Festroia exibe retrato da Rússia pós-2ª Guerra

A produção russa “The Harvest Time” (Vremya zhatvy) será uma das duas produções russas a serem exibidas na 21ª edição do Festival Internacional de Cinema de Setúbal (Festroia), que ocorre entre os dias 28 de Maio e 5 de Junho. O primeiro filme da realizadora Marina Razbezhkina, também autora do argumento, será exibido às 24h do dia 29 de Maio, no Fórum Luísa Todi. No dia 1 de Junho, às 15h, no Auditório Municipal Charlot, será exibido o curta-metragem “Runaways”, de Orzu Sharipov, uma co-produção Tajiquistão/Rússia.

“The Harvest Time” chega a Portugal com a credencial da secção Descoberta da edição de 2004 da European Film Awards, que todos os anos elege filmes-revelação da nova produção cinematográfica europeia. O filme recebeu prémios no Festival Internacional de Moscovo e no Festival Internacional de Thessalónica (Grécia).

A história desenrola-se num ambiente de extrema penúria numa aldeia russa logo após a 2ª Guerra. Uma motorista de tractores sonha com um pano de chita para prender ao vestido, desejo que somente as autoridades podem conceder-lhe como prémio por uma “descomunal” dedicação ao trabalho. Como uma espécie de “reconhecimento”, é lhe oferecido um pano de veludo vermelho, também símbolo do comunismo. Mas é um prémio-desafio: ela terá que guardá-lo na sua casa – mantendo-o longe da cobiça dos ratos, por exemplo – porque estragos ou o seu desaparecimento podem significar a implicação de toda a sua família em traição ao regime. Este tipo de motivação era característico num ambiente onde a norma era a alienação…

Documentarista conceituada, Marina Razbezhkina faz sua estreia na ficção, mas não abandonando totalmente alguns dos recursos linguísticos típicos do documentário. A acção passa-se numa aldeia russa verídica, são utilizados actores não-profissionais e o trabalho fotográfico faz um registo realista das paisagens rurais. Já o curta de Orzu Sharipov, “Runaways”, é uma co-produção Tajiquistão/Rússia, e acompanha a trajectória de um grupo de refugiados afegãos que tenta escapar da guerra instalando-se numa ilha deserta do rio Panj, que traça a fronteira entre o Afeganistão e o Tajiquistão. As mulheres transportam as crianças pequenas, enquanto os homens e os burros levam tudo aquilo que necessitam para sobreviver. Sem diálogos, Sharipov deixa as imagens falarem por si próprias, retratando com música afegã de fundo uma situação que atinge milhares de refugiados no Afeganistão: a procura de segurança em ilhas desabitadas ao longo da fronteira. “Runaways” foi exibido nos festivais de Praga (Abril de 2005) e Leipzig (Outubro de 2004). É o sexto trabalho do realizador nascido no Tajiquistão. O seu filme anterior, também com uma forte temática social, “Live Container”, foi exibido no 2º Festival de Cinema de Direitos Humanos, realizado em 2004 em Genebra (Suíça). Mostrava a vida na prisão de mulheres que, no Tajiquistão, eram utilizadas por traficantes para transportar heroína dentro delas próprias. Enquanto elas eram presas, os verdadeiros criminosos nunca eram envolvidos…

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