Luciana Genro sobre as expulsões do PT

A SEMANA

Confira a repercussão na imprensa da decisão do Diretório Nacional do PT.

PT expulsa radicais que desafiaram governo

O hotel mais sofisticado de Brasília foi o cenário para o julgamento dos quatro radicais do PT. O diretório nacional usou as dependências do Blue Tree Park, às margens do Lago Paranoá, para ser inclemente. Por 55 votos a favor e 27 contra, os deputados Luciana Genro (RS), João Batista Araújo, o Babá (PA), João Fontes (SE) e a senadora Heloísa Helena (AL) foram expulsos.

A corrente da senadora alagoana, a Democracia Socialista (DS), já recorreu da decisão, mas somente em nome de Heloísa.

O pedido deveria ser analisado no próximo encontro nacional do PT, em 2005, mas a DS reivindica que se adiante o processo. Os deputados anunciaram que criarão um novo partido.

- Não há razão suficiente para expulsão - reclamou o gaúcho Raul Pont (RS), um dos que foram a Brasília tentar garantir a permanência dos companheiros, e, agora, trabalha por Heloísa.

Foram seis horas de uma reunião tensa e sem brechas para mudança de uma decisão tomada pela cúpula do PT. Já na disposição dos participantes no auditório, o grupo favorável pelo afastamento se acomodou de um lado do auditório, separados daqueles que tentaram salvar os radicais.

A expulsão de João Fontes, por rito sumário, foi a primeira da tarde de ontem. Contra ele houve o fato de ter exposto uma antiga fita em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - na época sindicalista- criticava o atual presidente do Senado, José Sarney. Depois, se seguiu o julgamento dos outros dois deputados e da senadora, por processo disciplinar. O pecado: não terem votado junto com o governo em questões como a reforma da Previdência.

- Das 23 votações no Senado cruciais para o governo, em 19 a Heloísa Helena votou contra. Nem nos enfrentamentos com a oposição conservadora a senadora votou com a gente - reclamou o senador Aloísio Mercadante (SP).

Manifestantes foram mantidos à distância pelos seguranças

Seis petistas acusaram e outros seis puderam defender os colegas. Além disso, cada um dos um dos acusados teve 15 minutos para a sua defesa. A da senadora foi a mais emocionada: * Não peço desculpas, não quero perdão. Se pedisse desculpas estaria negando a história do PT.

Do lado de fora, o tamanho do hotel e o esquema de segurança deixaram de longe os manifestantes que clamavam pelos radicais. Aqueles que conseguiram caminhar até a porta, não puderam entrar, e fizeram o barulho que puderam: - Coerência não faz mal, a onda agora é todo mundo radical - gritaram.

O professor Ciência Política da Universidade Federal de Pelotas Luiz Carlos Gonçalves Lucas adiantava que encaminhará a desfiliação hoje.

- Mando uma carta simples: desfilio-me enojado. PT saudações - revelou. Enquanto o PT decidia o destino dos parlamentares, hóspedes aproveitavam a tarde quente e ensolarada de Brasília para desfrutar a piscina e a sala de ginástica ou para apreciar o movimento de lanchas e barcos a vela, às vezes se misturando aos manifestantes. Alguns, se sentiram incomodados pelo esquema de segurança. O presidente do PT, José Genoino, disse que pediria desculpas ao dono do hotel. No final da reunião, Genoino afirmou que a decisão pela expulsão foi necessária.

- O PT é maior do que todos nós, inclusive do que fundador - encerrou a questão.

Quem são os expulsos

Heloísa Helena , Senadora (AL), Idade: 41, Tendência: Democracia Socialista, Filiação ao PT: 1985 Mandatos: vice-prefeita de Maceió (1993-1994), deputada estadual (1995-1999) e senadora (desde 1999) João Fontes, Deputado federal (SE), Idade: 45, Tendência: nenhuma, Filiação ao PT: 1999 Mandatos: deputado federal (desde janeiro de 2003) Luciana Genro, Deputada federal (RS), Idade: 32, Tendência: Movimento Esquerda Socialista, Filiação ao PT: 1985

Mandatos: deputada estadual (1995-2003) e federal (desde janeiro de 2003) João Batista Araújo (Babá), Deputado federal (PA), Idade: 50, Tendência: Movimento Esquerda Socialista, Filiação ao PT: 1981

Mandatos: vereador (1989-1990), deputado estadual (1991-1999) e federal (desde 1999)

Começa a nascer um novo partido (ZH, 15/12/03)

A gaúcha Luciana Genro chorou uma vez durante a reunião do diretório nacional do PT que decidiu pela sua expulsão e de outros três colegas petistas: quando a senadora Heloísa Helena (AL) fez um discurso emocionado, defendendo suas posições.

Ao final da reunião, já expulsa da legenda em que até então teceu sua carreira política, Luciana estava pronta para ocupar os microfones e foi uma das primeiras a falar em nome da chamada ala radical:

- Esse é um caminho de negação do passado do PT. O diretório nacional está envergonhado do passado. Queremos debater desde já a necessidade de um novo partido, de uma nova alternativa.

Sua assessoria já tinha pronta uma pasta com 7 mil assinaturas de apoio à criação da nova legenda. Destas, 2 mil são do Rio Grande do Sul. Os nomes vão de Enrique Morales, integrante da executiva estadual, até Neida Oliveira, vice-presidente do Cpers-Sindicato. Esse partido não tem data ou prazo para ser fundado. Nesse meio tempo, os radicais continuam cumprindo os seus mandatos, mas sem legenda.

- Temos plenas condições de seguir levando à frente as bandeiras da classe trabalhadora que o PT abandonou ao nos expulsar - disse Luciana.

A organização de outro partido estava na cabeça do grupo durante a reunião do diretório. Luciana, Babá (PA) e João Fontes (SE) tiveram tempo para a defesa antes da votação, mas eles nem mesmo tentaram convencer o plenário de que deveriam ser poupados.

- Não sou criminosa para fazer defesa, vou fazer uma exposição. E estou tranqüila, porque estou ao lado daquilo que sempre defendi no PT - disse.

- Temos convicção de que aqueles sinceros lutadores socialistas vão se dar conta, mais cedo ou mais tarde, de que não há mais espaço no PT para a disputa política - anunciava.

Não vai pegar bem (ZH, 14/12/03) Luís Fernando Veríssimo

Havia uma lógica perfeitamente racional por trás do Muro de Berlim. Seus idealizadores tinham motivos defensáveis para construir uma barreira que impedisse a população inteira de Berlim Oriental - na qual, afinal, o governo comunista investira tanto em educação e saúde - de passar para Berlim Ocidental, onde se instalara uma vitrine fulgurante e irresistível das delícias do capitalismo. Pode-se imaginar o desprezo com que seria recebida, entre os burocratas do Leste, a observação de que os benefícios pragmáticos e a longo prazo do muro não compensariam o desgaste simbólico que ele traria, que a má impressão derrotaria qualquer justificativa - enfim, que o muro não pegaria bem.

Na discussão entre as várias correntes, se é que houve alguma, a frase "o fim justifica os meios" deve ter sido muito repetida para defender o muro, e ninguém se lembrou de mandar buscar a proverbial criança de três anos do Groucho Marx para enxergar o que os adultos não enxergavam. O muro foi, pior do que um crime, um erro. Um desastre de relações públicas. E o que parecia ser o seu efeito mais abstrato, e portanto desprezível, foi o que valeu, no fim. Não por acaso, a queda do Muro de Berlim simbolizou o desmoronamento da opção comunista. O que foi erguido como uma imposição do real caiu como símbolo, e o símbolo levou o real junto.

Não sei, enquanto escrevo, que destino o PT dará a seus rebeldes. As razões para expulsá-los são perfeitamente racionais. Disciplina partidária, união por propósitos finais mesmo ao custo de alguma resignação passageira e outros benefícios pragmáticos a longo prazo. Mas que vai pegar mal, vai. No plano simbólico -- aquele que não tem nada a ver com duras decisões políticas mas costuma prevalecer sobre a realidade e até derrubar impérios, ou pelo menos a empáfia de quem o desdenha - o que vai ficar é que um dia o PT baniu os seus mais combativos e coerentes. Não os quis nem como excêntricos nem como amáveis lembranças do que foi um dia, nem sequer como práticos antídotos caseiros para o perigo de se pessedebizar demais e esquecer o que foi fazer em Brasília.

Não sei o que aconteceu na reunião do PT mas espero que a criança de três anos tenha chegado a tempo.

Entrevista/Carlos Nelson Coutinho: No PT, Genoino é bedel do governo (JB, 14/12/03)

Durante seis horas do dia, Carlos Nelson Coutinho se debruça sobre livros. Professor de Teoria Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro, responsável pela editora do centro de ensino, nada mais natural. O folheio diário de três jornais nacionais complementa o passeio do mestre por letras impressas e abre a visão para o mundo - sem perder a concentração naquilo que interessa o Brasil, e, especialmente, nos últimos tempos, o PT.

Componente de um triunvirato com o filósofo Leandro Konder e o ex-deputado Milton Temer, amigos de exílio e companheiros de idéias, divide com eles a preocupação pelos rumos do PT e o destino do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Desencanta-se a cada desafinada com teses socialistas ou causas abandonadas, hoje personificadas no ato de expulsão de três deputados ederais do partido e da senadora Heloísa Helena (AL).

Com o Diretório Nacional do PT reunido em Brasília, Coutinho, no Rio de Janeiro, mira o Planalto Central e denuncia: o país vive o terceiro tempo de Fernando Henrique e as reformas patrocinadas por Lula não passam de contra-reformas. Longe da praia e do sol, concentrado na conclusão da edição de obras de Gramsci, detona as incoerências do PT

Luciana: morreu luta do PT pelo trabalhador (Correio do Povo, 16/12/03)

A deputada federal Luciana Genro passou o primeiro dia depois de ser expulsa do PT em reunião com integrantes da sua ex-corrente, Movimento Esquerda Socialista, em Porto Alegre. Luciana foi recebida no aeroporto Salgado Filho no final da manhã de ontem por representantes de movimentos sociais, sindicatos e funcionalismo público.

Presenteada com flores e carregada nos ombros, Luciana se emocionou. "O PT está morto como partido de luta e de defesa da classe trabalhadora", discursou. Enquanto faixas saudavam a "dignidade e coerência" da deputada, militantes cantavam refrões como "Genoíno, que horror, de guerrilheiro a ditador", referindo-se ao presidente do PT.

Luciana afirmou que ainda é cedo para definições sobre o novo partido. Desde outubro, quando já davam a expulsão como certa, Luciana e os outros dois deputados afastados domingo pelo diretório nacional do PT, João Babá e João Fontes, falam sobre o partido que deverá reunir dissidentes do PT, integrantes do PSTU e outros setores da esquerda. O PSTU convidou ontem os deputados radicais e a senadora Heloísa Helena a se filiarem. Luciana voltou a garantir que não há possibilidade de ela ingressar em outro partido.

A vice-presidente do Cpers/Sindicato, Neida Oliveira, anunciou ontem seu desligamento do PT e informou que o mesmo será feito por aproximadamente 250 professores e 450 funcionários da área da educação no Estado. Quinta-feira, na sede do partido em Porto Alegre, haverá desfiliação coletiva de militantes de diversas categorias profissionais.

Gabinete Deputada Federal Luciana Genro (RS)

Subscrever Pravda Telegram channel, Facebook, Twitter

Author`s name Pravda.Ru Jornal
X