Crise no PT: "O irreversível declínio do PT está mudando o mapa político"

A realidade está deixando sem argumentos aqueles que ainda teimam em defender Lula, e se aceleram os movimentos entre setores da esquerda petista, que falam em organizar sua saída do partido depois do PED, alguns deles defendendo a vinda para o PSOL. Um importante grupo de parlamentares de esquerda formou o "PT Livre" que promete resistir e não mais "obedecer" as ordens políticas do Campo Majoritário. A Consulta Popular, por sua vez, lançou um documento começando a reconhecer que sua exigência ao governo de mudança de rumo não teve êxito, propondo mais uma vez a Refundação da Esquerda; a direção do MST, que cumpre um papel chave na sustentação do governo até o momento atual, aprofundou suas críticas mas sem deixar de contribuir para sua blindagem, e o novo presidente do PT, o ex. ministro Tarso Genro fala em Refundar o PT.

Saudamos a atitude de resistir daqueles que ainda acham que existe espaço para isso no PT, mas com toda franqueza lhes dizemos que não acreditamos na possibilidade de alguma mudança ou resgate do partido. Seja qual for o destino dos parlamentares e dos dirigentes da esquerda petista - aqueles que romperem com o governo sabem de nossa disposição para acolhe-los no PSOL - é evidente que estamos frente a um quadro de implosão do PT, não só política como física, com a perda, a derrota, a desmoralização e as renúncias do núcleo dirigente pertencente ao Campo Majoritário, sem que possamos descartar que alguns deles acabem cassados e até presos. Este fenômeno, sem dúvida, terá seus profundos reflexos no interior do PT, da CUT e dos sindicatos a ela filiados, nas entidades estudantis, populares e dos sem terra, e nas próximas eleições nacionais.

A substituição de Genoino por Tarso Genro na presidência do PT e seu projeto de Refundação, é sem dúvida uma verdadeira missão impossível. Pode até reduzir despesas, abandonar as reuniões nos hotéis 5 estrelas, deixar de pagar propinas: mas a natureza da crise do partido não é ética, ou não é somente ética, mas profundamente política e social e por isso não tem retorno. A atual crise é o subproduto de uma opção na sua política de alianças, quando o campo majoritário com o apoio de numerosos dirigentes, entre eles o próprio Tarso Genro, optou por procurar seus parceiros entre as fileiras da burguesia, para chegar ao poder a qualquer custo, financiado por banqueiros e grandes empresários para os quais obviamente acabou governando. A capitulação aos "mercados" significou uma virada, que não começou ontem, mas deu um salto qualitativo quando lançou a famosa "Carta ao povo brasileiro" se comprometendo a cumprir os acordos com o grande capital. Esta guinada significou o abandono de suas bandeiras de luta e de sua base social tradicional, o melhor da classe trabalhadora, do povo e da intelectualidade, para se adentrar nos grotões, substituindo o programa de mudanças pelas políticas sociais compensatórias, a militância pelos cabos eleitorais e o marketing de Duda Mendoça, e a política pelo clientelismo. A esta opção política correspondeu a ética de chiqueiro que o está levando ao túmulo.

Infelizmente, importantes setores da esquerda partidária assim como lideranças dos movimentos sociais, acompanharam -com mais ou menos críticas - este rumo, demonstrando que sua vinculação com o governo atual não se corresponde com a identificação ideológica para um projeto de mudanças favorável aos trabalhadores e ao povo. No nosso entender, tem mais a ver com adaptação fisiológica e interesses materiais que lhe advêm de suas carreiras parlamentares, de sua cercania com o poder, quando não diretamente da sua cooptação. Está mais do que claro o interesse da cúpula da CUT com a administração do FAT; sua cumplicidade e comprometimento com os fundos de pensão e com o projeto de reforma sindical que fortalece seu poderio material e seu controle sobre as organizações e as finanças sindicais, além de ter seu presidente recém nomeado como Ministro de Trabalho do governo Lula. A UNE, com sua direção majoritária controlada burocraticamente pelo PCdoB, vive de acordos financeiros com o governo e com prefeituras, sendo que a imprensa acaba de esclarecer que este ano, até agosto, a direção majoritária da UNE já recebeu o dobro dos recursos de 2003 e 2004: um total de R$ 1,185 milhão.

Por sua vez, a direção do mais importante movimento social das últimas décadas, o dos sem terra, - MST - pelo prestígio acumulado nos últimos anos ao dirigir importantes e massivas mobilizações contra FHC, cumpre hoje o principal papel na sustentação "pela esquerda" do atual governo o que está provocando insatisfação, crise e mal estar nas suas bases. Foram os dirigentes destas entidades, os que encabeçaram há pouco tempo um manifesto da Coordenação dos Movimentos Sociais, simbolicamente também chamado de "Carta ao povo brasileiro", denunciando um suposto "golpe" das elites contra o presidente e chamando à mobilização para defender Lula, à par que exigem mudanças na política econômica. São os mesmos que mais uma vez, estão chamando para o dia 16 de agosto uma marcha a Brasília, novamente disfarçada de luta por mudanças na economia e contra a corrupção, mas "em defesa do governo Lula, contra o golpismo branco das elites, por uma reforma política democrática" como se não fosse o governo Lula quem aliou-se à direita, adotando seu programa, sua política e seus métodos, direita que hoje blinda Lula e Palocci, com o entusiasta apoio do imperialismo norte-americano.

Não será com esta política que conseguiremos acabar com a corrupção, derrotar a política econômica nem refundar a esquerda. A primeira condição é a de identificar a natureza do governo Lula e constituir uma oposição de esquerda ao governo, baseada na mobilização dos trabalhadores e do povo e apoiando suas lutas e reivindicações. A segunda, constituir um projeto político, de luta e de poder, que represente com coerência os interesses dos trabalhadores e do povo pobre, das classes médias empobrecidas, dos pequenos produtores do campo e da cidade, profundamente radical na luta anti imperialista e anti capitalista, solidária com as lutas dos povos de nosso continente e do mundo, absolutamente democrática e claramente socialista, extraindo as conclusões dos erros e desvios que levaram a atual bancarrota do PT, sendo os mais importantes o abandono do classismo e a opção de mão única pela via institucional. Para este objetivo, buscamos contribuir os que fomos expulsos do PT e junto com outros muitos companheiros constituímos o PSOL.

Deputado Babá

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