Assassinato como rotina

Neste início de outubro, mês que os católicos dedicam às missões evangelizadoras e os brasileiros festejam sua Padroeira, a imagem negra de Nossa Senhora, achada em 1717, nas redes de três pescadores, no Rio Paraíba do Sul, ocorrerem dois eventos de agressão à humanidade.

Pedro Augusto Pinho*

 

Um, midiatizado e transmitido ad nauseam pelas redes de televisão, dá conta da morte de 50 pessoas e de 400 outras feridas pela ação individual de um senhor de 64 anos, possivelmente num surto psicótico, ocorrido nos Estados Unidos da América (EUA).

Outro, muito mais grave no meu entendimento, trata de 800 pessoas agredidas pelas forças policiais espanholas quando, no gozo de seus direitos políticos, participavam de um plebiscito sobre a criação do Estado Nacional da Catalunha.

Se há o que lamentar, pela dor dos 450 atingidos em Las Vegas, muito mais devemos chorar, não só pelos 800 agredidos, mas pela população de Barcelona, de Tarragona e de outras cidades da Comunidade Autônoma da Catalunha (CAC).

Vejamos alguns dados. O evento estadunidense se deu na cidade símbolo do jogo, Las Vegas. Criada no início do século XX, como decorrente da marcha para o oeste no século anterior, Las Vegas, no Estado de Nevada, é sua cidade mais populosa. Até 2006, quando foi superada por Macau, na China, era o maior local de jogo no planeta.

Para lá fluem pessoas de todo mundo, enfeitiçadas pela suntuosidade dos cassinos e pela promessa de ganho fácil. Até surpreende, ou talvez a publicidade oculte, que não se deem casos mais frequentes de violência. Afinal o jogo produz mais perdas do que ganhos para os jogadores. Ou não enriqueceria os cofres particulares de seus donos de cassino e públicos pelos impostos coletados.

Não havia, até o momento que escrevo, sido encontrada a motivação do idoso assassino. Mas o interesse político e midiático logo encontrará uma razão que mantenha a 2ª Emenda e não decline os rendimentos de Las Vegas.

Donald Trump foi eleito, como penso e já me manifestei, pelo uso inteligente do mito americano do empreendedor individual, honesto e dedicado. Este mito, criado pelos próprios fundadores, incluía a autodefesa.

Afinal sempre houve um inimigo do desenvolvimento dos EUA. Naquela remota era foram os índios, para quem as balas dos pioneiros eram direcionadas. Mais tarde para os comunistas, como sentiram na pele (sem trocadilho) o casal Julius e Ethel Rosenberg, há quase 100 anos. Hoje são os islâmicos. A armas da 2ª Emenda são, portanto, sempre necessárias.

E este conjunto, com uma sociedade de desigualdades sociais e econômicas, cujo povo também sofre com o governo universal do sistema financeiro (a banca), com as discriminações incutidas pelo sistema educacional e reforçada pela comunicação de massas, faz dos EUA um dos lugares mais perigosos do mundo. E, comprovando, houve recentemente 50 mortes em Orlando e, volta e meia, algum transtornado - e não faltam motivos para se transtornarem, até a adesão à religião mal conhecida ou internalizada - produz mais assassinatos, inclusive em escolas, com morte de crianças.

Aqui, nesta colônia, há quem coloque seu ideal de vida morar em Miami (!).

Na Espanha encontramos uma realidade inteiramente diferente, salvo quanto à origem econômica. Pois aquele país também sofre a presença deste polvo gigantesco, a banca, o sistema financeiro internacional.

De um progresso econômico invejável, há pouco menos de meio século, a Espanha passou a disputar com a Grécia, Portugal e Itália o troféu Pátria do Desemprego. E também, como já conhecemos aqui, eles passaram a receber a visita do FMI para desenvolvidos europeus: além do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia ou numa única palavra: Troika. Bem conhecida dos gregos.

A miséria social que acompanha a banca levou a rica Catalunha a, mais uma vez, buscar sua independência política. Talvez meu caro leitor desconheça que as placas de rua, as informações públicas em quase todos locais em Barcelona, Tarragona, Girona, Lérida são escritas em catalão. Livros são editados, músicas são cantadas, peças são encenadas em catalão. E o catalão é a língua da oficial da vizinha Andorra.

E existe um sentimento de nacionalidade catalã bem mais antigo, que luta contra a França e a Espanha há mais de um século.

A violência do governo espanhol faz rememorar a hitlerismo do Generalíssimo Franco. É mais um retrocesso civilizatório na conta da banca.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

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