Ele era tão fã do Roberto Carlos que, depois de anos, quando me encontrei com o irmão dele no centro de Belo Horizonte, perguntei: - E o Roca?
Bom, o nome dele é mesmo Sebastião Genero, mas instituiu o apelido ligando as iniciais do nome composto do Brasa. Depois de uma risadinha mofina, o irmão me respondeu, de cabeça baixa: - Está cada vez mais parecido com o Roberto Carlos, agora ele já está até mancando...
Aquele é que é amor verdadeiro. Viajei no tempo e me peguei na sala da casa do Roca, ele exibindo com orgulho o espelho que toma todo o corredor, indo do chão ao teto. Ao lado, um pôster em tamanho natural do Rei. Depois de apontar o velho espelho e o pôster, me explicou: - Petrônio, está vendo ali o espelho e o pôster, é que eu fico me arrumando na frente do espelho e olhando a foto. Aí, quando o meu cabelo fica igual ao do Rei, eu estou pronto para abafar. Então saio para a rua, em busca do estrelato.
No fundo do corredor, escondida pela meia luz da casa, a esposa falou com a voz estridente: - Ele fica mais de duas horas nesse espelho todos os dias... ele passa mais tempo diante do espelho que de mim! Roca, protestou: - Que isso mulher, é só de manhã e a noite que eu faço isso. Agora vamos lá em baixo que eu quero te mostrar o estúdio.
Todo bem aparelhado, o estúdio do Roca é mesmo de encher os olhos. Na frente do microfone central, fica a projeção de vídeo dos vários shows do Rei. A cada música que ele ensaia, vai seguindo o vídeo e fazendo a coreografia perfeita, entre voz e gestos. Se não é o melhor cover do Rei, com toda certeza, é o mais apaixonado. Enquanto ele ensaiava O portão, perguntei para ele pelos filhos, Leidy Laura e Carlos Ilha. Me respondeu: - A Leidy está com a mãe, morando em Caratinga. Mas no final de ano vai viajar comigo para Marataizes, pegar um solzinho depois de uma cachoerinha bem capixaba. O Carlos Ilha, estou até pagando para ele uma auto-escola de caminhão. Ele tem esse sonho né, de pegar estrada! 120, 150, 200 quilômetros por hora, eu sei como isso meche com a juventude!
Quando estava me despedindo do irmão de Roca, ele me confidenciou: - O Roca está se separando da Mirian, aquela flor de mulher. Se você puder, fale com ele, não o deixe cometer mais um erro desse!
Em casa, já tarde da noite, liguei para um Roca eufórico. Quando tratei do assunto da mulher, foi breve: - Que isso meu querido, meu velho, meu amigo, eu estou de olho é na namoradinha de um amigo meu. Uma gatinha de 40, e ela nem usa óculos. Você sabe né, eu sou artista, e artista não pode ficar muito tempo casado com a mesma mulher não, uai!
Desliguei o telefone e fiquei pensando na falta que faz um divã na vida de um pobre coitado!
Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor
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