Grécia

A Europa, que a União Europeia supostamente representa, está combatendo guerra dupla, que pode devastá-la a ponto de a tornar irreconhecível - contra a Grécia, dentro das suas fronteiras europeias, e contra a Rússia, na Ucrânia.

 

Uma exposição em Roma não poderia ser mais clara expressão - perfeito acaso de viagem - do zeitgeist: "A Era da Angústia - de Cômodo a Diocleciano" [orig. "The Age of Anxiety - from Commodus to Diocletian". Ora, os imperadores romanos mal imaginariam que a coisa poderia ficar muito pior em tempos de União Europeia (UE).

 

O encontro impressionantemente tenso entre o presidente do EUROGROUP, Jeroen Dijsselbloem, e o novo ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis demarcou o campo de batalha: a UE não aceitará uma Grécia "unilateral"; e a Grécia não aceitará uma extensão do "resgate" ou os diktats da troika (UE, Banco Central Europeu, FMI).

 

Desse material se fazem as lendas. Depois de ter dito que nada-de-conversa com a "troika" - em termos de terrorismo-econômico-nunca-mais - ao final da conferência de ambos com a imprensa em Atenas, Dijsselbloem murmurou algo no ouvido do ministro grego, que funcionários gregos interpretaram ao estilo Pulp Fiction como "Eu-medieval, você vai ver é no seu traseiro". Vídeo a seguir:

 

ssim sendo, agora é Atenas contra os Masters of the Universe (setor UE). Observadores independentes seriam tentados a ver a coisa como um Perseu pós-moderno tentando derrotar a UE-Medusa - um monstro tão assustador que nenhum vivente suportaria vê-la sem ser convertido em pedra.

 

 

Angela Merkel

A Medusa é agora a Troika. Rainha Medusa Merkel e seus jagunços - feito o Ministro das Finanças, Wolfgang Schauble ("não seremos chantageados"), mais os funcionários-sem-cara de sempre servindo-se de metáforas sub-homéricas tipo "amarrado ao mastro da confrontação" - estão aumentando a pressão, sem redução da dívida. Depois do cara-a-cara Dijsselbloem-Varoufakis, cabe ao pesadelo burocrático que é a Comissão Europeia (CE) apresentar alternativa viável para uma redução da dívida grega.

 

Syriza tem dito que quer permanecer na eurozona, mas esqueçam a conversa de a Grécia pagar dívida com mais austeridade, a tal dívida sufocante. Significa que a bola deve permanecer no campo de Bruxelas - tanto quanto Dijsselbloem insiste em repetir que não. E a Troika virá com pressão quase insuportável, para convencer Atenas de que se trata de "honrar" sua dívida, ou a morte. Em termos práticos, fala-se aí de um processo ultracomplexo de reestruturação de dívida, ou de mais dinheiro da UE para Atenas ou, eventualmente, das duas coisas.

 

O gambito de Perseu não será decapitar a Medusa enquanto ela dorme (porque os Masters of the Universe nunca dormem): será declarar não pagamento de parte significativa da dívida. Se a diplomacia falhar, Bruxelas terá então de impor sanções (são muito bons nisso, vide Irã e Rússia), mas, de fato, será como chutar a Grécia para fora do euro - a "opção nuclear" que os eurocratas temem mais que a Peste Negra. Por hora, o Ministro da Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, definitivamente blefa, ao alertar o Primeiro-Ministro grego Tsipras de que a eurozona poderia sobreviver sem a Grécia ("Já não temos de nos preocupar, como tínhamos naquela época").

 

Se, contudo, Bruxelas admite um calote de facto, ainda que parcial, o resultado será que Espanha, Portugal, Irlanda e levas e mais levas de outros sofredores na UE pôr-se-ão aos gritos de "Também queremos o mesmo acordo".

 

A Medusa está-se enfurecendo, e o horror que sua troika de milhares de serpentes pode lançar pode ser titânico. O próximo encontro crucial acontecerá em Bruxelas, a reunião de chefes de estado da UE, dia 12/2/2015. Perseu Tsipras que trate de polir o escudo e a espada até a perfeição.

 

http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?idprog=71e8991cd0a67bcc371061aa0a95bf82&cod=15049

 

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