A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, candidata à reeleição da maior cidade do país, tem como uma de suas prioridades para um eventual novo mandato a ampliação e qualificação dos serviços de saúde para a população. Ela aponta os avanços que conquistou nesta área, apesar das dificuldades herdadas das duas gestões anteriores de Paulo Maluf e Celso Pitta , quando o sistema de saúde do município foi praticamente destruído, e detalha seu plano de recuperação do setor.
Vamos acabar com a demora no atendimento por meio da rede de especialidades médicas em um verdadeiro CEU para a saúde municipal, afirmou a prefeita, referindo-se aos Centros de Educação Unificados, que, sob sua gestão, revolucionaram o sistema educacional da cidade.
Em entrevista exclusiva ao Portal do PT, a prefeita faz um resumo das principais ações de seu governo e destaca as dificuldades que não temeu enfrentar para conseguir avançar, como a chamada máfia dos transportes e a dívida herdada das gestões anteriores e inflada pelos juros altos da gestão FHC. Leia a íntegra:
Por que a senhora quis se recandidatar?
Quando assumi a prefeitura, em 2001, encontrei uma cidade completamente abandonada: o sistema de transportes não funcionava, a educação estava maltratada e a saúde estava imersa em um mar de denúncias de corrupção por causa do desgoverno do PAS. Começamos a trabalhar firmemente para mudar esse quadro. E colocamos São Paulo novamente nos trilhos.
Na área de educação, passamos a investir 31% do Orçamento dando uniformes para 1 milhão de crianças, transporte gratuito e uma merenda de melhor qualidade com carne, frutas, legumes, arroz, feijão e sobremesa. Criamos 200 mil vagas novas em toda a rede municipal e construímos 21 CEUS (Centros de Educação Unificados) nas regiões mais carentes da cidade. Os CEUS são equipados com teatro, cinema, telecentro, quadras esportivas e piscina e beneficiam toda a comunidade, já que ficam abertos para uso livre nos finais de semana. No setor de transportes, enfrentamos uma máfia formada por empresários e sindicalistas que impediam melhorias nessa área. Quem saía perdendo era o paulistano. Depois dessa vitória, conseguimos avanços significativos como a renovação da frota com 7.500 novos ônibus, a construção dos Passa-Rápido (corredores para ônibus sem barreiras físicas) e implementação do Bilhete Único. Aliás, ficamos muito orgulhosos com esse nosso programa, que foi aprovado por 81% da população, segundo pesquisa Datafolha. Quanto à área da Saúde, ainda não estou satisfeita, até porque a saúde é um setor que vai mal no Brasil todo. Mesmo assim, já implantamos o maior Programa de Saúde da Família do Brasil e contamos hoje com 12 Farmácias Populares. Temos também o maior conjunto de programas sociais municipais do mundo. São 1,4 milhão de pessoas beneficiadas, o equivalente a quase 15% da população de São Paulo. Outra importante vitória foi a aprovação de um novo Plano Diretor da cidade.
E quero ser prefeita novamente para dar continuidade a esses programas já aprovados pela população e para que possa fazer por outras áreas como a saúde o que fizemos pela educação e pelo transportes.
O que foi feito na área da Saúde durante sua gestão?
Este é um setor que teve pouco desenvolvimento em todo o Brasil. Mas isso não quer dizer que não tenhamos tomado medidas essenciais. No caso da dengue, por exemplo, enquanto todo o país amargurava com novos casos da doença à mesma época em que o então ministro da Saúde José Serra demitia 5.000 agentes mata-mosquitos nós conseguimos controlar os casos. Neste ano, não houve nenhuma ocorrência da doença em São Paulo. Também tivemos que nos empenhar para melhorar o serviço dos postos de saúde que, no governo anterior, estavam nas mãos das empresas controladoras do PAS. Começamos já em 2001 com o processo de municipalização para que a cidade voltasse a receber do governo federal R$ 100 milhões mensais da saúde. Quando assumimos a prefeitura, encontramos os 15 hospitais da cidade em estado precário e tivemos que recompô-los. Hoje temos 700 equipes do Programa de Saúde da Família, que atendem a 3 milhões de pessoas. Contamos com 136 ambulâncias e 19 mamógrafos - na gestão anterior apenas cinco aparelhos funcionavam. O número de mortalidade infantil e materna caiu consideravelmente. Mas na próxima gestão darei prioridade a essa área.
Quais são os seus planos para a Saúde ?
Podemos começar a trabalhar para diminuir o déficit de leitos hospitalares. Estamos construindo o Hospital Cidade Tiradentes, na Zona Leste, e um outro será erguido em MBoi Mirim. Também iremos modernizar os outros hospitais com investimentos de R$ 360 milhões nos próximos três anos, completar a informatização da rede de serviço e integrar o Programa de Saúde da Família com as unidades básicas de saúde. Além disso, queremos enviar remédios a pacientes portadores de doenças crônicas pelo correio. Para o próximo mandato, garanto uma revolução na saúde, vamos acabar com a demora no atendimento por meio da rede de especialidades médicas em um verdadeiro CEU para a saúde municipal.
Que outros destaques constam de seu plano de governo para o próximo mandato?
Minha campanha é, até agora, a única que já publicou suas diretrizes de governo para os próximos quatro anos, entre as quais figuram a ampliação da rede CEU de educação municipal. Além de colocar todo o nosso empenho para remodelar a saúde, a fim de ampliar e qualificar o atendimento à população, vamos continuar a priorizar a educação: vamos construir mais 24 CEUS e pretendemos integrá-los, junto com as 21 unidades já em funcionamento, à toda rede de ensino municipal formando a Rede CEU. Também pretendemos reduzir o tempo do passageiro pela metade no transporte municipal, estendendo os corredores Passa-Rápido, construindo novos terminais e implantando o Bilhete Único também no Metrô e no Interurbano. Para isso, pretendemos negociar com o governo do Estado.
Quais os principais obstáculos enfrentados na atual gestão?
Quando assumi o cargo, o panorama da cidade era o pior possível. Eu já imaginava que a situação com a qual iria me deparar era grave. Mas não tinha idéia do grau dessa gravidade. O setor de transportes estava dominado por um grupo sem preocupação alguma com a cidade. Tive que lutar com essa máfia e fui obrigada até usar colete à prova de balas. Mas a gente enfrentou um a um: obrigamos os empresários a melhorarem a qualidade do transporte com a renovação da frota, enfrentamos a direção de sindicatos que promoviam greves sem motivos, implantamos o Bilhete Único, construímos os Passa-Rápido, novos terminais e estações de transferência. Hoje o serviço de transporte público é muito melhor em São Paulo. Assim também aconteceu com o desmonte do PAS. Houve muita resistência, principalmente por parte das empresas privadas que administravam os módulos do PAS. Mas vencemos e municipalizamos o serviço.
Além disso, recebemos uma outra herança que dificultou muito nosso trabalho: a dívida contraída pelos dois últimos governos municipais e inflada pelos juros altíssimos do governo Fernando Henrique Cardoso. Tivemos que usar da criatividade e do nosso esforço para que o crescimento da cidade não ficasse engessado por causa dessa dívida, cujo acordo foi mal feito pelo prefeito anterior. Ainda hoje, comprometemos 13% de nossa dívida com esse pagamento.
Como a sra. vê a relação da prefeitura com a Câmara dos Vereadores?
Nós já temos hoje uma excelente relação com a câmara municipal. Nossa base de apoio nos dá segurança para aprovarmos todos os projetos de interesse da população, sejam eles de origem do Executivo ou do Legislativo. E esse bom relacionamento vai continuar.
Os adversários do PT devem centrar ataques no governo Lula, especialmente em São Paulo, onde há uma polarização entre o PT e o PSDB. Como sua campanha está se preparando para responder aos ataques?
Acredito que os temas municipais deverão centralizar o debate na campanha. O cidadão quer saber quais os projetos para sua cidade, para a sua comunidade, enfim, se interessa por assuntos que dizem respeito ao seu dia-a-dia. Mesmo assim, não vamos nos furtar a debater nenhum tema nacional, até porque o Lula está fazendo um ótimo governo, em todas as áreas, em particular na política econômica e seus resultados na geração de empregos.
Quais suas expectativas em relação à sua campanha e em relação ao PT como um todo para estas eleições?
São muito boas. A população paulistana está vendo os frutos da nossa gestão, que tem muitos carimbos petistas, que são as políticas públicas voltadas à população mais necessitada. As prefeituras do PT têm excelentes resultados para mostrar e, no Brasil, temos fortes sinais de recuperação econômica por conta da acertada política em Brasília. E, mais do que isso, temos a maior e mais aguerrida militância do Brasil.
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