O PSD foi obrigado a desmentir-se duas vezes, para agradar ao seu companheiro de coligação. No caso da prescrição médica de cannabis, em que a JSD teve de esquecer tudo o que disseram sobre o assunto, e no caso do regime de reformas dos bailarinos, tendo sido o PSD obrigado a meter o seu projecto de Lei na gaveta e a desautorizar publicamente o Presidente da Assembleia da República. Neste caso, foi a ordem veio do ministro Bagão Félix, também da área do PP.
Depois de uma manhã tão confrangedora para a maioria, não espanta que do governo venham agora as mais extraordinárias afirmações. Disse hoje o ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, que o projecto sobre a prescrição médica da cannabis para doentes terminais é uma política aventureirista e que não aceita tomar posições em cima do joelho.
Antes de mais, o Bloco de Esquerda saúda a chegada do ministro ao debate. Veio tarde, mas mais vale tarde do que nunca. É que, até agora, este assunto estava entregue ao responsável pela droga e toxicodependência, Fernando Negrão, mostrando a confusão que vai na cabeça da maioria sobre esta matéria. Mas houve dois Negrões neste processo. Um dizia, a 23 de Outubro de 2003, à Visão: «não sou contra o uso clínico da cannabis» e anunciou que o Ministério da Saúde estava a trabalhar no sentido de autorizar esta medida. A JSD levou a sério e empenhou-se na causa.
Mas depois vieram outras ordens e Negrão entrou na sua segunda fase em que dizia, na Audição Parlamentar do PP, no dia 10 de Fevereiro, «a cannabis está pouco estudada e não deve ser usada para fins médicos». Honra lhes seja feita, o PP faz milagres com as pessoas.
O ministro da Saúde, o mesmo que se preparava para autorizar a medida, também foi afectado por este surto de esquizofrenia colectiva e vem agora dizer o contrário do que defendia.
No entanto, registamos o desconhecimento do ministro da Saúde de uma das matérias que, nos últimos anos, mais tem convocado a comunidade científica mundial. Algumas das mais importantes revistas científicas (The Lancet, New England Journal of Medicine ou o Journal of the American Medical Association) já se pronunciaram a favor dos benefícios terapêuticos da cannabis para o alívio da dor em doentes a fazerem tratamento de quimioterapia ou no combate à perda de peso em pacientes infectados com o HIV.
10 estados do EUA, o Canadá, a Holanda, a Inglaterra e a Nova Zelândia autorizaram a produção de medicamentos à base de cannabis. Será que Luís Filipe Vieira está a insinuar que estes governos são aventureiristase trabalham em cima do joelho? E, nas reuniões da União Europeia, será que o ministro da saúde já chamou a atenção dos seus congéneres inglês e holandês, por terem tomado medidas sem informação sobre a matéria?
Não são científicos os argumentos da maioria que Luís Filipe Vieira reproduz. Apenas tentam esconder a evidência: hoje, quem manda no governo são os ministros do Partido Popular. Ao PSD resta apenas repetir a cartilha dos perconceitos.
Bloco de Esquerda
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