O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta quinta-feira (7) que, com o diálogo permanente entre os países ricos e os em desenvolvimento, será possível consolidar uma governança global, democrática e solidária. A afirmação foi feita na Escócia durante reunião do G8, grupo que reúne a Rússia e os sete países mais ricos do mundo.
Lula disse que foi à Escócia com o sentimento de que se consolida o diálogo e a cooperação entre os dois blocos. Retomamos o diálogo lançado pelo presidente Chirac, em Evian, imprescindível para vencermos os desafios do século 21. Esta parceria leva em conta nossas diferenças. Mas valoriza, sobretudo, a aspiração comum por um mundo solidário e de paz, ressaltou.
Lula lembrou que o Brasil vem se esforçando para superar uma pesada herança econômica e social. Em dois anos e meio de governo, retomamos o crescimento econômico sustentado, reduzimos o desemprego e melhoramos as condições de vida de nossa população. Segundo o presidente, os compromissos se refletem na política externa implementada pelo seu governo.
Foco na pobreza
Para o presidente, é fundamental que um dos focos do encontro seja a pobreza que aflige, sobretudo, os africanos. Nas quatro viagens que fiz à África, visitei 13 países, onde assinamos inúmeros projetos de cooperação. Nosso compromisso com a África é mais do que um posicionamento político. Está inscrito em nossa alma, sublinhou.
A ação coletiva seria imprescindível para o país alcançar as Metas do Milênio. Aplaudimos a iniciativa do G-8 de aliviar a dívida dos países mais pobres. O Brasil, na medida de nossas possibilidades, vem cancelando dívidas de países da América Latina e da África, pedindo muitas vezes, como contrapartida, que realizem investimentos em educação. Mas é preciso mais, destacou.
Lula lembrou que seu governo está desenvolvendo ao país mecanismos financeiros inovadores que aportem recursos adicionais à ajuda oficial, de forma previsível e estável.
Dentre as várias propostas sugeridas no âmbito da ação contra a fome e a pobreza está a contribuição solidária, cobrança de pequeno valor no preço das passagens aéreas, indicou.
Reforma da ONU
O presidente lembrou os 60 anos da ONU (Organização das Nações Unidas). Somos chamados a reformá-la, para que esteja à altura dos ideais que inspiraram sua criação. Brasil, Alemanha, Índia e Japão - com o co-patrocínio e o apoio de muitos outros países, lembrou o presidente, promovem um projeto de reforma para ampliar o Conselho de Segurança.
"Há outros projetos, como o recentemente aprovado pela União Africana. O essencial é que não desperdicemos esta oportunidade histórica de adequar os instrumentos de ação coletiva à expectativa de grande parte da humanidade, em especial, dos países em desenvolvimento."
O presidente ressaltou que quer revitalizar o Conselho Econômico e Social. Para Lula, o desafio do desenvolvimento está na ordem do dia também na OMC (Organização Mundial do Comércio). A criação do G-20 foi iniciativa construtiva dos países em desenvolvimento para superar as distorções do comércio internacional. A redução de subsídios agrícolas abusivos é condição indispensável para o êxito da Agenda de Desenvolvimento de Doha, afirmou.
Responsabilidades climáticas
O presidente falou também sobre o problema das mudanças climáticas e afirmou que estes requerem ações urgentes de toda a comunidade internacional.
Todos temos responsabilidades. Porém, dentro do espírito da Convenção-Quadro e do Protocolo de Kyoto, essas responsabilidades são comuns, mas diferenciadas, disse.
Para conter as mudanças climáticas, declarou, é preciso rever padrões de produção e de consumo. É preciso intensificar a transferência, a preços acessíveis, de tecnologias aos países em desenvolvimento, onde estão as comunidades pobres e os ecossistemas mais vulneráveis ao efeito estufa.
Para Lula, o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é exemplo de parceria que deve inspirar outras iniciativas de cooperação. Esse espírito deve prevalecer nas negociações sobre o futuro do regime internacional relativo à mudança do clima após 2012.
Para Lula, não é possível perder de vista as vulnerabilidades das nações em desenvolvimento. No Brasil diversificamos a matriz energética. Demos prioridade às energias renováveis, ressaltou, lembrando que, no Brasil, 90% da energia é proveniente de hidrelétricas.
Contudo, lembrou, o país possui programas pioneiros no uso de biocombustíveis. Estamos promovendo a integração da agricultura familiar na produção do óleo de mamona, insumo para o Programa do Biodiesel. Somos líderes mundiais na produção de etanol. Meu governo está empenhado também na redução substancial do desmatamento, principal fonte das emissões brasileiras. Esse desafio mobiliza cada vez mais a sociedade brasileira em defesa da preservação da Amazônia, de nosso patrimônio natural, de um modelo de desenvolvimento sustentável."
Os líderes reunidos, afirmou Lula, representam metade da população do planeta e os problemas que enfrentam requerem visão crítica e abrangente.
O fato de estarmos juntos é, em si mesmo, motivo para otimismo. Estamos mobilizados em torno de um ideal comum. O que avançarmos aqui em Gleneagles e o que conquistamos em Evian será fundamental, concluiu.
PT
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