Impressiona o fato de que, apesar de toda a gritaria de diversos setores da economia (aqueles que empregam ou trabalham e não apenas dão palpites), o jornal consiga produzir frases como “Economistas: alta de juros tem efeito a curto prazo, mas garante salários”.
Curioso, fui verificar quem são os “economistas”. Concordam com essa opinião apenas dois “especialistas”: Luís Roberto Cunha, professor da PUC-Rio, adepto das políticas de Malan e Palocci, e José Márcio Camargo, da consultoria Tendências, outra organização partidária do ex-presidente Fernando Henrique e no qual trabalham alguns dos analistas que quebraram o país. Os dois são da mesma linha, monetarista, nome oficial do que se costuma chamar ‘neoliberal’.
Lá no meio da reportagem colocam a opinião de um professor da UFRJ, que acha a decisão “sempre ruim do ponto de vista das expectativas”. Não está, portanto, incluído entre os “economistas” do título, apesar de ser um.
Depois, a repórter: “Os analistas também sugerem como alternativa para segurar a inflação, em vez de uma alta dos juros, um aperto na política fiscal, com a elevação da meta de superávit do governo, hoje em 4,25% do PIB”.
A idéia de restringir investimentos a este patamar sob o pretexto de “reduzir a atividade econômica e, assim, evitar alta de preços” soa absurda para muitos – os economistas não ouvidos, que provavelmente não existem para o jornal. Na Argentina, a meta é de 3% e mesmo assim é considerada alta.
Mas “economistas” concordam com isso. Quantos? Um. O mesmo e José Márcio Camargo, ouvido acima. Da mesma consultoria, a Tendências.
Gustavo Barreto é editor da revista Consciência.Net (www.consciencia.net), colaborador do Núcleo Piratininga de Comunicação (www.piratininga.org.br), estudante de Comunicação Social da UFRJ e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Inciação Científica (PIBIC) pela ECO/UFRJ
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