A Crise Governamental pôs a nu o poder discricionário dos Mercados Financeiros que agem como se todos nós fossemos tolos e a falta de caráter de alguns governantes para os quais a ambição pessoal e partidária está acima de tudo... Negam num dia o que afirmaram na véspera... Se vivêssemos num país a sério, isto seria suficiente para desencadear uma revolta popular generalizada. Mas quê? A malta quer é praia, futebol, concertos, telenovelas, etc. etc. Além deste Circo, convivemos ainda com a mentira descarada, o engano militante, a manipulação safada, a pequenez de quem não gosta de pensar e se acomoda a explicações simples e lineares de políticos espertos que passam a vida a escamotear a realidade social e a semear a confusão e a divisão entre o povo.
Bastaria perceber que se a coisa estivesse tão má como pintam alguns políticos e certa "mídia", quase uma economia de guerra, não poderia ter lugar o espetáculo risível que vimos a assistir desde a semana passada, com a demissão do Ministro das Finanças, Victor Gaspar, e do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. Não negamos evidentemente que existe uma Crise Económica, até porque também a sofremos... Todavia esta como a Crise Governamental são atos da mesma peça que visa submeter a vontade popular à aceitação voluntária do custo da Crise, através da Austeridade... O seu carácter instrumental está até na sua justificação e na forma como se aplica, nomeadamente o seu carácter de urgência e a sua extensão, limitada exclusivamente aos mais fracos, enquanto os mais responsáveis, os especuladores financeiros de todos os matizes, privados e institucionais, continuam a ganhar dinheiro à pala do laxismo que o Sistema Capitalista permite e estimula. Veja-se, por exemplo, o que se passa com os Paraísos Fiscais, onde se aloja mais de 1/3 do dinheiro que falta à Economia Real, desviado pelos bancos e permitido por governos, que só sabem aumentar a carga fiscal sobre os rendimentos do Trabalho e aplicar políticas de Austeridade que estão a destruir a Economia Real.
Segundo Guilherme da Fonseca-Statter, Sociólogo do Trabalho e Investigador do Centro de Estudos Africanos, no seu livro "O Escândalo da Dívida e o Sistema Mundial Offshore (Vender a alma ao diabo), que recomendamos, o valor total estimado de dinheiro desviado dos impostos e da Economia Nacional corresponde aproximadamente ao valor do Resgate Financeiro da Troica, cerca de 75 mil milhões de Euros! Significa que há uma correlação direta entre a necessidade de financiamento do país e o capital "parqueado" nos Paraísos Fiscais. Esse dinheiro que foi "roubado" à Economia Real, regressa sob a forma de crédito a juros flutuantes. Incrível! Haja pois Dívida Soberana...
Explica ainda, este Sociólogo, que o sistema offshore não é apenas refúgio para o dinheiro de procedência "criminal" (droga, tráfico de armas, prostituição, etc) que o lava através de bancos especializados, alguns de fachada "impoluta" em Wall Street ou na City Londrina, mas também um sistema legal que explora as vantagens fiscais competitivas entre Estados. Mais grave é que isso é prática corrente de países da Zona Euro, como é o caso da Holanda, onde o imposto sobre capitais é mais barato que em Portugal. Daí que de vez enquando tenhamos notícias de que grandes empresas portuguesas deslocalizaram as suas sedes fiscais para esses "Paraísos Fiscais". Este expediente "chico esperto", que se subtrai aos impostos, que devia pagar na sede da sua atividade empresarial, mostra como o Projeto Europeu é um mito... É uma mentira...
Os bancos de investimento, como o Goldman Sachs, o J.P.Morgan (responsáveis pela Crise do Imobiliário nos USA, e também por inúmeras operações Offshore), para garantirem altos rendimentos aos seus clientes (agiotas que não gostam de pagar impostos e nem de se chatear com o Mundo do Trabalho), aplicam essa dinheirama toda na compra de ativos públicos (privatizações) e na compra de títulos de Dívida Pública (crédito). Entretanto as suas Agências de Notação Financeira, os seus agentes com assento nos governos (em Portugal estão pelo menos 3 desses figurões), no Banco Mundial, no FMI, na OCDE, na OMC, no FED, no BCE, em Bruxelas, nos G8, 9, etc, fazem o trabalho de sapa para facilitar as oportunidades de negócio e garantir que a procura de crédito dos Estados se mantenha crescentemente. Daí estar proibido aos países de emitirem moeda, mesmo àqueles que possuam moeda própria. O pretexto é de que tal provoca inflação... O crédito ao consumo, também e ninguém se rala... Com emissão de moeda, os Estados não precisavam de recorrer ao crédito para se financiar, nomeadamente para investir em infra-estruturas, que pelo seu volume de financiamento, os privados não têm interesse. As PPPs vieram colmatar essa falta de interesse... Mais um expediente que serve para proporcionar bons negócios aos mesmos...
E quando um Governo não é da sua feição ou desconfiam que o voto popular pode escolher candidatos inconvenientes aos seus interesses, fazem pressão política, desde logo através das cotações na bolsa, como aconteceu agora. Pelo que mais uma vez ficou provado que os Mercados Financeiros não têm nada de racional. Vivem de expectativas criadas por quem os controla... Depois contam ainda com a colaboração de "Idiotas Úteis", alguns diplomados, que culpam o povo da Crise, que a culpa é do Estado Social, e passam o tempo a agitar o espantalho da "Bancarrota"... Se o povo tem alguma culpa, será de se deixar enganar sistematicamente pelos pilantras que estão ao serviço da Ditadura dos Mercados.
Artur Rosa Teixeira
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