Povo Yanomami solicita apoio do governo para combater maior invasão desde demarcação

Povo Yanomami solicita apoio do governo para combater maior invasão desde demarcação

Alarmadas com a presença de cerca de 10 mil garimpeiros em suas terras, lideranças indígenas foram até Brasília pedir auxílio das autoridades para enfrentar invasores

 

Cada vez mais assustados com as invasões de garimpeiros em seu território, os Yanomami foram até Brasília pedir que o Estado cumpra seu papel no combate à criminalidade na Terra Indígena Yanomami. Desde o início do ano, o garimpo ilegal explodiu, ameaçando os povos indígenas que vivem ali. É a maior invasão desde que a TI foi demarcada, em 1992.

Na semana passada, uma comitiva dos povos Yanomami e Ye'kwana denunciou a situação ao Ibama, Funai, Ministério da Justiça, Ministério da Defesa, Ministério Público Federal e na Secretaria de Governo. Mais uma vez, os Yanomami e Yek'wana deixaram claro que não querem o garimpo em suas terras. "O garimpo não traz benefício pra ninguém. Só traz doença e degradação ambiental. Não tem dinheiro que pague a nossa floresta, os rios e as vidas do nosso povo", afirmou Davi Kopenawa, presidente da Hutukara (Associação Yanomami) e liderança histórica de seu povo, em reunião no Ministério Público Federal.

A estimativa é de que mais de dez mil garimpeiros estejam ilegalmente na terra indígena, poluindo os rios com mercúrio e assoreando seus leitos, derrubando a floresta, acabando com a caça, desencadeando violência e prostituição de mulheres indígenas. Outro risco iminente é o de contato com os povos indígenas isolados. Três pistas de pouso para aviões do garimpo e três áreas de exploração ilegal foram identificadas em zonas de circulação desses grupos, especialmente vulneráveis às doenças trazidas pelo homem branco. Hoje, a Terra Indígena Yanomami abriga sete registros de povos em isolamento voluntário, segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), apenas na porção brasileira do território.

No final de 2018, o Exército desativou duas bases nas regiões dos Rios Mucajaí e Uraricoera, as principais passagens utilizadas pelos garimpeiros para entrar na área. Desde então, o número de invasores explodiu - inclusive com a reconstrução de uma vila dentro da TI, na região chamada de Tatuzão do Mutum.

Em fevereiro de 2019, monitoramento detectou 1.096 hectares degradados em decorrência do garimpo na região, o equivalente a mil campos de futebol. Em março de 2019, as áreas de garimpo aumentaram na maioria das localidades analisadas. Em Watho u/ Koni, uma das regiões da TI monitoradas pelos índios, esse aumento foi de 258%.

As consequências da invasão garimpeira já são sentidas na capital de Roraima, Boa Vista, com a contaminação das águas que chegam na cidade - e que viajam 570 km desde o primeiro garimpo da TI Yanomami. A turbidez das águas do Mucajaí e Uraricoera, principais rios da terra indígena, está em nível muito acima do esperado para essa época do ano. Esses dois rios formam o Rio Branco, que corta a cidade de Boa Vista.

Análise da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Fermarh) em parceria com a Universidade Estadual de Roraima (UERR) mostrou que a turbidez (indicador que mede a quantidade de partículas em suspensão na água), que deveria estar em 17, chegou a 91. Segundo Ivanise Maria Rizzatti, pesquisadora da UERR que conduziu as análises, o índice indica contaminação da água. "A turbidez elevada causa a mortandade de peixes por falta de oxigenação", diz ela. Segundo a pesquisadora, o garimpo e o esgoto lançado sem tratamento são as principais causas para a contaminação.

A boa notícia é que a Fundação Nacional do Índio (Funai) anunciou que vai reabrir as bases de Proteção Etnoambiental na TI, que haviam sido fechadas por problemas orçamentários. Segundo o órgão, serão reativadas as bases Demarcação, no Rio Mucajaí; Kore-korema, no Rio Uraricoera; e Serra da Estrutura, no afluente do Mucajaí.

Problema histórico

O problema do garimpo na Terra Indígena Yanomami é histórico. Na década de 1980, mais de 45 mil garimpeiros invadiram a região em uma corrida por ouro estimulada pelo governo. À época, cerca de 20% da população Yanomami morreu em decorrência de doenças. Entre 1987 e 1989, estima-se que 2.003 balsas de garimpo trafegavam pelo Rio Uraricoera. (Veja linha do tempo).

Operações frequentes de combate da Polícia Federal e a presença constante do Exército e da Funai na área conseguiram controlar e reduzir o número de invasores nos últimos anos. Em 2018, a presença do Exército foi responsável pela saída de mais de 1.500 garimpeiros do Rio Uraricoera. Em 2015, porém, três bases da Funai foram fechadas. No fim do ano passado, a base do Exército também foi encerrada e a situação voltou a se agravar.

 

 

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