas a eles, preferem que os cidadãos morrem queimados em vez de empregarem os meios mais eficazes e mais baratos.

A realidade é essa.

Timothy BANCROFT-HINCHEY PRAVDA.Ru

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