PROJECTO DA CASA DA MÚSICA AMEAÇADO

Hoje, PSD e CDS recusaram liminarmente a vinda do ministro à comissão. Das duas uma, ou o ministro mudou de opinião, ou a maioria não quer que este dê a sua opinião.

Nenhum projecto depende de uma só pessoa e ninguém é insubstituível. No entanto, é do mais elementar bom senso reconhecer que o pianista Pedro Burmester, para além de artista reputado nacional e internacionalmente, manuseia, como ninguém, os diferentes e complexos aspectos do projecto da Casa da Música, desde a sua génese primeira até ao momento actual, sendo, além do mais, unanimemente reconhecido no campo cultural como a pessoa que melhor asseguraria a programação e direcção artística de um equipamento absolutamente crucial para manter viva a esperança de um Porto como cidade que aposta na cultura, nos seus criadores e públicos.

A equipa de Pedro Burmester tem conseguido manter, desde 2001, mesmo sem o equipamento que lhe serve de base, uma programação regular e diversificada de altíssima qualidade e com um exemplar departamento educativo que construiu, através de um trabalho persistente e doloroso, porque à míngua de recursos, pontes com as populações portuenses social e culturalmente excluídas.

A actual Administração da Casa da Música surge na sequência da vergonhosa tentativa de saneamento político de Pedro Burmester por parte do Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto e do dirigente distrital do PSD, Marco António Costa, enquanto compromisso possível entre os principais accionistas – Estado e Ministério da Cultura, por um lado, e Câmara Municipal do Porto, por outro. Pedro Burmester foi convidado a permanecer no projecto como consultor do Presidente do Conselho de Administração para a programação artística.

O tempo foi mostrando, não só que a anterior administração, de Rui Amaral, que Burmester criticou com sensatez e coragem, geriu de forma caótica o projecto, como a actual administração, em particular o seu Presidente, coadjuvado pelo «boy» laranja, ideólogo e demiurgo da presidência de Rui Rio, Agostinho Branquinho, nada conhecem da realidade que pretendem gerir, isto é, o campo da música no Porto, na região e no país. Aliás, a prestação de Alves Monteiro na Comissão de educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República deixou bem patente esse gritante desconhecimento.

Assim, a nomeação do britânico Anthony Withworth-Jones para Director Artístico da Casa da Música, merece ao Bloco de Esquerda a seguinte leitura:

- trata-se, antes de mais, da segunda fase de saneamento político de Pedro Burmester, dado que a primeira tentativa, para além de ter contado com o mais vivo repúdio da opinião pública e publicada mereceu, igualmente, nítidos reparos do Ministério da Cultura;

- representa uma séria ruptura com o projecto aprovado para a casa da música, já que o Director Artístico nomeado, para além de experiências anteriores no domínio da gestão cultural (e não da programação artística) possui um conhecimento circunscrito à área da música clássica. Ora, o projecto da Casa da Música, como se sabe, aposta no eclectismo de géneros, na diversidade da oferta e na captação plural de públicos socialmente diversificados;

- significa um procedimento ético do mais baixo nível, já que nem Pedro Burmester (consultor do Presidente do Conselho de Administração para a programação musical!), nem a sua equipa, foram informados ou consultados, sabendo da notícia da nomeação de um Director Artístico pela comunicação social.

O Bloco de Esquerda apela à rápida intervenção do Senhor Ministro da Cultura no sentido de repor o sentido original do projecto da Casa da Música, indo de imediato requerer a sua presença na Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República para prestar esclarecimentos, nomeadamente sobre se deu o seu aval a esta nomeação, que é tudo menos transparente e bem-intencionada.

Bloco de Esquerda

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