Para o efeito usou uma das já rotineiras e saudáveis declarações de denúncia da corrupção endémica em Portugal para fazer disso um facto político. E fê-lo numa época de troca de governos, certamente não por acaso: precisamente para confrontar o novo governo com o facto consumado, perante o qual apenas terá que tomar uma de duas posições: contra ou a favor deles (onde é que já ouvi isto?).
É sinal de que tudo vai ficar na mesma, quanto à impotência do governo face às corporações, a declaração televisiva do porta-voz do PS, que apesar de reconhecer a inviabilidade legal dos processos que ameaçam dar entrada nos tribunais para os ocupar e gastar dinheiro público decidiu manifestar-se contra a forma de expressão do Prof. fiscalista.
O que se espera do governo é que cuide dos problemas dos portugueses e não que se deixe envolver em polémicas de carácter ou de forma, e muito menos que preste vassalagem a poderes fácticos intolerantes e prepotentes.
Saldanha Sanches tornou-se conhecido da opinião pública à medida que a questão fiscal se tornou obviamente escandalosa, tanto quanto a incapacidade do Estado em assegurar a credibilidade do sistema fiscal. De tal maneira o assunto é central e incómodo que o professor se tornou comentador reconhecido e influente. Querem calar essa voz? Quem o deseja?
A sua independência partidária tem sido garante da firmeza de posições, em contraste com a subserviência dos nossos legítimos representantes, aparentemente impotentes. Como dizia o outro, é preciso afastar a má moeda, mas não foi essa a intenção manifestada. E foi pena.
Recriar a confiança de que os portugueses precisam para mudar Portugal é a principal tarefa política, actualmente. A fiabilidade do sistema fiscal, a transparência do financiamento autárquico e dos partidos bem como a perseguição da riqueza súbita e inexplicada são tarefas prioritárias, e não se fazem com os que serão mais prejudicados, aqueles que tem por modo de vida acumular privilégios.
O Professor Saldanha Sanches não é uma ameaça para os portugueses. Porque é que é uma ameaça para os autarcas?
António Pedro Dores
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